Notícia
Portugal aceita acolher 10 pessoas do barco que Salvini expulsou de Itália
O ministério tutelado por Santos Silva mostra disponibilidade para "acolher até 10 pessoas das 147 resgatadas pelo navio humanitário Open Arms", embarcação que Matteo Salvini não deixou aportar em Itália.
Na nota enviada pelo ministério chefiado por Augusto Santos Silva, o Executivo salienta que apesar desta disponibilidade "continua a defender uma solução europeia integrada, estável e permanente para responder ao desafio migratório".
Esta quarta-feira, um tribunal administrativo de Roma levantou a proibição à entrada desta embarcação em águas territoriais transalpinas que foi decretada pelo ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, justificando a decisão com a "situação de gravidade e urgência excepcionais" que vivem a quase centena e meia de migrantes resgatados, há duas semanas, no Mar Mediterrâneo, depois de a embarcação em que seguiam a partir da Líbia ter naufragado.Sul divieto di sbarco alla #OpenArms siamo soli contro tutti. Contro Ong, tribunali, Europa e ministri impauriti.
— Matteo Salvini (@matteosalvinimi) August 15, 2019
E col PD al governo, immigrazione di massa e Ius Soli tornerebbero realtà.
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Logo após a decisão daquela instância, o também líder da Liga (extrema-direita soberanista e anti-imigração) anunciou que iria avançar de imediato com uma "nova proibição" para impedir que o Open Arms pudesse atracar no porto da ilha de Lampedusa. Desde que chegou ao poder em junho do ano passado, Salvini iniciou uma política que impede que barcos que transportem migrantes possam aportar em portos italianos.
O Open Arms acabou por se encontrar numa posição complexa, já que entrou em águas territoriais italianas depois da decisão do tribunal romano para depois ser impedida de atracar em Lampedusa pela guarda costeira italiana.
Pela sua posição geográfica, sobretudo a exposição e proximidade à costa líbia, é, a par da Grécia, o país mais afetado pelas vagas migratórias que tentam aceder ao território europeu através do Mediterrâneo.
Migrantes aprofundam crise governativa
Em plena crise na maioria de governo entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas, a ministra da Defesa, Elisabetta Trenta, recusou esta manhã cumprir a ordem decretada por Salvini. A governante, membro do 5 Estrelas, rejeitou assinar o decreto de Salvini "em nome da humanidade" e defendeu, num comunicado citado pela imprensa transalpina, que "o incumprimento da decisão tomada por um juiz administrativo pode constituir uma violação das leis penais".
Alvo de uma moção de desconfiança apresentada pela Liga, o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, já veio afirmar, numa carta aberta publicada no Facebook, que a atitude do líder da Liga representa a "enésima prova da colaboração desleal" de Salvini e mostra uma "obsessão" com o encerramento dos portos. Por sua vez, Salvini reagiu dizendo estar "obcecado com a segurança dos italianos" e lamentou que o primeiro-ministro não lhe diga o que tem a dizer "cara a cara".
A dura troca de argumentos entre Conte e Salvini faz parte da crise política que Itália atravessa depois de o líder da Liga ter proclamado o fim da maioria de governo com o 5 Estrelas e ter defendido a demissão do primeiro-ministro e uma rápida marcação de eleições antecipadas.
Giuseppe Conte revelou ainda que além de Portugal, também França, Alemanha, Espanha, Roménia, e Luxemburgo já disseram estar abertos a acolher migrantes a bordo do navio da ONG espanhola. Coube ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, fazer os contactos com as outras capitais para tentar desbloquear a situação, no que foi uma inversão na posição até aqui assumida pelo líder socialista.
É que nas duas últimas semanas, Sánchez rejeitou acolher novos migrantes resgatados no Mediterrâneo, argumentando com a enorme pressão migratória já verificada na fronteira espanhola com Marrocos.
Já Santos Silva faz questão de frisar que Portugam mantém a solidariedade até aqui demonstrada com "vários resgates dos navios Lifeline, Aquarius I, Diciotti, Aquarius II, Sea Watch III, Alan Kurdi e outras pequenas embarcações, tendo já chegado ao nosso país 132 pessoas, durante 2018 e já este ano".