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FMI: Portugal enfrenta pior abrandamento da Zona Euro em 2024

A par com a espanhola, a economia portuguesa sofre a maior desaceleração no próximo ano, com o crescimento a cair de 2,3% para 1,5%. Economia global mostra mais divergências, mas permite esperar "aterragem suave".

Miguel Baltazar
10 de Outubro de 2023 às 09:00
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Portugal, tal como Espanha, deverá enfrentar no próximo ano a maior desaceleração entre o grupo dos países da Zona Euro, de acordo com as previsões económicas do Fundo Monetário Internacional (FMI), atualizadas nesta terça-feira.

 

A instituição sediada em Washington reviu em baixa as previsões de crescimento para o país e estima agora para este ano que o PIB português se expanda em 2,3%. Já para 2024, a projeção de crescimento não vai além de 1,5%.

 

As expectativas quanto à evolução do próximo ano estão alinhadas com os 1,5% de subida no PIB que são esperados pelo Banco de Portugal (BdP) e deverão também acompanhar a meta do Governo para o próximo ano na proposta de Orçamento do Estado para 2024, que é entregue esta terça-feira no Parlamento.

 

Já quanto à estimativa deste ano, o FMI está apenas ligeiramente mais otimista nos 2,3% indicados. O BdP espera 2,1%, e o cenário macroeconómico do ministro das Finanças, Fernando Medina, poderá acompanhar esse valor, segundo as informações transmitidas em reuniões com os partidos na passada semana.

 

As previsões continuam a ver Portugal a crescer acima da média da Zona Euro neste ano e no próximo (0,7% e 1,2%, respetivamente). Mas o quadro projetado para o conjunto dos países da moeda única para 2024 não é, apesar de tudo, um de arrefecimento generalizado.

 

Segundo as previsões do FMI, há apenas cinco países do euro que em 2024 registarão crescimentos mais fracos do que aqueles que estão em cima da mesa para o ano atual. Além de Portugal e Espanha (cuja velocidade de reduz em 0,8 pontos percentuais), também Grécia (abrandamento de 0,5 pontos percentuais), Croácia e Bélgica (ambas com ritmos de crescimento 0,1 pontos percentuais inferior ao previsto para 2023).

Já nos restantes países – parte deles em contração económica e a arrefecerem muito já em 2023 – o que se espera no próximo ano são melhorias. Estónia, Lituânia, Letónia, Luxemburgo e Alemanha poderão ter expansões mais significativas em 2024, com o FMI a antecipar alguma recuperação. Para a Alemanha, motor económico do euro, é esperada uma quebra de 0,5% no PIB em 2023, com retorno a um nível de crescimento baixo – de 0,9% - no próximo ano.

 

As previsões desta terça-feira não explicam as evoluções diferenciadas, mas mostram por exemplo que – ao contrário do que sucedia em julho – está agora menos confiante na capacidade de o turismo dos países do sul da Europa continuar a ter contributos mais positivos para as taxas de crescimento da Zona Euro.

 

O FMI refere que "a recuperação nas viagens durante 2021-2023 trouxe crescimento económico particularmente forte a economias com um peso grande das atividades turísticas no PIB" e que "tinham sofrido contrações especialmente profundas no PIB no início da pandemia". "Mas, com a recuperação do turismo a amadurecer, o impulso para o crescimento está a esvanecer. Os indicadores avançados dos serviços indicam agora crescimento mais fraco ou quebras nas economias que antes gozaram de recuperação forte", diz.

 

Este factor surge aliado à redução de poupanças das famílias e abrandamento persistente na indústria para explicar o quadro mais negativo que é projetado agora pelo Fundo Monetário Internacional. E onde entram ainda o abrandamento na China, assim como a continuação do impacto da transmissão da política monetária no aperto das condições das famílias e empresas.

Cenário de "aterragem suave" é mais provável

 

Globalmente, o FMI quase mantém intocadas as previsões, esperando 3% de crescimento mundial neste ano e 2,9% no próximo (menos uma décima que o esperado em julho). Mas para a Zona Euro é feita uma revisão em baixa e é também assinalada a divergência face às perspetivas para os Estados Unidos.

 

Para 2023, perante maior resistência no consumo e no investimento, a economia norte-americana pode esperar 2,1% de crescimento (mais três décimas do que o esperado em julho). Já em 2024, o PIB dos Estados Unidos deverá subir 1,5% (cinco décimas das previsões anteriores).

 

Para a Zona Euro, as previsões foram, no entanto, revistas em baixa em duas décimas neste ano, para 0,7%, e em três décimas para o próximo ano, para 1,2%.

 

Apesar das divergências emergentes, e para já, o fundo sediado em Washington sinaliza que vê agora como mais improvável a aterragem abrupta das economias após o forte aperto na política monetária devido à subida da inflação.

 

Pierre-Oliver Gourinchas, conselheiro económico do FMI, escreve na apresentação das novas projeções que que estas são "cada vez mais consistentes com um cenário de ‘aterragem suave’, trazendo a inflação para baixo sem uma grande quebra na atividade, especialmente nos Estados Unidos, onde a subida prevista no desemprego é muito modesta, de 3,6% para 3,9%".

 

Na Zona Euro, a estimativa é a de que a taxa de desemprego suba neste ano para 6,6%, mas recue para os 6,5% no próximo. As previsões são iguais para Portugal.

 

No mesmo período, indicam os quadros do FMI, a inflação no espaço do euro cairá de 5,9% para 3,3%.

 

No caso de Portugal, a estimativa de subida anual de preços para este ano fica agora nos 5,3%, acima dos 4,6% que o Ministério das Finanças indicou aos partidos esperar. Para 2024, a previsão é de uma inflação média anual de 3,4%.

 

Estas previsões de subidas de preços – como de resto sucede com aquelas que o Governo inscreve nas propostas de Orçamento do Estado – são relativas ao índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC) que é usado para comparações internacionais. Este está atualmente a subir mais do que o índice de preços no consumidor (IPC), que não pesa o consumo realizado por estrangeiros em Portugal.

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