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Ucrânia: Tréguas curtas não evitam aumento do número de mortos
O presidente ucraniano anunciou, ontem à noite, um período de tréguas para que negociações que visavam o fim da violência. Mas as tréguas não vigoraram muito tempo e o derramamento de sangue continua.
Menos tréguas e mais mortos. A presidência da Ucrânia anunciou ontem, dia 19, em comunicado, que o país ia viver um período de tréguas para que as negociações, que visavam o fim do derramamento de sangue, pudessem começar. Mas, poucas horas após este comunicado ter sido divulgado - e citado pelas agências internacionais -, a violência e a morte voltam a pairar sobre a capital da Ucrânia, Kiev.
Nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira, dia 20, as autoridades e os protestantes voltaram a entrar em confronto e a violência regressou à Praça da Independência, na capital. Segundo escreve o britânico “The Guardian”, no centro de Kiev “surgiram combates, fumo, granadas e tiroteio” à medida que grupos de “jovens manifestantes” derrubaram as barreiras da “polícia anti-motim na Praça da Independência e assumiram o controlo sobre uma grande faixa de território”. O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, entretanto, responsabilizou já os manifestantes por estes confrontos, sublinhando que foram utilizadas armas de fogo contra as autoridades.
Não é possível perceber, em concreto, quantas pessoas perderam a vida nestas últimas horas na sequência dos confrontos. Vários números diferentes estão a ser apontados pelos órgãos de comunicação internacionais. A agência Bloomberg fala em pelo menos sete pessoas mortas durante os confrontos desta manhã e a BBC escreve que pelo menos 17 pessoas morreram. Um fotógrafo da Reuters relatou que contabilizou 21 corpos na Praça da Independência, a poucos metros do local onde se realiza o encontro entre a delegação da União
Europeia e o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich. Os órgãos de comunicação social ucranianos, citados pela Reuters, escrevem que, pelo menos, 30 civis perderam a vida nos confrontos desta manhã.
Já na passada terça-feira, dia 18, pelo menos 25 pessoas perderam a vida nos confrontos entre manifestantes e autoridades em Kiev revelou, na altura, o Ministério da Saúde, em comunicado.
Além das vítimas mortais, outras 241 pessoas foram hospitalizadas, incluindo 79 polícias e cinco jornalistas, acrescentava a mesma nota do ministério.
A Reuters estima que, desde terça-feira “pelo menos 51 [pessoas] morreram, incluindo pelo menos 12 polícias – de longe as horas mais sangrentas dos 22 anos da história da Ucrânia” após União Soviética.
Os jornalistas da BBC, instalados no Hotel Ucrânia (na capital) – estabelecimento onde se encontra a maioria dos meios de comunicação internacionais – refere que várias dezenas de manifestantes estão a utilizar o “lobby” do hotel como centro de triagem para os feridos.
A Ucrânia, desde o ano passado, tem sido o palco visível de um braço-de-ferro geopolítico entre o Ocidente e a Rússia. Moscovo, escreve a Reuters, vê a Ucrânia como parte do “berço histórico da civilização russa e o Ocidente considera que os ucranianos devem ser livres para escolher uma aproximação económica à União Europeia”.
Encontro União Europeia e Ucrânia
O encontro entre o presidente ucraniano e os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Polónia e França está a decorrer, apesar de ter começado com uma hora de atrasado. Este atraso deve-se às alterações logísticas que tiveram de ser realizadas na sequência dos protestos na Praça da Independência. A CNN escreve que, o líder da oposição Vitali Klitschko deverá estar também neste encontro entre o presidente da Ucrânia e os ministros europeus.
Ontem, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, segundo a Lusa, admitiu que a Europa poderia impor sanções contra Kiev. De acordo com um comunicado, citado por esta agência, Ashton convocou uma reunião extraordinária do comité político e de segurança da União Europeia para esta quinta-feira, indicando igualmente que "vão ser estudadas todas as opções possíveis, incluindo medidas restritivas" em resposta à repressão e à violação dos direitos humanos.
"Nós esperamos que os Estados-membros da União Europeia possam chegar a acordo sobre medidas contra os responsáveis pela violência e o uso excessivo da força", disse anteriormente o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.
Por outro lado, o chefe de gabinete do presidente ucraniano já fez saber que, caso sejam impostas sanções à Ucrânia e a situação venha a agravar-se, “há o perigo de o país dividir-se em duas partes”.
Ucranianos deixam Sochi
De acordo com o comité olímpico ucraniano, citado pela BBC, cerca de metade dos 45 atletas ucranianos que participam nos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia, regressaram a casa. Vários órgãos de comunicação internacionais estão a atribuir este regresso à Ucrânia como uma forma de protesto contra a repressão que as autoridades estão a levar a cabo.
A estação britânica escreve ainda que o primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Medvedev, quer a Ucrânia tenha “um governo forte” para que as pessoas não pisem as autoridades. Entretanto, as autoridades russas estão a ponderar não atribuir mais ajudas financeiras à Ucrânia à medida que a crise no país parece estar fora de controlo, escreve o “Financial Times”.