Notícia
Os tapas-bocas inundaram o México
Silvério do Canto conta, na primeira pessoa, como é estar numa cidade habitada por homens e mulheres mascaradas. Confessa que só usou uma para não parecer "sobranceiro" e relata que, além da gripe suína, o governo mexicano tem medo de perder as receitas geradas pelo turismo. Leia a crónica do director do Presstur, um exclusivo para o Negócios.
27 de Abril de 2009 às 21:07
Silvério do Canto*
Cidade do México: uma crise "mascarada"
Como o vírus que lhe dá origem, a crise que o México vive, especialmente na área metropolitana da capital, a mais populosa do mundo, com 22 milhões de pessoas, é como que invisível, só se mostrando pela entrada das máscaras tapa-bocas na paisagem urbana.
“Mas as pessoas estão preocupadas. Eu estou preocupado”, dizia ontem um taxista que, curiosamente, era daqueles que apenas usava o seu tapa-bocas, obrigatório no seu caso, quando vislumbrava algum polícia, como aqueles condutores que só colocam o cinto para evitarem uma multa.
É um facto que as atenções mundiais se voltaram para o México e que presumivelmente a percepção que tem quem está de fora é que algo de muito errado está a acontecer.
Sem querer generalizar a partir de uma noite passada no Terminal 2 do Aeroporto Internacional, algumas conversas de ocasião e duas “corridas de táxi”, de e para o centro histórico seria, a verdade é que tirando os tapa-bocas, as páginas dos jornais e os avisos que iram sendo repetidos pela instalação sonora do Aeroporto, dir-se-ia que a vida segue normal.
Mas não é verdade. Dificilmente poderia ser verdade num momento em que as autoridades mexicanas suspenderam as aulas de todos os graus de ensino, as missas estão suspensas, as discotecas estão fechadas, os jogos de futebol decorrem sem assistência, etc., que estão suspensos todos os eventos que suscitam grandes aglomerações de pessoas.
São medidas muitos fortes, quer se olhem do ponto de vista de como afectam o quotidiano dos residentes quer pela mensagem que transmitem para o Mundo, nomeadamente se tivermos em conta que o México é uma potencial turística mundial.
Quando um Governo de um País onde contam muito as receitas geradas pelo turismo internacional arrisca avançar de forma tão exposta esperar-se-ia que os sinais da crise que o suscita fossem por demais evidentes, se espelhassem no quotidiano dos seus cidadãos, que pessoas, edifícios, estradas mostrassem sequelas.
Não, como o vírus, o que se pode ver são alguns sintomas, e nada de espectaculares.
Muitas das pessoas que circulavam ontem de manhã pelas ruas da Cidade do México usavam os tapa-bocas. Mas também muitas não o usavam. As ruas não estavam desertas, mas via-se muito menos gente, segundo as pessoas com quem pudemos contactar.
Mas há sinais também de muita preocupação, e não apenas pelo que as pessoas dizem. Há sinais mais subtis, mas bem mais significativos.
Ontem, a hora de almoço decorria “normal” num restaurante do centro histórico da Cidade do México. A única diferença estava nos funcionários todos de tapa-bocas. Os cerca de 20 clientes, não, eventualmente por se tratarem de uma refeição.
Até que, em determinado o silêncio faz-se “ouvir”. O ruído de fundo característico das conversas de restaurante cessa de repente e o silêncio “fala alto”. Afinal, o que se passava é que a televisão, até aí a passar um jogo de futebol (sem assistência, pelas medidas anti-crise) começa a passar um discurso do Presidente Felipe Calderón sobre a crise sanitária.
Todas as atenções se voltam para a televisão e vê-se como as pessoas seguem atentamente mais um alerta do Presidente. Afinal, a despreocupação de que davam mostras não usando os tapa-bocas mesmo quando não estavam a comer ou a beber, não passava da força da rotina a impor-se. Porque lá no fundo, como dizia o taxista...”sim estamos preocupados”.
Simplesmente, como também o tornou claro o discurso do Presidente Calderón, a “batalha” que o México está a travar é a da prevenção. Há mortos, há feridos, mas o que há, principalmente, é um vírus novo a que é preciso cortar os caminhos que levem à sua disseminação.
Disso mesmo deu conta ontem Felipe Calderón. A gravidade da situação não decorre de um número astronómico de infectados e muito menos de mortes, de hospitais lotados por doentes, ou outras situações do género.
A gravidade vem de haver um assassino à solta de que não se tem retrato-robot.
Calderón não deixou se sublinhar que há cursa para a doença e hoje alguns jornais destacavam que já tiveram alta mais de 60% dos doentes a quem a gripe suína foi diagnosticada.
O México tem cura para os infectados, mas não pode nem deve desarmar as medidas preventivas, assegurou o presidente mexicano.
Aliás, se alguma tendência há é para reforçar as medidas de prevenção, evitando que o vírus encontre condições propícias à disseminação.
Essas medidas, por exemplo, já chegaram a Acapulco, na costa do Pacífico, zona bem conhecida pela animação nocturna, com o encerramento, por três dias, das discotecas, por decisão da associação de proprietários desses estabelecimentos.
Mas que ameaça está Acapulco a enfrentar?
Para quem chegou ontem ao fim da tarde da Cidade do México dir-se-ia que Acapulco está fora do “teatro de guerra”. Foi muito interessante ver que à chegada a Acapulco os passageiros começavam a deixar os tapa-bocas que tinham usado durante os cerca de 45 minutos de viagem.
E as primeiras impressões eram precisamente, de que em Acapulco “no pasa nada”.
A feira do Tianguis está a decorrer normalmente — só na manhã de hoje foi “perturbada” por um sismo de alguma intensidade, que por preocupação obrigou à evacuação do centro de convenções de Acapulco — e ainda ontem realizou-se um jantar da companhia aérea Mexicana com a imprensa estrangeira, tendo por cenário um espaço com uma vista fantástica para a baía.
Sem tapa-bocas ou quaisquer outros sinais de alguma preocupação que possa passar pelos espíritos destes visitantes...que, aliás, mais não fazem do que os próprios residentes de Acapulco.
*director da Presstur
Cidade do México: uma crise "mascarada"
“Mas as pessoas estão preocupadas. Eu estou preocupado”, dizia ontem um taxista que, curiosamente, era daqueles que apenas usava o seu tapa-bocas, obrigatório no seu caso, quando vislumbrava algum polícia, como aqueles condutores que só colocam o cinto para evitarem uma multa.
É um facto que as atenções mundiais se voltaram para o México e que presumivelmente a percepção que tem quem está de fora é que algo de muito errado está a acontecer.
Sem querer generalizar a partir de uma noite passada no Terminal 2 do Aeroporto Internacional, algumas conversas de ocasião e duas “corridas de táxi”, de e para o centro histórico seria, a verdade é que tirando os tapa-bocas, as páginas dos jornais e os avisos que iram sendo repetidos pela instalação sonora do Aeroporto, dir-se-ia que a vida segue normal.
Mas não é verdade. Dificilmente poderia ser verdade num momento em que as autoridades mexicanas suspenderam as aulas de todos os graus de ensino, as missas estão suspensas, as discotecas estão fechadas, os jogos de futebol decorrem sem assistência, etc., que estão suspensos todos os eventos que suscitam grandes aglomerações de pessoas.
São medidas muitos fortes, quer se olhem do ponto de vista de como afectam o quotidiano dos residentes quer pela mensagem que transmitem para o Mundo, nomeadamente se tivermos em conta que o México é uma potencial turística mundial.
Quando um Governo de um País onde contam muito as receitas geradas pelo turismo internacional arrisca avançar de forma tão exposta esperar-se-ia que os sinais da crise que o suscita fossem por demais evidentes, se espelhassem no quotidiano dos seus cidadãos, que pessoas, edifícios, estradas mostrassem sequelas.
Não, como o vírus, o que se pode ver são alguns sintomas, e nada de espectaculares.
Muitas das pessoas que circulavam ontem de manhã pelas ruas da Cidade do México usavam os tapa-bocas. Mas também muitas não o usavam. As ruas não estavam desertas, mas via-se muito menos gente, segundo as pessoas com quem pudemos contactar.
Mas há sinais também de muita preocupação, e não apenas pelo que as pessoas dizem. Há sinais mais subtis, mas bem mais significativos.
Ontem, a hora de almoço decorria “normal” num restaurante do centro histórico da Cidade do México. A única diferença estava nos funcionários todos de tapa-bocas. Os cerca de 20 clientes, não, eventualmente por se tratarem de uma refeição.
Até que, em determinado o silêncio faz-se “ouvir”. O ruído de fundo característico das conversas de restaurante cessa de repente e o silêncio “fala alto”. Afinal, o que se passava é que a televisão, até aí a passar um jogo de futebol (sem assistência, pelas medidas anti-crise) começa a passar um discurso do Presidente Felipe Calderón sobre a crise sanitária.
Todas as atenções se voltam para a televisão e vê-se como as pessoas seguem atentamente mais um alerta do Presidente. Afinal, a despreocupação de que davam mostras não usando os tapa-bocas mesmo quando não estavam a comer ou a beber, não passava da força da rotina a impor-se. Porque lá no fundo, como dizia o taxista...”sim estamos preocupados”.
Simplesmente, como também o tornou claro o discurso do Presidente Calderón, a “batalha” que o México está a travar é a da prevenção. Há mortos, há feridos, mas o que há, principalmente, é um vírus novo a que é preciso cortar os caminhos que levem à sua disseminação.
Disso mesmo deu conta ontem Felipe Calderón. A gravidade da situação não decorre de um número astronómico de infectados e muito menos de mortes, de hospitais lotados por doentes, ou outras situações do género.
A gravidade vem de haver um assassino à solta de que não se tem retrato-robot.
Calderón não deixou se sublinhar que há cursa para a doença e hoje alguns jornais destacavam que já tiveram alta mais de 60% dos doentes a quem a gripe suína foi diagnosticada.
O México tem cura para os infectados, mas não pode nem deve desarmar as medidas preventivas, assegurou o presidente mexicano.
Aliás, se alguma tendência há é para reforçar as medidas de prevenção, evitando que o vírus encontre condições propícias à disseminação.
Essas medidas, por exemplo, já chegaram a Acapulco, na costa do Pacífico, zona bem conhecida pela animação nocturna, com o encerramento, por três dias, das discotecas, por decisão da associação de proprietários desses estabelecimentos.
Mas que ameaça está Acapulco a enfrentar?
Para quem chegou ontem ao fim da tarde da Cidade do México dir-se-ia que Acapulco está fora do “teatro de guerra”. Foi muito interessante ver que à chegada a Acapulco os passageiros começavam a deixar os tapa-bocas que tinham usado durante os cerca de 45 minutos de viagem.
E as primeiras impressões eram precisamente, de que em Acapulco “no pasa nada”.
A feira do Tianguis está a decorrer normalmente — só na manhã de hoje foi “perturbada” por um sismo de alguma intensidade, que por preocupação obrigou à evacuação do centro de convenções de Acapulco — e ainda ontem realizou-se um jantar da companhia aérea Mexicana com a imprensa estrangeira, tendo por cenário um espaço com uma vista fantástica para a baía.
Sem tapa-bocas ou quaisquer outros sinais de alguma preocupação que possa passar pelos espíritos destes visitantes...que, aliás, mais não fazem do que os próprios residentes de Acapulco.
*director da Presstur