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Mercado ataca credibilidade do BCE

A decisão do BCE, que ontem baixou a sua taxa directora em 25 pontos base para os 4,75% apanhou de surpresa os analistas, que não hesitaram em atacar a credibilidade da autoridade monetária, pondo em causa o «timing» da decisão.

11 de Maio de 2001 às 16:52
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A decisão do Banco Central Europeu (BCE), que ontem baixou a sua taxa directora em 25 pontos base para os 4,75% apanhou de surpresa os analistas, que não hesitaram em atacar a credibilidade da autoridade monetária, pondo em causa o «timing» da decisão.

O BCE não baixava a sua taxa de referência, ou REFI, desde Abril de 1999 e foi o último dos principais bancos centrais mundiais a descer o preço do dinheiro desde o início deste ano, na tentativa de combater a perda de ritmo da economia.

«O “timing” desta medida não foi o mais adequado. Não favoreceu a credibilidade do BCE e mostrou incapacidade de dialogar com o mercado e mostrar uma atitude coerente, que é o que se espera de uma autoridade monetária», defendeu Paula Carvalho, analista do BPI, em declarações ao Canal de Negócios.

No início desta semana, vários dirigentes do BCE, entre os quais o seu presidente, Wim Duisenberg, afirmaram que a principal preocupação da autoridade monetária nos próximos tempos seria garantir a estabilidade dos preços, indiciando que iria aguardar mais algum tempo antes de iniciar um movimento descendente das taxas de juro.

«Desta vez, ao contrário que tem acontecido em vezes anteriores, o BCE conseguiu manter uma coerência nas declarações dos seus dirigentes, só que depois a acção foi completamente contrária ao discurso», afirmou Leonardo Silva, analista do Banco Finantia.

«Os responsáveis do BCE têm vindo a dar pistas falsas ao mercado e isso não é a melhor forma de actuar», considerou a analista do BPI.

Segundo Miguel Frasquilho, analista do Banco Espírito Santo (BES), a decisão de ontem foi «incompreensível» e deixou os mercados «muito confusos», tendo em conta as últimas declarações dos dirigentes do BCE, bem como o facto de «não se ter alterado nada desde Março», tendo a «inflação e a massa monetária continuado acima dos objectivos» da autoridade monetária.

Em Março, a inflação da Zona Euro cresceu para os 2,6%, acima da meta de 2% traçada pelo BCE, enquanto o agregado da massa monetária, ou M3, aumentou para os 5%, quando o objectivo daquela instituição para este indicador se situa nos 4,5%.

O analista do BES considerou ainda que «não se compreende porque é que esta decisão não foi tomada há dois meses».

Corte nos juros demostra influência alemã no BCE

A descida das taxas «marca o poderio alemão nas decisões do BCE, uma vez que os indicadores negativos que saíram esta semana sobre a economia germânica é que devem ter motivado esta decisão», considerou Leonardo Silva, analista do Banco Finantia.

A produção industrial da Alemanha caiu 3,7% em Março, enquanto os preços no produtor avançaram 0,2% no mesmo mês, dados que assinalam o abrandamento da maior economia da Zona Euro.

«Isto levanta grandes dúvidas quanto à credibilidade do BCE e também não beneficia o comportamento da moeda única nos mercados cambiais», defendeu o mesmo analista.

Inflação deve voltar a subir em Abril

A inflação da Zona Euro deverá voltar a aumentar em Abril, tendo em conta os dados que foram divulgados hoje sobre os preços no consumidor em vários países integrantes da zona da moeda única, e que ficaram acima das previsões.

Em França, o índice de preços no consumidor harmonizado (IPCH), comparável com os outros países da União Europeia (UE), cresceu 0,6% face a Março, o ritmo mais acelerado dos últimos sete meses. Na Alemanha o crescimento mensal da inflação atingiu os 0,3%.

Na Irlanda, a inflação subiu 0,8% no mesmo mês, enquanto em Espanha os preços no consumidor avançaram 0,4%. O IPCH da Holanda aumentou 0,7% em termos mensais, elevando a inflação homóloga para os 5,3%, o nível mais alto desde 1982 naquele país.

«Os dados de hoje puseram ainda mais a nú as fragilidades do discurso do BCE», que nos últimos tempos sempre apontou a estabilidade dos preços como o seu principal objectivo, sublinhou Leonardo Silva.

De acordo com Miguel Frasquilho, as taxas não deverão voltar a descer «antes da segunda metade do ano, a não ser que a situação económica, entretanto, se degrade demasiado».

Decisão do BCE não é comparável com cortes surpresa do FED

«Esta decisão não é comparável com as descidas de taxas decretadas pela Reserva Federal, porque mesmo com cortes inesperados, o discurso sempre foi o mesmo desde o início do ano», defendeu Paula Carvalho, do BPI.

O FED já baixou a sua taxa de referência por quatro vezes desde o início de 2001, num total de 200 pontos base, para os actuais 4,5%, sendo que duas dessas descidas aconteceram entre reuniões da autoridade monetária norte-americana.

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