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A referência definitiva

Os bens culturais deixaram de ser um investimento de elite. Pelo contrário, são actualmente activos acessíveis e disputados em mercados competitivos de todo o mundo.

28 de Março de 2013 às 14:30
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No entanto, ao contrário dos produtos financeiros, a informação sobre este tipo de bens continua a estar encerrada num círculo restrito de conhecedores. Semanalmente, o Negócios irá contrariar esta tendência, revelando a informação privilegiada de um verdadeiro "insider"*, que, finalmente, acedeu a partilhar o que sabe. 

 

 

 

Lembro-me há muitos, muitos anos, quando uma errância de meio de tarde me levou a uma galeria do Porto que exibia umas magníficas esculturas em metal. As formas eram humanas, e a história delas partilhava paixão, desejo, ternura. Havia uma erudição muito forte no trabalho, mas ao mesmo tempo uma visceralidade própria dos corpos. Perguntei pelo autor, e disseram-me que era "o senhor arquitecto Álvaro Siza Vieira". Na altura, ainda ignorante, pensava que o arquitecto apenas produzia obra essencial. Desconhecia as suas esculturas, o seu mobiliário, a sua iluminação. Com o tempo, passei a seguir todo o seu trabalho mais discreto e a acolher em maior profundidade esta sua enorme capacidade de criar em múltiplas matérias e contextos. E, claro, saudei com emoção a cada vez maior entrada no circuito comercial dos vários desenhos e esquissos de Siza Vieira. A Taschen, essa exuberante mas erudita editora, publicou agora uma obra que apresenta como a referência definitiva para o trabalho do arquitecto. Chama-se "Álvaro Siza. Complete Works 1952-2013" e pode ser encontrada em www.taschen.com.


Há várias coisas assinalar de modo importante em relação a este trabalho. Antes do mais, recebeu a colaboração intensa do próprio arquitecto. Depois, não só pretende cobrir todo o seu trabalho, como pretende analisá-lo de forma exaustiva, em 500 páginas, bastante ilustradas. Por último, o autor, Philip Jodidio, é um dos mais reconhecidos neste sector. Existem alguns motivos sérios para adquirir a obra. Antes de tudo o mais, é uma oportunidade soberba para encontrar num só suporte toda uma vasta e dispersa produção, que mesmo os peritos têm hoje enorme dificuldade em acompanhar com rigor e exactidão. Mas, penso, o valor maior do livro é o de ser a referência definitiva para o investidor. Todo o trabalho de Siza Vieira é hoje de enorme valor, estando validado e celebrado um pouco em todo o mundo. No entanto, essa mesma celebração, como também a vastidão, criam enormes problemas ao investidor. De facto, estamos a falar de uma obra vasta e abrangente, que vai dos edifícios, à escultura, ao desenho, ao mobiliário. O trabalho de Jodidio serve exactamente para o investidor fazer um ponto de situação. Para perceber o que foi feito pelo arquitecto, o que é mais e menos importante, onde estão as peças. Quanto a mim, é um instrumento para recomeçar ou aprimorar o investimento nos bens seguros gerados por Siza Vieira.

 

 

 

O mercado agita-se
O mercado primário de arte nacional continua intensamente agitado. A política de manutenção de preços elevados não está a produzir resultados, e muitas galerias estão a ter enormes dificuldades em vender as propostas dos seus artistas. Curiosamente, ao mesmo tempo, têm surgido várias propostas interessantes de novos espaços de comercialização, essencialmente pequenas galerias, com produtos de pintura e escultura com preços mais modestos, ou apostando noutras expressões como a fotografia e a ilustração, ou até em múltiplos. O racional é, obviamente, o de apresentar preços mais modestos, mais realistas em relação à conjuntura. Estou curioso de descobrir a reacção do mercado português a esta nova tipologia de oferta.

 

 

 


*Nota ao leitor:
Peregrino Santa Clara tem um percurso relativamente raro para um cidadão português. Filho de um almirante português e de uma inglesa pertencente a uma das famílias mais poderosas da "City" londrina, Peregrino iniciou os seus estudos superiores em Oxford, a que se seguiu um mestrado em finanças em Harvard. No início dos anos 60, com pouco mais de 20 anos, foi contratado por uma casa de investimentos de Wall Street, como director de pesquisa. Poucos anos depois, passou a "partner", responsável pela Europa. A sua actividade obrigou-o a estadias constantes em Londres, Zurique, Paris e Milão, para além do Luxemburgo. As deslocações profissionais permitiram-lhe aprofundar um prazer de família: a investigação e o investimento em bens culturais.
Hoje, no ocaso da sua vida, Peregrino decidiu quebrar o seu valor mais precioso, o da discrição total, e partilhar com os leitores do Negócios os conhecimentos que adquiriu. Os textos são escritos na primeira pessoa para melhor reprodução do um olhar singular sobre os mundos a que só os iniciados têm acesso. JV

 

 


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