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Itália: Lombardia e Veneto reclamam mais autonomia após vitória esmagadora

À boleia dos ventos independentistas soprados da Catalunha, as duas regiões do norte italiano, governadas pela Liga do Norte, realizaram no domingo consultas populares não vinculativas que deram uma retumbante vitória ao "sim" a mais autonomia relativamente a Roma.

Reuters
23 de Outubro de 2017 às 16:51
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Os presidentes da Lombardia e do Veneto proclamaram esta segunda-feira a vitória nas consultas populares não vinculativas que foram realizadas este domingo e garantiram uma clara vitória ao pedido de maior autonomia destas regiões do norte da Itália.

Os dois presidentes da Lombardia e do Veneto, Roberto Maroni (na foto em cima) e Luca Zaia (na foto em baixo), respectivamente, são membros da Liga Norte, o partido fundado em 1991 por Umberto Bossi para promover a secessão do rico norte italiano (Padânia) e que, já sob a alçada do actual líder, Matteo Salvini, se converteu numa força nacionalista e anti-imigração com aspirações de conseguir um bom resultado nas eleições legislativas italianas previstas para o final do primeiro semestre do próximo ano (está em terceiro nas sondagens, apenas atrás do Partido Democrático e do Movimento 5 Estrelas). 

Na Lombardia, cuja capital é Milão e é a região mais rica da Itália, os 95% dos lombardos que votaram apoiaram o "sim" a mais autonomia, com apenas 3% a votarem "não". Os dados relativos à participação eleitoral demoraram a ser conhecidos devido a problemas técnicos verificados com a votação electrónica. Contudo, ao contrário do que afirmou Roberto Maroni, que garantia esta tarde que a afluência às urnas ficou seguramente "acima dos 40%", os números finais mostram uma participação de apenas 38%.  


Já no Veneto (cuja capital é Veneza) a participação ascendeu a perto de 60%, com 98% dos eleitores a votarem "sim" a maior autonomia. Ao contrário dos referendos independentistas realizados na Catalunha (2014 e este ano no passado dia 1 de Outubro) estas consultas populares não desafiaram nem transgrediram a lei transalpina, desde logo porque não perguntavam aos cidadãos daquelas regiões se querem ou não a independência face a Itália e também porque se tratava de consultas não vinculativas. 

Os números praticamente finais não deixam margem para dúvidas, o que já levou os dois dirigentes da Liga Norte a reclamarem maior autonomia e a avisarem que levaram estes resultados para a mesa de negociações com o governo italiano, em Roma. "São 5 milhões de votos que colocaremos na mesa com o governo", disse Maroni. Luca Zaia fez questão de frisar que as consultas deste domingo "não são uma farsa" e mostram a vontade da população do Veneto de "mandar na nossa casa". 

Perante estes resultados, que reavivam a reforçam o ímpeto separatista destas duas regiões, Salvini veio já defender que tal não coloca em causa a aspiração eleitoral em termos nacionais da Liga Norte. "O pedido de [mais] autonomia convenceu 5,5 milhões de pessoas a votar, agora Maroni e Zaia têm mandato reforçado" para reivindicar junto do governo chefiado por Paolo Gentiloni, acrescentou Matteo Salvini, citado pelo La Repubblica.

Nesse sentido, Zaia já veio dizer que pretende negociar uma "estatuto especial" para a região do Veneto. E Maroni revelou que o primeiro-ministro Gentiloni se mostrou disponível para, nos limites da Constituição, negociar a atribuição de mais autonomia àquelas regiões. 

A principal exigência da Lombardia (representa cerca de 20% do PIB italiano) e do Veneto (em torno de 10% do produto transalpino) passa pela possibilidade de recuperarem parte dos impostos gerados nestas regiões e que Roma acaba por ser repartir pelas regiões mais desfavorecidas do sul e ilhas. A Constituição transalpina não prevê a possibilidade de autonomia fiscal das regiões.

Isso mesmo ficou hoje confirmado na conferência de imprensa de Maroni. O presidente da Lombardia destaca como primeiro passo a dar em direcção a "grandes reformas" a necessidade de falar sobre "os impostos que normalmente vão para Roma". "Agora podemos escrever uma nova página. As regiões que pedirem mais poder vão tê-lo", afiançou o presidente do governo lombardo. 

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