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Guterres: "Pandemia é um teste que a comunidade internacional está a falhar"

António Guterres adiantou que "morreram já mais de um milhão de pessoas e mais de 30 milhões foram infetadas, porque não se verificou um nível de coordenação suficiente na luta contra o vírus".

EPA
17 de Outubro de 2020 às 10:18
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A pandemia de covid-19 demonstrou a "fragilidade" do mundo e está a ser "um grande desafio" para todos, mas infelizmente é "um teste" que a comunidade internacional "está a falhar", afirmou à Lusa o secretário-geral da ONU, António Guterres.

"A pandemia de covid-19 constitui um grande desafio mundial - para toda a comunidade internacional, para o multilateralismo e para mim, enquanto secretário-geral das Nações Unidas. Infelizmente, é um teste que, até ao momento, a comunidade internacional está a falhar", disse António Guterres em entrevista, por escrito, à agência Lusa, por ocasião do 4.º aniversário da sua aclamação pelos 193 Estados-membros da Assembleia-Geral para o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a 13 de outubro de 2016.

"Morreram já mais de um milhão de pessoas e mais de 30 milhões foram infetadas, porque não se verificou um nível de coordenação suficiente na luta contra o vírus", enfatizou o ex-primeiro-ministro português.

O secretário-geral da ONU frisou que a atual crise sanitária mostrou "sem sombra de dúvida" a fragilidade do mundo atual, lamentando a falta de demonstração de uma "solidariedade necessária" para com os países que, sem apoio, não podem sobreviver ao impacto económico e social da pandemia.

"Se não forem tomadas medidas fortes e coordenadas, um vírus microscópico pode empurrar milhões de pessoas para a pobreza e a fome, com efeitos económicos devastadores nos próximos anos", sublinhou.

Nas declarações à Lusa, António Guterres afirmou ter "orgulho" no trabalho desenvolvido "pela família das Nações Unidas" que se mobilizou para "salvar vidas, controlar a transmissão do vírus e aliviar as consequências económicas".

"Enviámos equipamento para mais de 130 países, na ordem das centenas de milhão de unidades; proporcionámos educação a 155 milhões de crianças e formámos quase dois milhões de profissionais de saúde e comunitários", referiu.

Mas, e apesar da gravidade da atual crise da doença covid-19, António Guterres advertiu que a fragilidade global "é o verdadeiro desafio" que o mundo enfrenta, e essa "vai muito além da pandemia".

E enumerou: "A crise climática já está a causar estragos em alguns países e regiões, e não estamos no caminho certo para implementar o Acordo de Paris [sobre as alterações climáticas]. Criminosos e terroristas estão a explorar 'áreas cinzentas' na regulação do ciberespaço. O regime de desarmamento nuclear está a enfraquecer e o risco de proliferação está a aumentar. A xenofobia e o discurso de ódio estão a envenenar o debate democrático".

"Portanto, a pandemia deve ser um sinal de alerta. A resposta exige unidade e solidariedade, que possibilite uma recuperação forte baseada em comunidades e economias resilientes e sustentáveis, e permita enfrentar os outros seriíssimos desafios que enfrentamos", concluiu.

O ex-primeiro-ministro português e ex-Alto Comissário da ONU para os Refugiados foi aclamado pela Assembleia-geral das Nações Unidas após uma importante e determinante recomendação do Conselho de Segurança adotada a 06 de outubro.

Poucos meses depois, em janeiro de 2017, Guterres, o primeiro português a alcançar um cargo desta dimensão mundial, sucedia ao sul-coreano Ban Ki-moon (2007-2016) e tornava-se no nono secretário-geral da ONU para um mandato de cinco anos, até 31 de dezembro de 2021.
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