Notícia
Birgitta, a mulher pirata que quer liderar a Islândia
A história de Birgitta Jónsdóttir, líder do jovem Partido Pirata que pode vencer as legislativas deste fim-de-semana na Islândia.
A Islândia vai este sábado a eleições, depois de o anterior primeiro-ministro se ter demitido, em Abril, devido ao seu envolvimento no escândalo dos Papéis do Panamá. E, de acordo com as sondagens, é possível que os vencedores sejam, pela primeira vez, piratas. Ou melhor, o Partido Pirata.
Criado apenas em 2012, tem disputado a liderança na preferência dos inquiridos com o mais tradicional Partido Independente, que faz parte da coligação que tem estado no poder. Mas, na verdade, os dois movimentos não podiam ser mais diferentes.
Os Piratas têm um programa de governo mínimo, tendo por base uma premissa geral: é preciso mudar a forma como se tomam decisões e como se fazem as leis. Como tal, mais do que afirmar tudo o que pensa fazer, o partido tem muitas áreas em branco, porque a ideia é consultar posteriormente o povo para que este tome decisões em concreto. E os restantes partidos têm sentido dificuldades em atacar estes argumentos, porque são obrigados a lutar contra um conceito e não contra medidas.
O partido nasce depois de várias experiências, com fusões e interligações, entre projectos políticos populares diferentes. Na sua base estão alguns activistas, hackers, anarquistas, punks e ecologistas, que ganharam peso depois da crise financeira que obrigou a Islândia a pedir ajuda financeira internacional. Mas este é o primeiro movimento organizado a sair desse caldo cultural que tem, efectivamente, hipóteses de vir a ser o partido mais votado em eleições nacionais.
No centro e na origem de tudo está Birgitta Jónsdóttir, a mulher que, enquanto jovem numa visita de estudo ao parlamento, não mostrou interesse em entrar. Ficou no autocarro a escrever um poema sobre um holocausto nuclear.
A história da líder do Partido Pirata é marcada pela tragédia e pela luta. Nascida na segunda metade dos anos 60, na capital Reykjavik, a sua mãe era uma conhecida cantora folk, que se destacou por pegar na linguagem musical norte-americana mas com conteúdos poéticos da Islândia. Era Brigitta ainda bebé quando o seu pai biológico abandonou a família. Mais tarde, quando a jovem tinha 20 anos, o homem que funcionou como seu pai efectivo suicidou-se, segundo alguns relatos ao entrar voluntariamente num rio gelado, durante uma tempestade. Na adolescência foi namorada de Jón Gnarr, que viria a ser presidente da Câmara da capital islandesa, sendo lendárias as suas histórias de ocupações e manifestações, quando ambos planeavam criar o ramo da Greenpeace na Islândia.
Ao crescer, Brigitta partiu de um lar liberal nos costumes e rapidamente se juntou a vários movimentos de contra-cultura. Entretanto, tornou-se escritora e artista plástica. Já nos anos 90, apaixonou-se pela internet e pelas possibilidades que esta abriu, e foi nessa área que se destacou, trabalhando inclusivamente como programadora. Ainda assim, na vida pessoal os acontecimentos trágicos não tinham terminado. Em 1993, o seu marido de então desapareceu subitamente, aos 29 anos. O seu corpo viria a ser encontrado cinco anos mais tarde.
Quando rebenta a crise financeira na Islândia, em 2007/2008, Brigitta Jónsdóttir era já uma das figuras mais conhecidas da contra-cultura local, e serviu como a ponte que uniu várias organizações populares nos protestos. Estava, então, lançada para uma carreira política.Em 2009 foi eleita pela primeira vez para o parlamento, pelo Movimento dos Cidadãos.
No ano seguinte começou a colaborar com a Wikileaks, depois de uma visita de Julian Assange ao país. Chegou mesmo a integrar uma queixa colectiva contra os EUA pelo facto de ser umas das pessoas cujos dados de comunicações haviam sido exigidos pelo governo americano ao Twitter. Com o tempo, e depois de intensa actividade, Brigitta acabou por afastar-se da Wikileaks, dando como motivo a falta de transparência e de comunicação interna na tomada de decisões da organização. A causa da liberdade na internet e a luta contra a"espionagem estatal" é uma das grandes causas da sua vida.
Em 2012 uma série de deputados do Movimento dos Cidadãos decidiu criar um novo partido, chamado Alvorada. A meio do processo, Jónsdóttir saltou fora e decidiu fazer um outro partido, o Partido dos Piratas. Um pouco à semelhança do que fez história no Bloco de Esquerda, os Piratas também recusaram uma liderança única, mas a figura carismática de Brigitta acabou por impor-se publicamente. Apesar de dizer que não faz questão de liderar o país, admite que será importante continuar a fazer parte do movimento e eventualmente integrar um governo, pela sua experiência enquanto deputada e em comités internacionais que foi acumulando nos últimos anos.
Nos anos após a crise, o sentimento dos islandeses contra o sistema e os partidos instituídos foi crescendo, atingindo o pico com os grande protestos de Abril deste ano, que forçaram a demissão do então primeiro-ministro. O Partido Pirata, que já vinha surgindo nas sondagens como favorito à vitória, tinha aqui uma oportunidade, com a marcação de eleições para ainda este ano.
Nas últimas semanas, os meios de comunicação islandeses têm mostrado sondagens lideradas alternadamente pelos Piratas e pelo Partido Independente, sendo certo que, qualquer que seja o vencedor, terá de formar uma coligação para governar.
A própria Jónsdóttir admite que este pode ser o momento para dar o salto. Como explicou à Quartz, falando sobre a popularidade do seu partido: "Estou bastante em choque e não sei quanto tempo vai durar. Acho que é uma expressão da falta de fé nos partidos tradicionais no poder. Estamos a oferecer soluções alternativas às pessoas".
Este sábado, os islandeses decidirão se querem, na verdade, esse caminho alternativo.
Criado apenas em 2012, tem disputado a liderança na preferência dos inquiridos com o mais tradicional Partido Independente, que faz parte da coligação que tem estado no poder. Mas, na verdade, os dois movimentos não podiam ser mais diferentes.
O partido nasce depois de várias experiências, com fusões e interligações, entre projectos políticos populares diferentes. Na sua base estão alguns activistas, hackers, anarquistas, punks e ecologistas, que ganharam peso depois da crise financeira que obrigou a Islândia a pedir ajuda financeira internacional. Mas este é o primeiro movimento organizado a sair desse caldo cultural que tem, efectivamente, hipóteses de vir a ser o partido mais votado em eleições nacionais.
No centro e na origem de tudo está Birgitta Jónsdóttir, a mulher que, enquanto jovem numa visita de estudo ao parlamento, não mostrou interesse em entrar. Ficou no autocarro a escrever um poema sobre um holocausto nuclear.
A história da líder do Partido Pirata é marcada pela tragédia e pela luta. Nascida na segunda metade dos anos 60, na capital Reykjavik, a sua mãe era uma conhecida cantora folk, que se destacou por pegar na linguagem musical norte-americana mas com conteúdos poéticos da Islândia. Era Brigitta ainda bebé quando o seu pai biológico abandonou a família. Mais tarde, quando a jovem tinha 20 anos, o homem que funcionou como seu pai efectivo suicidou-se, segundo alguns relatos ao entrar voluntariamente num rio gelado, durante uma tempestade. Na adolescência foi namorada de Jón Gnarr, que viria a ser presidente da Câmara da capital islandesa, sendo lendárias as suas histórias de ocupações e manifestações, quando ambos planeavam criar o ramo da Greenpeace na Islândia.
Ao crescer, Brigitta partiu de um lar liberal nos costumes e rapidamente se juntou a vários movimentos de contra-cultura. Entretanto, tornou-se escritora e artista plástica. Já nos anos 90, apaixonou-se pela internet e pelas possibilidades que esta abriu, e foi nessa área que se destacou, trabalhando inclusivamente como programadora. Ainda assim, na vida pessoal os acontecimentos trágicos não tinham terminado. Em 1993, o seu marido de então desapareceu subitamente, aos 29 anos. O seu corpo viria a ser encontrado cinco anos mais tarde.
Quando rebenta a crise financeira na Islândia, em 2007/2008, Brigitta Jónsdóttir era já uma das figuras mais conhecidas da contra-cultura local, e serviu como a ponte que uniu várias organizações populares nos protestos. Estava, então, lançada para uma carreira política.Em 2009 foi eleita pela primeira vez para o parlamento, pelo Movimento dos Cidadãos.
No ano seguinte começou a colaborar com a Wikileaks, depois de uma visita de Julian Assange ao país. Chegou mesmo a integrar uma queixa colectiva contra os EUA pelo facto de ser umas das pessoas cujos dados de comunicações haviam sido exigidos pelo governo americano ao Twitter. Com o tempo, e depois de intensa actividade, Brigitta acabou por afastar-se da Wikileaks, dando como motivo a falta de transparência e de comunicação interna na tomada de decisões da organização. A causa da liberdade na internet e a luta contra a"espionagem estatal" é uma das grandes causas da sua vida.
Em 2012 uma série de deputados do Movimento dos Cidadãos decidiu criar um novo partido, chamado Alvorada. A meio do processo, Jónsdóttir saltou fora e decidiu fazer um outro partido, o Partido dos Piratas. Um pouco à semelhança do que fez história no Bloco de Esquerda, os Piratas também recusaram uma liderança única, mas a figura carismática de Brigitta acabou por impor-se publicamente. Apesar de dizer que não faz questão de liderar o país, admite que será importante continuar a fazer parte do movimento e eventualmente integrar um governo, pela sua experiência enquanto deputada e em comités internacionais que foi acumulando nos últimos anos.
Nos anos após a crise, o sentimento dos islandeses contra o sistema e os partidos instituídos foi crescendo, atingindo o pico com os grande protestos de Abril deste ano, que forçaram a demissão do então primeiro-ministro. O Partido Pirata, que já vinha surgindo nas sondagens como favorito à vitória, tinha aqui uma oportunidade, com a marcação de eleições para ainda este ano.
Nas últimas semanas, os meios de comunicação islandeses têm mostrado sondagens lideradas alternadamente pelos Piratas e pelo Partido Independente, sendo certo que, qualquer que seja o vencedor, terá de formar uma coligação para governar.
A própria Jónsdóttir admite que este pode ser o momento para dar o salto. Como explicou à Quartz, falando sobre a popularidade do seu partido: "Estou bastante em choque e não sei quanto tempo vai durar. Acho que é uma expressão da falta de fé nos partidos tradicionais no poder. Estamos a oferecer soluções alternativas às pessoas".
Este sábado, os islandeses decidirão se querem, na verdade, esse caminho alternativo.