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Manuel Pinho - Um financeiro de carreira a cuidar das empresas
O novo ministro da Economia e Inovação tem uma carreira inteiramente feita no sector financeiro. Recentemente estudou os factores de crescimento económico em Nova Iorque, impulso decisivo para o nascimento do «choque tecnológico». Amante e coleccionador d
Se o «choque tecnológico» apresentado por José Sócrates no início da pré-campanha tem um pai, ele é Manuel Pinho. É em nome desta «bandeira» socialista que o novo Ministério da Economia recebe também o cognome da Inovação.
O novo ministro já denunciava, aliás, que poderia ser ele a ocupar esta pasta. Nas últimas semanas não perdia uma oportunidade para falar, em conversas privadas, de como ficou positivamente impressionado pelo dinamismo empresarial, muito baseado em tecnologias de ponta, encontrado em meia centena de empresas que visitou durante a campanha eleitoral, sobretudo no litoral entre o Porto e Lisboa. «Tenho a minha agenda cheia de casos exemplares que merecem ser mostrados e apresentados como exemplo ao mundo empresarial», dizia quando tinha uma oportunidade, referindo-se o trabalho de casa feito nos últimos meses.
Aos 50 anos ele é chamado à pasta da Economia de um governo socialista, não sem alguma surpresa. É que, por um lado, o percurso profissional de Manuel Pinho foi, todo ele, construído no sector financeiro, sem uma experiência concreta na chamada economia real. Ele sai para o governo directamente dos gabinetes do Banco Espírito Santo, onde era administrador com o pelouro dos mercados financeiros. E antes da sua passagem pelo Tesouro tinha passado pelo Crédit Lyonnais e ocupado o cargo de vice-presidente do banco Manufacturers Hannover (que depois se tornou Chemical Bank, que viria a ser comprado por Champalimaud e depois pela Caixa Geral de Depósitos) e economista do Fundo Monetário Internacional. Foi também assistente da cadeira de macroeconomia da Universidade Católica entre 1983 e 1986. «Ele é mais macro do que micro», afirma alguém que já trabalhou ao seu lado.
Por outro lado, se alguma aproximação a cargos políticos tinha sido feita no passado, foi em governos do PSD quando, entre 1990 e 1993, foi director-geral do Tesouro e Presidente da Junta de Crédito Público.
O «namoro» com o PS começou publicamente em 2004, quando integra com Silva Lopes, Teodora Cardoso e Luís Campos e Cunha um grupo de economistas que aconselha Ferro Rodrigues na elaboração de um programa económico. Com a troca de liderança no PS, Manuel Pinho começou a aparecer como o homem-forte da economia do partido. Licenciado em economia pelo Instituto Superior de Economia, doutorou-se na Universidade de Paris. Recentemente passou pela Stern Scholl, em Nova Iorque, onde estudou teorias e factores do crescimento económico. Essa experiência académica foi decisiva para o nascimento do «choque tecnológico», conta quem o conhece.
Tido como «uma boa cabeça, tecnicamente muito bom» por quem trabalhou com ele nos últimos anos, há quem aponte como «handicap» para o cargo que agora ocupa o pouco conhecimento e contacto que tem com o mundo empresarial. «As suas ligações foram sempre com a macroeconomia ou com o sistema financeiro. O mundo das empresas não lhe é muito próximo», afirma um ex-colaborador, sustentando que a sua performance no Ministério da Economia e Inovação é uma incógnita.
Outro quadro que trabalhou com Manuel Pinho, contactado pelo Jornal de Negócios, tem menos dúvidas e aposta que «ele vai ser uma lufada de ar fresco, vai introduzir um grande dinamismo na gestão do Ministério e até na gestão da imagem do organismo».
Economicamente liberal, «tem um quadro de tomada de decisão bastante acentuado e sofisticado». Decifrando, «não toma decisões extemporâneas, não é calculista mas é bastante cerebral». E não fica «eternamente à espera de toda a informação para decidir». Outro ex-colaborador acrescenta que «é um bom organizador e tecnicamente muito bom. Pensa muito e articuladamente».
Dono de uma «capacidade para ouvir bastante forte», há quem lhe atribua também alguns tiques ocasionais de «irascibilidade» e de «má gestão da crítica». De qualquer forma «é de trato pessoal muito fácil, cordial, com um bom sentido de humor», como é genericamente reconhecido. Casado pela segunda vez depois de divorciado, com dois filhos, Manuel Pinho tem ainda outra paixão: a fotografia. «É um grande coleccionador de fotografia moderna de grandes autores mundiais». A sua colecção, «certamente uma das maiores em Portugal», inclui mesmo «algumas obras de meia dúzia de autores de primeira linha em termos internacionais que ficariam bem nos maiores museus mundiais», afirma quem sabe. Foi ele, aliás, um dos grandes impulsionadores da recente aposta de mecenato do Banco Espírito Santo na fotografia, no que foi prontamente apoiado por Ricardo Salgado, também eleumgrande apreciador da arte contemporânea.
Gosta de viajar e aproveita sempre para visitar museus e galerias, alimentando a sua paixão artística.
Mora numa das zonas mais típicas de Lisboa, o Príncipe Real, e é simpatizante do Benfica, mas «não é um ‘doente’ do futebol e raramente vai ao estádio». Ou seja, se Manuel Pinho inspirou a aposta do BES na fotografia, certamente não aconteceu o mesmo na ligação do banco ao desporto-rei.
É este homem de grande e reconhecida experiência no sector financeiro que tem a partir de agora a seu cargo a colocação no terreno da estratégia de crescimento que Sócrates elegeu como prioritária: o choque tecnológico. A par, obviamente, da resolução de dossiers difíceis como, por exemplo, as opções estratégicas para o sector energético, a captação de investimento estrangeiro o a definição de prioridades para a aplicação dos dinheiros comunitários do próximo QCA junto das empresas.