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Ricardo Reis: "Não vai ser possível descartar austeridade em absoluto"

O economista Ricardo Reis afirma que é inevitável que a dívida pública suba e que essa subida terá de ser gerida. Se as taxas de juro da dívida pública portuguesa se afastarem da média europeia aí haverá austeridade como em 2009, avisa.

Miguel Baltazar/Negócios
15 de Abril de 2020 às 18:13
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O economista Ricardo Reis defendeu que não é possível descartar a austeridade em absoluto, considerando que isso vai depender da evolução das taxas de juro da dívida pública portuguesa nos próximos tempos. 

"Obviamente que não vamos poder descartar a austeridade em absoluto", afirmou Ricardo Reis, professor da London School of Economics (LSE), quando questionado sobre a posição do Governo, que tem reiterado que não será necessária austeridade depois da crise causada pela covid-19.

Ricardo Reis falava na teleconferência 'Liderança à Prova', promovida nesta quarta-feira, 15 de abril, pelo Negócios. Para o economista, a austeridade, a "palavra proibida", vai depender do nível da dívida pública portuguesa e do custo que ela terá no orçamento português.

"Portugal entrou neste ano com uma dívida pública de 118% do PIB. Este ano, a economia vai cair 8% e os apoios públicos com a covid-19 pesam aproximadamente 3% do PIB. Aritemeticamente, sem que nada aconteça, já estamos com uma dívida pública de 130% do PIB", afirmou. Recorde-se que o FMI estima que economia recue 8% e que a dívida pública suba para 134% este ano, segundo previsões divulgadas recentemente.

A dívida pública "vai subir muito e vai ter de ser gerida", disse Ricardo Reis. "Isso é inevitável. Não vai ser culpa do Governo, nem do Ministério das Finanças, mas vai acontecer", assegurou.

No entanto, isso não significa necessariamente que essa dívida não é gerível, porque, ao contrário do que aconteceu na crise das dívidas soberanas, o "choque atual é simétrico". Ou seja, países como a Alemanha, que foram capazes de se endividar mais para responder à pandemia da covid-19, também ver a dívida pública subir também mais do que outros países.

"Nestas circunstâncias, o BCE e as autoridades financeiras europeias vão fazer o que se tem de fazer quando tem de se gerir uma grande dívida pública: que é manter as taxas de juro baixas", afirmou.

Por isso, ao "nível do euro a dívida vai ser gerível", considerou Ricardo Reis. Portugal não vai pagar taxas de juro de 4% ou de 5% como em 2013, como aconteceu na anterior crise, mas algo em torno de 1%. "Em termos de peso no Orçamento do Estado os 130% não me assustam, são geríveis", defendeu o economista. 

Mas com um senão: "desde que façamos parte da Europa". Ou seja, desde que Portugal beneficie das mesmas taxas de juro baixas de que a Alemanha, por exemplo, venha a beneficiar. 

"A partir do momento em que haja mais fragmentação, ou seja, em que haja dívidas no mercado sobre Portugal e Itália, que sejamos colocados no mesmo saco do que a Grécia, que haja falhas políticas ou atitudes irrefletidas na Europa que façam com que nos isolemos, e se as taxas de juro descolarem da média do centro da Europa, aí teremos uma austeridade e um colapso como em 2009", alertou o economista. 

Países menos endividados tiveram mais capacidade de resposta

De acordo com Ricardo Reis, a dimensão dos pacotes de resposta económica à pandemia "foi determinada muito mais pelo tamanho da dívida pública dos países do que pela severidade da doença. Portugal é um desses casos". Por exemplo, em meados de março, os pacotes de apoio da Alemanha e França pesavam cerca de 16% e 14% dos seus PIB, respetivamente. Por oposição, Itália apresentou medidas em torno de 1,4% do PIB e Portugal em torno dos 4%, segundo uma contabilização feita pela Universidade Católica (NECEP).

"Quem teve austeridade, quem não acumulou divida nos últimos 10, 20, 30, 50 anos teve agora uma capacidade muito maior de responder e de acudir aos seus cidadãos e empresas", sublinhou o economista.
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