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OCDE: Desigualdade entre ricos e pobres em máximos de 30 anos trava crescimento

Nas últimas três décadas, a distância entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres aumentou na maioria dos países desenvolvidos. A longo prazo, a desigualdade prejudica o crescimento, sustenta a OCDE.

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Na maioria dos países desenvolvidos, a distância entre ricos e pobres nos países desenvolvidos está ao nível mais alto dos últimos trinta anos, e o aumento da desigualdade a longo prazo pode comprometer o crescimento. Estas são duas das principais conclusões do relatório "In it together – Why Less Inequality Benefits All", divulgado esta quinta-feira, 21 de Maio, pela OCDE.

 

"Nos anos oitenta, os 10% mais ricos ganhavam sete vezes mais do que os 10% mais pobres; hoje, ganham dez vezes mais", descreve o relatório, onde Portugal se destaca como o 8º mais desigual (numa comparação medida através do coeficiente de Gini), numa lista de 33 países, apesar da redução registada entre 2007 e 2013.

 

Nestas últimas três décadas, "os mercados de trabalho foram profundamente transformados pela interacção da globalização, da mudança tecnológica e pelas reformas da regulação". Os trabalhadores qualificados em sectores de tecnologias da informação ou financeiro viram os seus rendimentos aumentar significativamente, através de prémios e da generalização de políticas de remuneração variável, uma evolução que os trabalhadores menos qualificados não conseguiram acompanhar.

 

Adicionalmente, neste período, as reformas fiscais reduziram as taxas marginais a pagar pelas famílias de maiores rendimentos.

 

"De uma forma geral, esta tendência de longo prazo resulta de dois movimentos principais: no topo, e especialmente entre os 1% [mais ricos] houve um aumento de rendimento; na base um aumento muito mais lento do rendimento durante períodos de crescimento e por vezes uma quebra durante os maus momentos, especialmente durante e após a Grande Recessão".

 

Os dados revelam que entre meados dos anos oitenta e 2013 a desigualdade cresceu em 17 países analisados – com destaque para a Suécia, o país que partia do menor nível de desigualdade, e para a Nova Zelândia – e que pouco mudou em quatro países, incluindo a Bélgica, a Holanda, França e a Grécia. Só se regista uma redução clara num país: a Turquia.

 

Maior desigualdade afecta crescimento

 

Tradicionalmente, a teoria económica tem argumentado que a desigualdade pode produzir efeitos contraditórios, explicam os autores: maior desigualdade pode incentivar as pessoas pobres  a estudar e trabalhar mais (gerando mais rendimentos) mas também pode comprometer o investimento em educação dos filhos, por exemplo (travando rendimentos).

 

O estudo apresentado pela OCDE confirma a segunda leitura, ao concluir que "o aumento da desigualdade de rendimento disponível observado a longo prazo na maioria dos países da OCDE colocou um travão significativo ao crescimento a longo prazo".

 

O estudo cobre 31 países da OCDE entre o período de 1970 e 2010 mostra que a desigualdade tem um impacto significativo no crescimento. Entre 1985 e 2005, por exemplo, a desigualdade cresceu mais do que 2 pontos no Indíce de Gini em 19 países, "um aumento que se estima que tenha tirado 4.7 pontos do crescimento (cumulativo) entre 1990 e 2010".

 

O problema não estará tanto no peso e no comportamento dos 10% mais pobres, mas antes dos 40% mais pobres, a quem a desigualdade retira oportunidades de investimento na educação e na formação. As pessoas de grupos socio-económicos mais pobres têm piores resultados ao nível das habilitações, competências e emprego. O que o estudo apresentado no âmbito deste relatório acrescenta é que à medida que a desigualdade aumenta os resultados destas pessoas se agravam ainda mais.

 

"O aumento da desigualdade tem um impacto significativo no crescimento económico, em parte porque reduz a capacidade dos segmentos mais pobres – os 40% mais pobres da população, para sermos exactos – em investir em competências e educação", concluem os autores.


 

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