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Sánchez propõe ao Podemos governo "à portuguesa"

O líder do PSOE enviou uma carta aos militantes socialistas em que revela a estratégia para ser investido primeiro-ministro e evitar novas eleições. Pedro Sánchez propõe a Iglesias que apoie um governo "à portuguesa" assente num "acordo de caráter programático".

PSOE, o partido moderado
reuters
01 de Agosto de 2019 às 11:57
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Pedro Sánchez quer mimetizar a geringonça em Espanha e irá propor ao Unidas Podemos que apoie um governo "à portuguesa" cuja governação ficaria vinculada a um "acordo de caráter programático".

Ou seja, o secretário-geral do PSOE e primeiro-ministro em exercício vai propor algo idêntico às posições conjuntas que, em 2015, o PS assinou com as restantes forças da esquerda parlamentar a fim de constituir a chamada geringonça.

Numa carta dirigida aos militantes socialistas a que o El País teve acesso uma semana depois de ter falhado a investidura como primeiro-ministro, Pedro Sánchez apresenta a estratégia destinada a evitar a realização de novas eleições gerais.

Sánchez pretende que a aliança Unidas Podemos de Pablo Iglesias aceite apoiar, no parlamento espanhol, um governo unicolor do PSOE através de um pacto entre forças de esquerda que defina as linhas orientadoras da governação.

Desde as eleições de 28 de abril que o PSOE venceu de forma clara, o Podemos sempre rejeitou apoiar um governo exclusivamente do PSOE como pretendia Sánchez, exigindo participar no elenco governativo enquanto forma de condicionar a governação e garantir a prossecução de políticas de esquerda.

O líder do PSOE acabou por ceder e negociar com Iglesias um governo de coligação, mas as conversações bloquearam algures entre as exigências do Podemos e a inflexibilidade do ainda primeiro-ministro em funções, levando a coligação de esquerda radical a abster-se e a inviabilizar as possibilidades de Sánchez liderar um executivo em plenitude de funções.

Iglesias quer regressar à mesa de negociações no ponto em que estas pararam: uma vice-presidência do governo para o Podemos e três ministérios, incluindo a tutela das "políticas ativas" de emprego.

Sánchez inova com aposta nos movimentos sociais

Ao contrário da habitual ronda de consultas aos líderes dos partidos com assento parlamentar a fim de aferir as potenciais soluções de governo, Pedro Sánchez vai, em vez disso, reunir-se com movimentos da sociedade civil tais como "associações feministas, ecologistas, sociais e grupos do terceiro setor" no intuito de "criar um espaço comum para alcançar um governo progressista".

Só depois o governante pretende apresentar a Iglesias uma proposta de programa resultante das conversações com o setor social.

Podemos recorre a António Costa para rejeitar ideia

Esta ideia não recolhe simpatia junto do Podemos. Ainda na noite de ontem, o "podemista" que liderou as conversações do partido com os socialistas, Pablo Echenique, recorreu ao Twitter para defender que as intenções transmitidas na missiva de Sánchez para criar uma geringonça espanhola significariam que o PSOE poderia liderar um governo com "100% de poder e sem precisar de negociar".

Echenique recorreu mesmo ao exemplo do primeiro-ministro português, António Costa, e à forma como "acordou com a direita uma reforma laboral" que precariza os trabalhadores, para concluir que "a ‘via portuguesa’ tem truque".

Sánchez aposta na procura de compromissos programáticos escritos que permitam ao Podemos apoiar a sua investidura como primeiro-ministro, o que garantiria ao partido de Iglesias o compromisso socialista com intenções e políticas previamente estipuladas.

No entanto, não foi propriamente a incapacidade de acordar uma linha programática que levou ao fracasso nas duas votações à investidura de Sánchez, já que PSOE e Podemos durante a negociação de um executivo de coligação iam já com cerca de uma centena de páginas que serviriam de base ao programa de governo.

O problema central consistiu na distribuição de ministérios que caberiam a cada força e as conversações chegaram a um ponto de rutura devido à intransigência do Podemos em garantir a pasta do Trabalho. Num último esforço já na manhã da segunda tentativa de investidura, Sánchez ainda abdicou deste ministério desde que o Podemos garantisse a gestão das "políticas ativas" de emprego, mas o PSOE não mostrou abertura. 

Espanhóis rejeitam eleições antecipadas
Uma semana depois de o parlamento ter chumbado a tentativa de Sánchez ser investido primeiro-ministro, uma sondagem publicada pelo El País mostra que 71,6% dos inquiridos estão preocupados com o atual bloqueio institucional e que a grande maioria dos espanhóis, incluindo eleitores do PSOE e do Podemos, é contra um cenário de novas eleições. 

Na carta que dirigiu aos militantes do partido, Sánchez afiança não privilegiar nova ida às urnas, garantia dada numa fase em que as sondagens reforçam a votação do PSOE face ao resultado de abril, havendo mesmo estudos que apontam para a possibilidade de maioria absoluta. 

Até ao próximo dia 23 de setembro é ainda possível realizar uma nova sessão de investidura e respetivas duas votações. Mas se até lá não houver um novo primeiro-ministro investido, o rei dissolve as cortes e convoca eleições antecipadas, que seriam as quartas em menos de quatro anos. A acontecer, o ato eleitoral teria lugar em novembro e dificilmente Espanha teria um novo governo antes de 2020.

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