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Escândalo custou lugar ao economista rebelde do Banco Mundial
Paul Romer, economista-chefe do Banco Mundial, renunciou ao seu cargo, vítima da crise que gerou depois de dizer que o célebre relatório de competitividade daquele organismo tem sido enviesado, prejudicando a listagem dos países no ranking, a começar pelo Chile.
Em Julho de 2016, Paul Romer era anunciado como o homem escolhido para suceder ao indiano Kaushik Basu como economista-chefe do Banco Mundial – cargo que assumiu no mês de Outubro seguinte. Agora, volvido menos de ano e meio no cargo, está de saída.
Tido como "o economista rebelde que estoirou com a macroeconomia" – como titulou certa vez a Bloomberg, a propósito de Romer ter considerado a macroeconomia uma "pseudo-ciência obcecada pela matemática" –, no passado dia 12 gerou uma crise que veio a culminar agora com a sua saída.
Disse Romer que o ranking anual do Banco Mundial relativo à competitividade dos países [denominado Doing Business] – medida pela facilidade em fazer negócios nesse território – tem sido comprometido por uma metodologia politizada. E a principal vítima qual foi? O Chile, afirmou a 12 de Janeiro ao The Wall Street Journal.
Paul Romer pediu desculpas pelas classificações "injustas" naquele ranking de competitividade e disse que iria refazer quatro anos de resultados.
Estas tabelas de competitividade visam incentivar os governos a eliminarem obstáculos aos negócios e a fomentar o desenvolvimento económico. O relatório conjuga indicadores como a facilidade de um empresário abrir um negócio, obter crédito, pagar impostos e fazer cumprir contratos, como salienta a Quartz.
Mas Romer encontrou irregularidades na forma como a metodologia foi sendo actualizada, ano após ano, e disse que pretendia corrigi-las e republicar os rankings dos últimos quatro anos. No entanto, não sobreviveu à crise que gerou com as suas declarações, sublinha o El País.
O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, comunicou esta quarta-feira, 24 de Janeiro, a renúncia de Romer e a abertura do processo para encontrar o seu substituto, informaram fontes do organismo ao El País.
"O comunicado de Kim não aponta qualquer motivo para esta saída, mas não é preciso: Romer insinuou que o Banco Mundial tinha feito juízos enviesados sobre o governo da presidente Michelle Bachelet e a bomba tornou a situação insustentável, apesar de rapidamente se ter retratado", destaca o jornal espanhol.
Romer foi de imediato desautorizado pelo Banco Mundial e pediu desculpas quatro dias depois, mas a continuidade no posto adivinhava-se difícil.
"Paul é um economista reputado e um indivíduo perspicaz. Tivemos muitos bons debates sobre assuntos geopolíticos, sobre urbanização e sobre o futuro do trabalho. Agradeci-lhe a franqueza e a honestidade e sei que lamenta as circunstâncias da sua saída", referiu Kim na curta nota à sua equipa e a que o El País teve acesso.
As palavras de Romer puseram em causa o trabalho do Banco Mundial, bem como o mediático relatório Doing Business. Na origem da "crise" estiveram as pontuações anuais que estavam a ser dadas ao Chile e com as quais Romer discordou.
A posição do Chile nesta lista oscilou grandemente desde 2006, do 25.º para o 57.º lugar, e com ciclos bem diferenciados: piorou de forma sustentada durante o primeiro mandato de Bachelet (2006-2010), melhorou com o governo conservador de Sebastián Piñera (2010-2014) e voltou a baixar quando Bachelet regressou ao poder, explica o El País.
O relatório, recorde-se, é publicado desde 2003 e apresenta o ranking global para 190 países.
(notícia actualizada às 21:58)