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Salvini admite falar com Berlim e Paris sobre défice e põe juros em queda acentuada
O líder da Liga mostrou disponibilidade para dialogar com a Alemanha e França para assegurar flexibilidade para um défice orçamental mais elevado. Mercados reagiram positivamente com juros italianos a 10 anos a recuarem para mínimos de mais de duas semanas.
Matteo Salvini quer aproveitar o antecipado reforço da representação da Liga (extrema-direita) no Parlamento Europeu para depois encetar conversações com as autoridades de Berlim e de Paris a fim de garantir flexibilidade para fechar 2019 com um défice superior ao inicialmente acordado com Bruxelas.
A abordagem aparentemente conciliatória do líder da Liga e vice-primeiro-ministro italiano foi bem recebida nos mercados, levando a taxa de juro associada à dívida pública transalpina a 10 anos para mínimos de 7 de maio.
Nesta altura, a "yield" correspondente aos títulos soberanos de Itália com maturidade a 10 anos recua 8,5 pontos base para 2,551%.
O também ministro italiano do Interior reitera, contudo, a intenção de promover mudanças na política comunitária, sobretudo na Zona Euro e em particular nas regras orçamentais.
Em declarações à rádio RTL, Salvini admite que a Europa que pretende "mudar" é a União Europeia da chanceler alemã Angela Merkel e do presidente francês Emmanuel Macron, portanto admite, "se necessário", conversar com ambos.
Estas declarações surgem na antecâmara de umas eleições europeias que devem reforçar o peso de partidos eurocéticos e anti-UE, e Salvini quer tirar partido da nova correlação de forças para garantir mudanças no Tratado Orçamental e no Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Tudo isto devido à perspetiva de novo embate entre Roma e a Comissão Europeia, depois de o braço de ferro a propósito do orçamento para 2019 ter levado Bruxelas a pela primeira vez chumbar a proposta orçamental de um país-membro do euro.
O governo italiano previa um crescimento económico de 1% neste ano, contudo o abrandamento da economia global e a evolução da economia transalpina muito abaixo do esperado ameaçam manter o PIB do país estagnado.
Essa perspetiva torna improvável o cumprimento do défice de 2,04% estipulado para este ano. Para potenciar o crescimento económico, Salvini disse recentemente que o executivo de aliança entre a Liga e o 5 Estrelas de Luigi Di Maio poderá "furar alguns limites, como por exemplo a regra [do défice orçamental] dos 3% ou dos 130%-140% [de dívida]".
Apesar de Di Maio ter prontamente garantido que não será esse o caminho, até pelo risco de nova escalada nos juros da dívida pública, Salvini tem reafirmado a intenção de aprovar medidas que podem desequilibrar ainda mais as contas transalpinas.
Uma delas é a prometida redução dos impostos aplicados às empresas (e também às famílias). Outra é uma ligação férrea de alta velocidade entre Turim e Lyon (França). A primeira reduz a receita e a segunda agrava a despesa.