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Ex-primeiro-ministro de Itália avisa que a crise dos refugiados "fará cair governos"

Enrico Letta considera que "os refugiados serão a grande questão para os próximos 10 anos" e que esta crise ainda "fará cair governos" na Europa. Já António Vitorino adverte que a crise dos refugiados "não está controlada".

Bloomberg
22 de Novembro de 2016 às 14:19
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O ex-primeiro-ministro italiano, Enrico Letta (na foto), e o antigo comissário europeu, António Vitorino, coincidiram na leitura de que há hoje uma grande diferença entre aquilo que é a percepção da realidade e a própria realidade. Isto a propósito da crise dos refugiados, cujos contornos ambos consideram ser muitas vezes erradamente percepcionados pelas opiniões públicas.

 

Participando no último painel de debate da conferência Vision Europe Summit, que decorreu entre estas segunda e terça-feira, 21 e 22 de Novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e que serviu para discutir o problema relacionado com as crises migratória e dos refugiados, o advogado António Vitorino começou por sublinhar que no actual "mundo pós-factos" as "percepções e as realidades não coincidem".

 

O também politólogo italiano clarificou que "em Itália existe uma diferença entre a realidade e a percepção", sendo que existe uma percentagem de 7% de imigrantes no país mas a percepção verificada nos estudos de opinião aponta para 30%.

 

Facto que leva Letta a sustentar ser crucial "reconstruir a comunicação" no âmbito da União Europeia (UE) porque "para comunicar é preciso uma cara e uma voz e esse é o problema de Bruxelas".

 

Vitorino explica a reacção negativa face aos refugiados com o facto de a opinião pública ter percepcionado que "os governos tinham perdido o controlo da situação" quando o afluxo de refugiados atingiu o pico em 2015. Entretanto várias medidas foram adoptadas, designadamente nos países da Europa Central.

 

Contudo a crise dos refugiados "não está controlada", avisa Vitorino que nota que o acordo com a Turquia para a gestão dos requerentes de asilo "está a tremer".

 

Alvo de várias críticas por se considerar que Bruxelas estaria a pagar à Turquia para se livrar do problema, Vitorino concede que este é um "acordo controverso" lembrando que, porém, "tem sido muito útil".

 

Adoptando um tom pouco optimista, Enrico Letta afiança que "os refugiados serão a grande questão para os próximos 10 anos" e assegura que este tema ainda "fará cair governos". E reconhecendo que no contexto europeu "é muito complicado encontrar uma solução" para esta crise, o professor transalpino avisou que "a solução não está ao nível nacional".

 

Letta defendeu ainda que é preciso "reorganizar a governação europeia", ideia a que Vitorino acrescentou a garantia de que "se não houver confiança mútua entre os Estados-membros [da UE] não vamos a lado nenhum". Fica clara a convicção de ambos acerca da importância de ser encontrada uma via multilateral para um problema que consideraram global.

 

A terminar, Enrico Letta ironizou com a saída britânica da UE considerando que "uma das boas consequências do Brexit é que poderemos discutir o orçamento da União sem o Reino Unido". Mais a sério, Letta especificou que a EU não pode ser "apenas números, rígida e fria".

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