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Stiglitz prevê "década perdida para a Europa e Estados Unidos"

O Nobel da Economia Joseph Stiglitz afirmou hoje que as políticas de resposta à crise, em particular a austeridade, estão a falhar e previu "uma década perdida para a Europa e Estados Unidos".

17 de Maio de 2012 às 21:12
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"A austeridade não tem funcionado e não vai funcionar", disse Stiglitz num debate temático de alto nível sobre a situação da economia mundial, na Assembleia-Geral das Nações Unidas.

"Nenhuma grande economia alguma vez recuperou com programas de austeridade de um abrandamento ou recessão económica, e muito menos da magnitude que enfrentam hoje a Europa e Estados Unidos. E estas são ambas grandes economias", adiantou o Nobel da Economia.

Para Stieglitz, as reformas estruturais em curso não vão tirar a Europa da recessão em breve, e quando "mal desenhadas ou aprazadas, podem até exacerbar os problemas", afectando a procura global, que deveriam estar a estimular.

Na génese da crise, afirmou, esteve a "falha dos mercados", que levaram a bolhas especulativas, e "hoje os mercados estão a falhar outra vez".

"É claro que os mercados não estão a usar os nossos recursos bem. E os nossos governos estão a falhar na correcção destes desequilíbrios dos mercados", afirmou.

"Meia década depois do rebentar da bolha, as economias não estão reparadas e não parece que regressarão ao normal em breve", sublinhou Stiglitz.

Lembrando os anos 1980 na América Latina, considerada uma década "perdida" devido a uma acumulação de políticas erradas, o economista defendeu que "esta será a década perdida para a Europa e Estados Unidos, como resultado de más políticas".

No "pico da crise", há 4 anos Stiglitz presidiu a um grupo de peritos convocado pelo presidente da Assembleia-Geral da ONU, para preparar um relatório com propostas para resposta à crise.

O seguimento destas propostas "não foi tão longe" como deveria, afirmou, no combate à desigualdade e em particular na reforma dos mercados financeiros, que não regressaram a um patamar "estável e sólido".

Também continua a faltar "acção colectiva a nível global" e é preciso "ir além do G20", pondo o "G192" no centro.

A melhor forma de o fazer, defendeu, é dar um papel "central" às Nações Unidas na coordenação deste tipo de políticas, através de um "Conselho Global de Coordenação Económica, guiado e informado por grupos de peritos".

Esta proposta também constava do relatório de há 4 anos e foi "bem recebida", e apesar de algumas "esperanças" iniciais não teve seguimento.

"A necessidade destas reformas hoje é mais clara ainda. O custo de atrasos será elevado, especialmente numa economia global frágil", sublinhou.

Na abertura do debate, o ex-presidente da Reserva Federal norte-americana, Paul Volcker, afirmou que instituições como o FMI, Organização Mundial do Comércio, Banco Mundial, G20 e G7 "têm dificuldade em chegar a conclusões firmes" e em assegurar o seu cumprimento pelos Estados.

"Há necessidade de consistência nas abordagens regulatórias, o que é obviamente necessário no mundo da Finança", afirmou o autor da chamada "regra Volcker", que visa limitar a exposição do capital dos bancos a investimentos de risco, fortemente contestada pelo sector financeiro norte-americano.

Pontos "óbvios" desta concertação, afirmou, devem ser os requisitos de capital e os padrões contabilísticos, mas "outras restrições em bancos e mercados relevantes" também exigem uma abordagem internacional.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou para o "défice de empregos e de igualdade" global, que está a alimentar a contestação social e deve ser "levado a sério" pelos decisores políticos.

"Focando-nos nos défices orçamentais, não percamos de vista o défice de empregos e investimento", afirmou.

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