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Meio milhão e o rei de Espanha mostram que não têm medo
Os espanhóis corresponderam às expectativas formando uma enorme massa humana contra os ataques terroristas. "Não tenho medo" foi a palavra de ordem mais ouvida numa manifestação que ficou marcada por tensões com independentistas catalães.
Os números foram avançados, em comunicado, pela polícia de Barcelona, através das redes sociais, que garantiu que "meio milhão de pessoas saiu à rua esta tarde na manifestação ‘No tinc por’ [Não tenho medo] de Barcelona".
Além da presença de vários milhares de pessoas, a manifestação de hoje contou igualmente com a presença do Rei Felipe VI, tendo sido a primeira vez em que um chefe de Estado espanhol participou numa manifestação.
Com este acto histórico, o Rei quis dar o máximo destaque para a rejeição de Espanha aos atentados jihadistas do passado dia 17 de agosto em Barcelona e Cambrils, que mataram 15 pessoas e feriram mais de 120.
A manifestação terminou na Praça da Catalunha, com uma acção que durou cerca de 10 minutos e durante a qual se ouviu música de Pau Casals e foram lidos textos de Frederico García Lorca e de Josep Maria de Sagarra. O momento terminou com os manifestantes a cantarem a frase "No tinc por".
O acto foi conduzido pela atriz Rosa Maria Sardà e pela porta—voz da Fundação Ibn Battuta, Míriam Hatibi, que leram um manifesto onde reiteravam "Não temos medo". "Os que hoje estamos aqui viemos para gritar bem alto e a uma só voz: Não tenho medo", constava no manifesto lido em catalão e castelhano.
Dessa forma, o manifesto deixou claro que Barcelona "não tem medo de expressar [a sua] dor pelas vítimas, pêsames e solidariedade com as famílias, amigos e todas as pessoas afetadas por este ato tão cobarde".
"Não temos medo de condenar estes crimes que só pretendem provocar o terror através da morte e da devastação para tentar romper o nosso modelo de convivência", constava no manifesto.
De seguida, disseram que a cidade não sente medo porque está protegida pelas forças de segurança, sentindo-se orgulhosa da rápida resposta das equipas de emergência, bombeiros, pessoal médico e hospitais, serviços sociais, funcionários públicos, uma referência que foi acolhida por um forte aplauso.
"Não conseguirão dividir-nos porque não estamos sozinhos. Somos muitos milhões de pessoas que condenam a violência e defendem a convivência em Manchester e em Nairobi, em Paris ou Bagdade, em Bruxelas e Nova Iorque, em Berlim ou Cabul", leram. O momento, idealizado com a colaboração do diretor do Teatro Lliure, Lluís Pasqual, prosseguiu com uma atuação dos violoncelistas Peter Thiemman e Guillem Gràcia, que interpretaram "O canto dos pássaros", uma canção popular catalã da autoria de Pau Casals, enquanto eram projetadas imagens de como a cidade viveu nos dias anteriores ao ataque.
O cenário foi decorado com flores, precisamente um dos símbolos históricos das Ramblas e que foram uma das protagonistas deste momento final, em que dezenas de voluntários distribuíram entre os manifestantes milhares de flores vermelhas, amarelas e brancas, em representação das cores da cidade de Barcelona.
A manifestação foi organizada pela Câmara Municipal de Barcelona e pelo governo regional da Catalunha, liderados por Ada Colau e Carles Puigdemont, respetivamente, e foi secundada por concentrações noutras cidades, como Madrid, Valência, Alicante, Castelló e Vigo, sob o mesmo lema.
Unidos contra o terrorismo, divididos pela Catalunha
A demonstração de unidade dos espanhóis e catalães contra o terrorismo acabou por ficar manchada pelas tensões em torno das ambições independentista da Catalunha. Muitos manifestantes aproveitaram o momento para repudiar a presença do rei espanhol e do chefe de governo Mariano Rajoy na Catralunha.
A imprensa espanhola destacava ontem a divisão patente entre os manifestantes. O El Pais, que assume uma linha editorial abertamente hostil à independência da Catalunha, titulava "Independentismo boicota manifestação unitária de Barcelona", ao passo que o jornal El Mundo lamentava no seu editorial que os independentistas tivessem convertido a marcha num "acto propagandístico".
(Notícia desenvolvida às e completada às 22h)