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Fábrica de biscoitos de Valongo viveu a revolução em ano de centenário

A Fábrica Paupério, de Valongo, comemorou o centenário no ano da Revolução dos Cravos, um período de viragem para uma empresa que tem procurado "acompanhar as exigências do mercado mas sem deixar cair a receita tradicional".

25 de Abril de 2014 às 13:00
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Na manhã em que, em Lisboa, se vivia intensamente o 25 de Abril, no centro de Valongo (distrito do Porto) as funcionárias da fábrica de bolachas e biscoitos Paupério foram trabalhar normalmente.

 

Assistiram à revolução pela televisão "enquanto os patrões estavam fechados no escritório".

 

"Comemorávamos os 100 anos [a empresa nasceu em 1874] e os patrões iam fazer um jantar mas anularam. Depois deram-nos medalhas mas sem festa. Havia receio do que o futuro reservava", descreveu a operária Carmem Carvalho, na Paupério desde 1971.

 

A empresa tinha, em 1974, 68 funcionários. Hoje, são 28. Mas o actual dono, Eduardo Sousa - "filho" da 5ª geração de gestores desta fábrica que já está legalmente entregue à 6ª geração - garante que o volume de negócios é "praticamente o mesmo porque a Paupério procurou modernizar-se sem deixar cair a receita tradicional".

 

A principal marca do 25 de Abril foi a "incerteza" que gerou "alguma estagnação" até "mais ou menos" à década de 1990, admitiu.

 

Em 1974, era dono da fábrica Eduardo Joaquim Reis Figueira, conotado com o antigo regime por ser membro da Assembleia Nacional, mas "uma pessoa de natureza boa que acudia muito a todos", contou o neto, vincando a ligação do avô à Santa Casa de Misericórdia.

 

"Ele encarou a revolução como um acontecimento natural até à altura em que lhe expropriaram uma propriedade para construir uma escola. As escolas tinham de ser construídas para garantir o avanço da educação, mas entre aproveitar um terreno baldio e um que produzia 50 pipas de vinho, preferiram o terreno cultivável. O baldio permanece sem ser usado", contou à Lusa.

 

Essa escolha "magoou" Eduardo Figueira, ainda que o neto olhe agora para o episódio como "danos colaterais de qualquer revolução" e retire dele a mensagem de que "é possível manter o lado familiar, mas é essencial a adaptação aos novos tempos".

 

Carmem Carvalho nota diferenças. "Antigamente, o trabalho era todo à mão e agora há mais tecnologia, apesar de se manter o artesanal", descreveu.

 

Além das vendas no mercado nacional, actualmente a Paupério exporta para Inglaterra, França, Suíça, Canadá, China e Timor-Leste.

 

Com a crise em 2008, a Paupério ganha o mercado 'gourmet', ao qual Eduardo Sousa chama de "mercearias finas", e actualmente estuda uma possível entrada no Brasil e em Angola para "agarrar o lado saudosista" da emigração lusa e protagonizar um regresso à pré-Revolução.

 

O segredo da longevidade está na "harmonia entre herdeiros" e "tão bem guardado quanto as receitas" dos bolos de milho, fabricados na Paupério, que Eduardo Sousa garante que Camilo Castelo Branco comia enquanto "escrevia sobre amores".

 

Das fivelas, aos fidalguinhos, mimosas, torcidos ou limonados são mais de quatro dezenas de especialidades que compõem os sortidos da Paupério, que faz sazonalmente pão-de-ló (na Páscoa) e bolo-rei (Natal).  

 

Desta fábrica saíam cinco toneladas de bolo-rei em 1974, mas agora apenas uma tonelada e meia, fruto da concorrência e da abolição do alvará, em 1980, que não permitia a todos os confeiteiros e padeiros usar a receita.

 

O departamento de produção trabalha em turnos de dez horas de segunda a quinta-feira desde Janeiro de 2013, ficando com a sexta-feira livre, uma "novidade" que a direcção entendeu introduzir em jeito de "estímulo".

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