Notícia
Especialistas recomendam imunidade de grupo para países pobres
A chamada imunidade de grupo, que permite que a maioria da população se torne resistente ao vírus após ter sido contagiada e depois recuperada, poderia causar menor destruição económica e sofrimento humano do que confinamentos restritivos com o objetivo de conter a doença.
25 de Abril de 2020 às 18:00
Controversa devido ao alto risco de mortes, a estratégia de combate ao coronavírus descartada pelo Reino Unido é agora apontada como a solução para os países pobres, e jovens, como a Índia.
A chamada imunidade de grupo, que permite que a maioria da população se torne resistente ao vírus após ter sido contagiada e depois recuperada, poderia causar menor destruição económica e sofrimento humano do que confinamentos restritivos com o objetivo de conter a doença, isto segundo um número cada vez maior de especialistas.
"Nenhum país pode arcar com um período prolongado de confinamentos e menos ainda um país como a Índia", disse Jayaprakash Muliyil, um proeminente epidemiologista indiano.
"Pode atingir-se um ponto de imunidade de grupo sem que a infeção chegue, de facto, aos idosos. E quando a imunidade de grupo atingir um número suficiente, o surto será contido e os idosos também estarão seguros".
Uma equipa de investigadores da Universidade de Princeton e do Center for Disease Dynamics, Economics and Policy, um grupo de defesa da saúde pública com sede em Nova Deli e Washington, identificou a Índia como um dos países onde essa estratégia pode ser bem-sucedida porque a população desproporcionalmente jovem enfrentaria um menor risco de hospitalização e morte.
Defenderam que permitir que o vírus circule de forma controlada ao longo dos próximos sete meses garantiria imunidade a 60% da população do país até novembro e, assim, permitiria conter a doença.
A mortalidade poderia ser limitada enquanto o vírus se propagasse face aos países europeus como Itália, já que 93,5% da população indiana tem menos de 65 anos, disseram, porém não foram divulgadas projeções sobre o número de mortos.
Esta proposta radical destaca os desafios que países em desenvolvimento mais pobres - incluindo nações como a Indonésia e alguns da África subsariana - enfrentam para conter a epidemia ao recorrerem às medidas de contenção adotadas por economias avançadas.
A impossibilidade de distanciamento social em condições de vida precárias, como acontece em muitas cidades e vilas da Índia, a falta de kits de testes para detetar infeções e o sofrimento humano que ocorre nos confinamentos sugerem nesses locais poderá ser necessário seguir um caminho diferente.
Estratégia arriscada
Mesmo num país como a Índia, com uma população jovem, o conceito tem riscos inerentes. Permitir que as pessoas sejam infetadas, levará, inevitavelmente, muito mais pacientes aos hospitais.
Os investigadores dizem que a Índia terá de expandir urgentemente a sua capacidade de cuidados intensivos e ao nível de camas de isolamento para garantir que várias ondas de pacientes não se tornem vítimas antes de a imunidade de grupo ser alcançada.
"Temo que isso relaxaria as preocupações de indivíduos mais jovens, que ainda permanecem sob risco substancial", disse Jason Andrews, professor assistente de medicina da Universidade Stanford, através de e-mail.
"A mensagem, em particular, pode levar os mais jovens a acreditarem estar sob menor risco do que estão e a não entenderem o respetivo potencial papel na transmissão da doença".
E como o novo coronavírus surgiu em seres humanos apenas no final do ano passado, ainda há muitos dados desconhecidos. A imunidade ao vírus pode ser um processo mais complexo do que o esperado. Um grupo de investigadores estima que até 82% da população teria de ficar infetada antes de a imunidade de grupo poder ser alcançada.
A chamada imunidade de grupo, que permite que a maioria da população se torne resistente ao vírus após ter sido contagiada e depois recuperada, poderia causar menor destruição económica e sofrimento humano do que confinamentos restritivos com o objetivo de conter a doença, isto segundo um número cada vez maior de especialistas.
"Pode atingir-se um ponto de imunidade de grupo sem que a infeção chegue, de facto, aos idosos. E quando a imunidade de grupo atingir um número suficiente, o surto será contido e os idosos também estarão seguros".
Uma equipa de investigadores da Universidade de Princeton e do Center for Disease Dynamics, Economics and Policy, um grupo de defesa da saúde pública com sede em Nova Deli e Washington, identificou a Índia como um dos países onde essa estratégia pode ser bem-sucedida porque a população desproporcionalmente jovem enfrentaria um menor risco de hospitalização e morte.
Defenderam que permitir que o vírus circule de forma controlada ao longo dos próximos sete meses garantiria imunidade a 60% da população do país até novembro e, assim, permitiria conter a doença.
A mortalidade poderia ser limitada enquanto o vírus se propagasse face aos países europeus como Itália, já que 93,5% da população indiana tem menos de 65 anos, disseram, porém não foram divulgadas projeções sobre o número de mortos.
Esta proposta radical destaca os desafios que países em desenvolvimento mais pobres - incluindo nações como a Indonésia e alguns da África subsariana - enfrentam para conter a epidemia ao recorrerem às medidas de contenção adotadas por economias avançadas.
A impossibilidade de distanciamento social em condições de vida precárias, como acontece em muitas cidades e vilas da Índia, a falta de kits de testes para detetar infeções e o sofrimento humano que ocorre nos confinamentos sugerem nesses locais poderá ser necessário seguir um caminho diferente.
Estratégia arriscada
Mesmo num país como a Índia, com uma população jovem, o conceito tem riscos inerentes. Permitir que as pessoas sejam infetadas, levará, inevitavelmente, muito mais pacientes aos hospitais.
Os investigadores dizem que a Índia terá de expandir urgentemente a sua capacidade de cuidados intensivos e ao nível de camas de isolamento para garantir que várias ondas de pacientes não se tornem vítimas antes de a imunidade de grupo ser alcançada.
"Temo que isso relaxaria as preocupações de indivíduos mais jovens, que ainda permanecem sob risco substancial", disse Jason Andrews, professor assistente de medicina da Universidade Stanford, através de e-mail.
"A mensagem, em particular, pode levar os mais jovens a acreditarem estar sob menor risco do que estão e a não entenderem o respetivo potencial papel na transmissão da doença".
E como o novo coronavírus surgiu em seres humanos apenas no final do ano passado, ainda há muitos dados desconhecidos. A imunidade ao vírus pode ser um processo mais complexo do que o esperado. Um grupo de investigadores estima que até 82% da população teria de ficar infetada antes de a imunidade de grupo poder ser alcançada.