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Confinamentos generalizam-se no mundo um ano após choque com a China

Um ano depois do isolamento da cidade chinesa de Wuhan que chocou o mundo, a tática parece agora uma ferramenta duradoura para combater o coronavírus em quase todos os países.

Reuters
23 de Janeiro de 2021 às 12:00
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Quando o primeiro grande confinamento dos tempos modernos foi implementado na China a 23 de janeiro de 2020, no início da pandemia de Covid-19, foi considerado de eficácia não comprovada e impensável, particularmente por governos democráticos que procuravam evitar as implicações de violar direitos humanos ao limitar a liberdade de circulação dos cidadãos a uma escala tão grande.

 

No entanto, quase 12 meses depois, o Reino Unido está no seu terceiro confinamento enquanto enfrenta uma nova estirpe do coronavírus. Na Austrália, a descoberta de um caso em Brisbane levou a três dias de confinamento. E a China, que regista o seu maior surto desde o início da pandemia, com mais de 500 casos, isolou três cidades nos arredores de Pequim este mês.

"Antes da Covid-19, havia um forte discurso de saúde global que argumentava contra confinamnetos e quarentenas em massa.
Esta é apenas uma linha de pensamento que a atual pandemia transformou", disse Nicholas Thomas, professor associado de segurança de saúde da Universidade da Cidade de Hong Kong.

"Na medida do possível, os confinamentos vão tornar-se parte do kit de ferramentas essencial para os governos usarem nos surtos em curso e também no futuro", disse.

Medidas de tempos de guerra

A velocidade com que a China isolou milhões de pessoas quando a pandemia surgiu marcou a primeira vez que a medida foi tomada a uma escala tão grande nos tempos modernos.

Até ao ano passado, confinamentos em grande escala eram sinónimos das ondas de peste bubónica que varreu a Europa a partir do século XIV. Mesmo durante a pandemia de gripe do início do século XX, nenhum isolamento foi imposto de forma centralizada. A China, no entanto, impôs três grandes confinamentos na história recente: durante um surto de peste bubónica no nordeste do país em 1901, dois por curtos períodos após o terremoto de Sichuan em 2008, e outro durante um surto de peste bubónica na província de Gansu, em 2014.

Os países que ficaram surpreendidos com o confinamento de Wuhan tiveram de fazer a mesma coisa alguns meses depois, quando o coronavírus se espalhou de forma incontrolável.

Depois de uma doença infecciosa atingir um certo número de pessoas, os confinamentos não podem ser evitados, porque nenhuma outra medida pode conter a propagação, disse Jiang Qingwu, professor de epidemiologia da Universidade Fudan, em Xangai.

De acordo com autores de um estudo conduzido pela Bloomberg Economics que compara como os países democráticos se saíram contra os mais autoritários no combate à pandemia, "um confinamento rápido e rigoroso é o tipo de reação automática que surge mais naturalmente em regimes autoritários do que em democráticos".

Com as vacinações a serem implementadas rapidamente nos principais países ocidentais e na China, a esperança é que os confinamentos serão muito menos comuns em 2021, embora permaneça uma grande incerteza sobre quanto tempo demorará a vacinar uma população mundial suficiente para reabrir com segurança a economia global.

Apesar das implicações económicas, os confinamentos devem ser o legado da Covid-19, que continuarão a ser implementados durante surtos de doenças altamente transmissíveis no futuro, especialmente porque são agora um conceito conhecido para pessoas em todos os lugares pela primeira vez em um século.

"A quarentena restritiva em si não é uma invenção e a sua aplicação remonta à Grande Peste na época medieval", disse Yanzhong Huang, diretor do Centro de Estudos de Saúde Global da Universidade Seton Hall, de Nova Jersey. "Mas é irónico que um método tão antigo continue  a ser o mais eficaz, apesar do enorme progresso das ciências médicas."

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