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Merkel: "Reduzir o endividamento não basta, é preciso crescer" (act.)

Chanceler alemã admite que crise está longe do fim. Insiste que contas públicas em ordem são a base de uma economia saudável, mas que é preciso fazer mais pelo crescimento e emprego. Garante que Berlim apoiará fundos comunitários para esse fim. Quanto a "eurobonds", não diz que não, mas só numa fase bem mais avançada da integração económica.

25 de Janeiro de 2012 às 11:53
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Angela Merkel abre esta tarde o Forum Económico de Davos, mas está já esta manhã nas páginas de alguns dos principais jornais europeus que, numa iniciativa inédita, resolveram fazer, em conjunto, uma “edição europeia” na qual surge uma longa e distendida entrevista à chanceler alemã.

Nela, Merkel admite que a crise que há 18 meses faz tremer o euro ainda está longe do fim, mas diz-se “profundamente convencida” de que as medidas certas para a combater estão finalmente nos trilhos.

“No início, a questão de saber se estávamos a ser simplesmente vítimas dos ‘especuladores’ gerou um grande debate. Hoje, e esse foi o passo decisivo, estamos já a atacar as raízes dos nossos problemas”, diz, elogiando os “esforços incríveis” e as “reformas dolorosas” que muitos países europeus tiveram de encetar para reduzir o endividamento e criar condições para serem mais competitivos.

Em entrevista conjunta ao espanhol “El País”, ao francês “Le Monde”, ao britânico “The Guardian”, ao alemão “Süddeutsche Zeitung”, ao italiano “La Stampa” e ao polaco “Gazeta Wyborcza”, a chanceler congratula-se com o acordo (de que se exclui o Reino Unido) sobre o reforço da disciplina orçamental, referindo-se ao Pacto Orçamental que deverá ser fechado na cimeira europeia da próxima segunda-feira e que consagrará o princípio de que os Orçamentos devem, em regra, igualar despesas e receitas.

“Foi um passo positivo, mas não é suficiente. A Europa precisa de crescimento e de empregos”, frisa a chanceler, num discurso em que abertamente - e na linha das advertências de ontem do FMI - reconhece que a austeridade terá de ser doseada no conjunto da Europa para evitar que o continente resvale para uma espiral recessiva que hipotecará os esforços de saneamento orçamental que estão a ser realizados nos países mais endividados, caso de Portugal.

Nesse contexto, a chanceler mostra abertura para a Alemanha continuar a financiar políticas comunitárias que visem apoiar a actividade económica privada. Mas diz também que há reformas, como a do mercado de trabalho, que não custam dinheiro e que concorrem para o mesmo fim.

“Gostaria que fizéssemos uma utilização selectiva dos fundos para estimular o crescimento e o emprego. Defendo, em particular, o apoio às PME ou aos criadores de empresas, assim como os programas que promovam o emprego dos jovens e os destinados à investigação e inovação. A Alemanha está pronta a investir em fundos estruturais que sejam aplicados em domínios úteis”, diz a chanceler do país que mais contribui para os Orçamentos comunitários.

Contudo, diz, há reformas que “custam quase nada” e que favorecem o crescimento e o emprego. “Por exemplo, é inaceitável que categorias profissionais inteiras sejam acessíveis a apenas um pequeno grupo da população”, diz, referindo-se implicitamente a condicionamentos que proliferam na Grécia e que, ainda há pouco, persistiam em Portugal, designadamente no negócio das farmácias.

Questionada sobre se a Alemanha está a ser suficientemente solidária com os seus parceiros do euro, Merkel responde que sim, mas lembra que a solidariedade tem limites, no sentido em não pode anular a “responsabilidade própria” dos países ajudados em fazer o máximo por si mesmos, e, por outro lado, “dado os milhares de milhões envolvidos em ajudas e fundos de socorro, também nós, a Alemanha, temos de prestar atenção para evitar que, um dia, estejamos no limite das nossas forças”.

Quanto à possibilidade de se criarem obrigações europeias, mutualizando parte do risco associado à emissão de dívida soberana, a chanceler não fecha completamente a porta, mas frisa que tal só pode ser encarado numa fase muito mais avançada da integração económica, em que, por exemplo, o Tribunal Europeu de Justiça possa ter papel efectivo na vigilância do cumprimento, em cada país, das regras de boa gestão orçamental.
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