Notícia
A herança financeira do novo Papa
1,2 mil milhões de fiéis, 21 mil clientes e uma carteira de imóveis de 500 milhões fazem parte da herança do próximo Papa, apesar de os últimos resultados conhecidos da Santa Sé serem negativos em 15 milhões de euros.
A herança do sucessor de Bento XVI não se cinge aos 1,2 mil milhões de fiéis, 5 mil bispos, 412 mil sacerdotes e 721 mil religiosas. O próximo Papa herdará também 500 milhões de libras (perto de 595 milhões de euros) em património imobiliário, segundo o “The Guardian” e ainda o Instituto para a Obra Religiosa (IOR). Isto a julgar pelas escassas informações divulgadas.
Os resultados do IOR, o banco do Vaticano, referentes ao último ano ainda não são conhecidos. Porém, em 2011 o banco da Torre Nicolau V tinha perto de 21 mil clientes, 63% dos quais membros do clero, 33 mil contas e geria 8,2 mil milhões de dólares em activos, segundo o “New York Times”.
Ainda em 2011, a Igreja Católica registou um resultado líquido negativo de 14,8 milhões de euros, enquanto a Cidade-Estado do Vaticano obteve um lucro de 21 milhões, de acordo com a agência Ecclesia. Aos meios de comunicação, a Santa Sé terá justificado que este resultado, contrastante com os lucros de 10 milhões de euros registados em 2010, se ficou a dever às despesas com os 2.832 empregados, mais 26 do que no ano anterior.
Antes de resignar, Joseph Ratzinger deixou o IOR entregue ao advogado alemão Ernst von Freyberg, agora presidente do Conselho de Supervisão, sucedendo a Gotti Tedeschi. O antigo responsável foi despedido em Maio de 2012 por alegada oposição às normas de transparência que o Vaticano estaria disposto a adoptar.
A nomeação do novo banqueiro foi uma das últimas batalhas levadas a cabo por Bento XVI. Freyberg, membro de várias organizações católicas foi escolhido por “unanimidade” pela comissão de cinco cardeais com funções de vigilância sobre o IOR, mas foi aprovado pelo então Papa. O “Santo Padre” terá estado sempre a par do processo de selecção e manifestado total concordância com a escolha, de acordo com a Rádio Renascença que cita um comunicado da Igreja Católica.
O executivo terá uma importante função na gestão de parte importante da “herança” do Papa já que o banco do Vaticano administra os bens das instituições católicas e é responsável pela aplicação dos lucros no apostolado religioso.
No final de 2012, o Vaticano tinha já contratado Rene Brouelhart, especialista em transparência financeira, para supervisionar os esforços do IOR nesse sentido.
Um outro acontecimento mais recente pode afectar a herança do novo Papa, que começa a ser escolhido a partir de amanhã no conclave que decorrerá na Capela Sistina. Em Janeiro, o Banco de Itália recusou a implementação de novos dispositivos de pagamento electrónico no Vaticano, após a expiração da autorização anterior. A falta de transparência do IOR terá estado na origem da decisão do banco central italiano, segundo a agência Reuters.
A medida poderá emagrecer a herança do próximo chefe da Igreja Católica que encaixou 91,3 milhões de euros só com visitas ao museu, onde antes se podia pagar com cartão multibanco.
Por outro lado, assiste-se uma redução do número de fiéis na Alemanha, Itália e França, países onde habitualmente a Igreja captava grandes somas financeiras. Já nos Estados Unidos da América (EUA), a principal fonte de receitas da instituição a nível global, 3,3 mil milhões de dólares foram canalizados para pagar indemnizações por abusos sexuais por parte do clero desde os anos 90.