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Mercado não está preparado para oferecer "empregos dignos" a jovens licenciados
O mercado de trabalho em Portugal "não está plenamente preparado" para oferecer aos jovens diplomados "empregos dignos", revela um relatório europeu da Cáritas, que é apresentado hoje em Lisboa.
"Em Portugal, há muitas pessoas que terminaram estudos superiores, mas que não conseguem encontrar um emprego correspondente às suas habilitações e que são consideradas demasiado qualificadas para outros tipos de trabalho", refere o relatório "Os jovens precisam de um futuro", da Cáritas Europa.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, advertiu que "os baixos salários que estão a ser oferecidos a jovens com determinadas qualificações podem fazer suscitar a pouca motivação para evoluir nos estudos".
Recentemente, a OCDE disse que é necessário elevar os níveis de escolaridade da população portuguesa, "mas é preciso não esquecer que existe uma mentalidade predominante que o aumento de qualificação implica a procura de um trabalho em condições que seja compatível com o investimento feito na formação".
Contudo, o que está a acontecer é que "os jovens, em nome dos postos de trabalho, estão a ser colocados em estágios profissionais e outras medidas de emprego com uma temporalidade pequena, havendo ainda outros que estão a aceitar trabalho a recibos verdes".
O relatório afirma que, embora o 'Garantia Jovem' e medidas similares estejam a gerar algumas oportunidades, "não estão a ser criados empregos de qualidade" e alerta que "muitos jovens estão retidos em programas de estádio sem qualquer protecção social".
Para Eugénio Fonseca, estas medidas podem "ter o seu valor" desde que garantam "contratos de trabalho efectivos e com durabilidade" e o acesso à saúde e ao subsídio de desemprego.
Os autores do relatório defendem que "a relação entre o sistema educativo e o mercado de trabalho tem de ser fortemente reforçada", porque não está a responder às necessidades do mercado de trabalho.
Em 2015, segundo o INE, os trabalhadores jovens (18-24 anos) recebiam, em média, menos 346,22 euros do que os trabalhadores com idades entre os 35 e os 44 anos.
Estes números podem ser explicados pelas medidas tomadas na sequência das recomendações das instituições europeia e da 'troika', que se fixaram "na preocupação em impedir que a taxa de desemprego continuasse a aumentar", mas o efeito foi "o aumento do trabalho temporário e dos empregos precários", sublinha o documento.
Em 2016, o Governo reviu os montantes definidos nestas medidas, mas "os salários permanecem baixos e não correspondem ao nível de qualificações obtidas".
Os salários baixos e as "condições de trabalho precárias" e a "educação desadequada ou de pouca qualidade" são apontados no documento como os "problemas mais preocupantes" relacionados com a juventude em Portugal.
Com um desemprego juvenil de 20,8% (6,1% superior à média da União Europeia) e 14% dos jovens que abandonaram a escola (4% acima da média da UE), "um número significativo e de jovens portugueses sente que não tem futuro".
O relatório alerta também para os custos elevados das despesas escolares em Portugal, sublinhando que as famílias de baixos rendimentos não conseguem suportar os gastos com os estudos dos seus filhos.
O relatório é apresentado hoje num encontro em Lisboa, que conta com a presença do secretário-geral da Cáritas Europa, Jorge Nuño Mayer, e do presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, que assinala o início da Semana Nacional Cáritas que decorre até domingo em todo o país.