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Suécia perante crise económica profunda apesar de confinamento pouco restrito
A resposta da Suécia à crise da pandemia de covid-19 foi altamente contestada por muitos, já que deixou grande parte da sua economia de portas abertas, ou seja, sem medidas rigorosas de "lockdown". Ainda assim, está a caminho da sua pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial.
As abordagens de combate ao novo coronavírus não foram todas iguais pelo mundo fora, podendo as estratégias nacionais repartir-se em três grandes categorias: erradicação, imunidade de grupo e supressão do coronavírus até ser encontrada uma vacina ou a cura.
A Suécia optou pela segunda categoria, que visa chegar à fase a que os epidemiologistas chamam de imunidade de grupo (ou efeito rebanho/imunidade coletiva) e que é considerada por muitos como bastante controversa.
Nas regiões onde foi dada preferência a este opção, aposta-se em que um número suficiente de pessoas fiquem infetadas e sobrevivam – adquirindo, espera-se, algum grau de imunidade – para que a doença deixe de ser capaz de se propagar como um incêndio, conforme explicam os economistas Simon Jonhson e Peter Boone.
"Se o número básico de reprodução (o R0, que calcula o número médio de pessoas que uma pessoa infetada irá provavelmente contagiar) for de 2,5, então é provável que 60% da população nestes países precise ser infetado para que haja imunidade de grupo. Se o R0 for mais elevado, mais pessoas terão de ser infetadas e sobreviver para que ocorra a imunidade coletiva", sublinham aqueles economistas.
E, nessa perspetiva, a Suécia parece estar a cumprir aquilo a que se propôs, já que é o 24.º país com mais casos [e o 15.º com mais mortes por covid-19]. Apesar de o país contar com um número consideravelmente maior de casos mortais do que os seus vizinhos nórdicos, houve quem teorizasse que talvez sofresse um impacto económico menor. Mas parece que tal não vai acontecer.
O governo sueco tem realçado que a sua estratégia não é a de colocar a economia à frente das vidas humanas, mas sim aplicar uma abordagem mais sustentável no combate a um vírus que poderá não desaparecer depressa.
Para prosseguir esta abordagem, a Suécia não aplicou rigorosas medidas de confinamento, sendo um caso de estudo que tem centrado muitas atenções. Acontece que nem isso a impedirá de registar uma forte contração económica.
Segundo declarações feitas esta terça-feira pela ministra sueca das Finanças, Magdalena Andersson, a maior economia da Escandinávia registará este ano uma contração de 7%. E o departamento sueco responsável da dívida do país revelou logo de seguida uma subida histórica, de 30 vezes, no endividamento para cobertura dos gastos de emergência. Isto num contexto de vastas perdas de emprego. E um estudo autónomo diz que 40% das empresas do setor dos serviços na Suécia receiam atualmente entrar em insolvência.
Andersson disse, citada pela Bloomberg, que a Suécia está agora perante uma "crise económica bastante profunda" e que "está a ocorrer, mais depressa do que esperávamos, uma forte contração da economia".
Durante a pandemia, a Suécia permitiu que continuassem abertas as lojas, restaurantes, ginásios e escolas, ao mesmo tempo que incentivou os cidadãos a serem prudentes e a manterem as diretrizes de distanciamento. Mas a economia do país não conseguiu aguentar o choque global desencadeado pelos rigorosos "lockdowns" na maioria do mundo, salienta a Bloomberg.
"A economia será condicionada pelo ritmo da retoma no resto do continente devido à sua dependência da procura externa", frisou David Oxley, da Capital Economics.
Perto de metade do PIB da Suécia provém das exportações, e algumas das suas empresas mais conhecidas, como a Volvo Cars e a Electrolux, tiveram de cortar milhares de postos de trabalho à medida que a procura encolhia, destaca ainda a agência noticiosa.
Questionada sobre se a Suécia poderá observar uma retoma rápida, a ministra das Finanças disse que esse não parece o cenário mais provável neste momento.
No passado dia 30 de abril, as previsões do banco central da Suécia – o Riksbank – apontavam já para um ano de 2020 tão ou mais duro economicamente do que para o dos restantes países europeus.
O Riksbank avançou dois cenários possíveis. No primeiro cenário, o produto interno bruto (PIB) regista uma contração de 6,9% em 2020 e recupera em 2021, ano em que deverá apresentar um crescimento de 4,6%. O segundo, mais negativo, aponta para uma contração de 9,7% no PIB este ano e uma recuperação de apenas 1,7% em 2021.