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Meio milhão e o rei de Espanha mostram que não têm medo

Os espanhóis corresponderam às expectativas formando uma enorme massa humana contra os ataques terroristas. "Não tenho medo" foi a palavra de ordem mais ouvida numa manifestação que ficou marcada por tensões com independentistas catalães.

Pela primeira vez, o Rei de Espanha participou numa manifestação. Na foto, o rei no dia seguinte ao atentado em Barcelona. Reuters
26 de Agosto de 2017 às 21:17
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Cerca de 500 mil pessoas desfilaram hoje no centro de Barcelona numa grande manifestação contra o terrorismo, depois dos atentados da semana passada, numa iniciativa onde, pela primeira vez, participou um rei espanhol. Os manifestantes cumpriram o objectivo de mostrar unidade contra o terrorismo, mas a tensão em torno da independência da Catalunha acabou por vir ao de cima, com assobios a Felipe VI e Mariano Rajoy. 

Os números foram avançados, em comunicado, pela polícia de Barcelona, através das redes sociais, que garantiu que "meio milhão de pessoas saiu à rua esta tarde na manifestação ‘No tinc por’ [Não tenho medo] de Barcelona".

Além da presença de vários milhares de pessoas, a manifestação de hoje contou igualmente com a presença do Rei Felipe VI, tendo sido a primeira vez em que um chefe de Estado espanhol participou numa manifestação.

Com este acto histórico, o Rei quis dar o máximo destaque para a rejeição de Espanha aos atentados jihadistas do passado dia 17 de agosto em Barcelona e Cambrils, que mataram 15 pessoas e feriram mais de 120.

A manifestação terminou na Praça da Catalunha, com uma acção que durou cerca de 10 minutos e durante a qual se ouviu música de Pau Casals e foram lidos textos de Frederico García Lorca e de Josep Maria de Sagarra. O momento terminou com os manifestantes a cantarem a frase "No tinc por".


O acto foi conduzido pela atriz Rosa Maria Sardà e pela porta—voz da Fundação Ibn Battuta, Míriam Hatibi, que leram um manifesto onde reiteravam "Não temos medo". "Os que hoje estamos aqui viemos para gritar bem alto e a uma só voz: Não tenho medo", constava no manifesto lido em catalão e castelhano.


Dessa forma, o manifesto deixou claro que Barcelona "não tem medo de expressar [a sua] dor pelas vítimas, pêsames e solidariedade com as famílias, amigos e todas as pessoas afetadas por este ato tão cobarde".


"Não temos medo de condenar estes crimes que só pretendem provocar o terror através da morte e da devastação para tentar romper o nosso modelo de convivência", constava no manifesto.

De seguida, disseram que a cidade não sente medo porque está protegida pelas forças de segurança, sentindo-se orgulhosa da rápida resposta das equipas de emergência, bombeiros, pessoal médico e hospitais, serviços sociais, funcionários públicos, uma referência que foi acolhida por um forte aplauso.


"Não conseguirão dividir-nos porque não estamos sozinhos. Somos muitos milhões de pessoas que condenam a violência e defendem a convivência em Manchester e em Nairobi, em Paris ou Bagdade, em Bruxelas e Nova Iorque, em Berlim ou Cabul", leram. O momento, idealizado com a colaboração do diretor do Teatro Lliure, Lluís Pasqual, prosseguiu com uma atuação dos violoncelistas Peter Thiemman e Guillem Gràcia, que interpretaram "O canto dos pássaros", uma canção popular catalã da autoria de Pau Casals, enquanto eram projetadas imagens de como a cidade viveu nos dias anteriores ao ataque.

O cenário foi decorado com flores, precisamente um dos símbolos históricos das Ramblas e que foram uma das protagonistas deste momento final, em que dezenas de voluntários distribuíram entre os manifestantes milhares de flores vermelhas, amarelas e brancas, em representação das cores da cidade de Barcelona.


A manifestação foi organizada pela Câmara Municipal de Barcelona e pelo governo regional da Catalunha, liderados por Ada Colau e Carles Puigdemont, respetivamente, e foi secundada por concentrações noutras cidades, como Madrid, Valência, Alicante, Castelló e Vigo, sob o mesmo lema.

Unidos contra o terrorismo, divididos pela Catalunha

A demonstração de unidade dos espanhóis e catalães contra o terrorismo acabou por ficar manchada pelas tensões em torno das ambições independentista da Catalunha. Muitos manifestantes aproveitaram o momento para repudiar a presença do rei espanhol e do chefe de governo Mariano Rajoy na Catralunha.


A imprensa espanhola destacava ontem a divisão patente entre os manifestantes. O El Pais, que assume uma linha editorial abertamente hostil à independência da Catalunha, titulava "Independentismo boicota manifestação unitária de Barcelona", ao passo que o jornal El Mundo lamentava no seu editorial que os independentistas tivessem convertido a marcha num "acto propagandístico".

(Notícia desenvolvida às e completada às 22h) 

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