Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

PCP e Bloco de Esquerda votaram contra Lagarde no BCE

Os eurodeputados portugueses mostraram-se hoje divididos quando à aprovação da nomeação de Christine Lagarde para presidente do Banco Central Europeu (BCE), com PS, PSD, CDS e PAN a votarem a favor e PCP e BE a manifestarem-se contra.

Reuters
17 de Setembro de 2019 às 13:50
  • ...

A votação decorreu na sessão plenária da assembleia europeia, na cidade francesa de Estrasburgo, e foi feita por escrutínio secreto, num total de 394 votos a favor, 206 contra e 49 abstenções.

 

Em declarações à agência Lusa no final da votação, o eurodeputado comunista João Ferreira explicou que o PCP votou contra porque "se está a falar de alguém que, na próxima crise do euro -- e haverá uma próxima -- vai encarar como fatores de ajustamento os salários e os empregos e, por isso, haverá uma redução de salários e um aumento brutal do desemprego".

 

O comunista recordou, assim, que Christine Lagarde já estava à frente do Fundo Monetário Internacional (FMI) quando a 'troika', também composta pelo BCE e pela Comissão Europeia, liderou o programa de ajustamento económico e financeiro feito a Portugal, "inspirado na dita austeridade expansionista que ela defendia e cujos programas se revelaram devastadores do ponto de vista económico e social".

 

"Quando Lagarde, confrontada com o desastre que causou, se veio desculpar com multiplicadores que não tinham sido corretamente determinados, não mudou propriamente convicções", considerou João Ferreira.

 

Posição semelhante manifestou o eurodeputado bloquista José Gusmão, que indicou à Lusa que o BE votou contra porque Christine Lagarde esteve por detrás de "um programa de ajustamento completamente desastroso e cujas escolhas políticas ela fez questão de voltar a defender".

 

"A partir do momento em que o percurso de Christine Lagarde está associado a programas de austeridade um pouco por todo o mundo, com consequências trágicas do ponto de vista social e das contas públicas [...], nunca poderíamos apoiar a sua eleição para presidente do BCE", justificou José Gusmão, vincando que este passado é mais significativo do que "meia dúzia de declarações públicas mais simpáticas nos últimos tempos com o objetivo de se tornar mais consensual".

 

Já PS, PSD, CDS e PAN deram aval à nomeação.

 

O eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira observou que Lagarde, além de ter "as qualificações e a experiência política para exercer funções no BCE", manifestou "vontade de dar continuidade à política monetária de Mario Draghi".

 

"E nós precisamos de ter à frente do BCE alguém que esteja disposto a vencer as resistências" e de "uma aliada para concluir a reforma da união económica e monetária e da união bancária e a senhora Lagarde deu essas garantias", acrescentou Pedro Silva Pereira.

 

Para o PSD, a escolha de Lagarde para presidente "segue os compromissos que tinham sido assumidos", afirmou à Lusa a eurodeputada Lídia Pereira.

 

"É uma grande oportunidade para continuar não só o que tem sido feito pelo BCE, mas também [...] acreditamos que Christine Lagarde estará em posição de continuar a exigir a todos os Estados-membros as reformas necessárias para fazer face a períodos de crise que possam, eventualmente, surgir e também para completar a união bancária e continuar o caminho positivo que tem sido feito na zona euro", precisou a eurodeputada social-democrata.

 

O eurodeputado do CDS-PP, Nuno Melo, observou, por seu turno, que Lagarde "é uma pessoa com currículo e com um trajeto de vida que mostra competência e que, nesta escolha, traduz um entendimento institucional importante num momento sensível da União Europeia [UE]".

 

"Esta nomeação contribui para essa estabilidade e regularidade institucional num momento muito difícil na UE, em cima do 'Brexit' e de outros dossiês que carecem de muita atenção", referiu Nuno Melo.

 

Já pelo PAN, o eurodeputado Francisco Guerreiro justificou o voto favorável com o facto de ter sido "positivo ela [Christine Lagarde] reconhecer os erros que teve no passado", sendo que "esse reconhecimento é importante para não cometer esses mesmos erros no futuro".

 

Acresce que "é uma pessoa experiente e com visão europeísta, [que] quer reforçar a união bancária e monetária e preparar a UE para possíveis choques financeiros no futuro", adiantou Francisco Guerreiro.

 

A aprovação de hoje é o aval final, sendo que o nome de Christine Lagarde já tinha tido 'luz verde' da comissão parlamentar dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu.

 

Christine Lagarde será a primeira mulher a assumir a presidência do BCE, depois de ter sido também a primeira mulher na liderança do FMI, e sucede no cargo a Mario Draghi.

 

Deverá tomar posse a 01 de novembro para um mandato de oito anos, não renováveis.

 

Ver comentários
Saber mais PCP BCE Bloco de Esquerda Christine Lagarde Pedro Silva Pereira João Ferreira José Gusmão
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio