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OCDE: Mais apoios à banca podem comprometer estímulos à economia
Quarta-feira, a OCDE publicou o seu mais recente Economic Outlook, com novas previsões (mais optimistas) para Portugal. O Negócios entrevistou por email Ben Westmore, responsável do organismo pela economia portuguesa, e publica agora a versão completa das suas respostas.
Fizeram uma revisão significativa da vossa previsão de crescimento para 2017. Quais foram os principais factores que justificaram essa mudança?
Houve uma melhoria clara do ímpeto de crescimento na economia portuguesa desde meados de 2016. O consumo privado tem tido um crescimento relativamente forte, reflectindo a queda da taxa de desemprego e uma subida do salário mínimo no início de 2017. Além disso, o crescimento do investimento arrancou, em parte devido a uma maior distribuição de fundos europeus. O crescimento das exportações tem sido muito rápido, com fluxos comerciais entre Portugal e mercados tanto na União Europeia, como fora da UE (como Brasil, China, Angola). Consistentemente com estes dados, indicadores como a confiança dos consumidores e das empresas também melhoraram. No primeiro trimestre de 2017, a estimativa do PIB aumentou significativamente e isso foi incorporado nas nossas previsões. Assim, tanto a melhoria do ímpeto [da economia] como novos dados levaram-nos a rever a nossa projecção de crescimento para 2017.
No entanto, continuamos cautelosos acerca das perspectivas económicas, dado que existem riscos para o crescimento: a política orçamental não pode ter um papel muito activo (devido a preocupações sobre sustentabilidade), o endividamento do sector privado continua elevado e a percentagem de trabalhadores desempregados de longa duração é muito maior do que na média da OCDE. Esperamos que o crescimento desacelere ligeiramente em 2018, de novo para o ritmo de crescimento potencial, embora a nossa previsão para esse ano tenha sido revista em alta.
Tento em conta o crescimento português na última década e meia, este é um bom resultado?
Se compararmos as nossas previsões com as nossas estimativas de crescimento do PIB potencial ou com a média de crescimento da última década e meia, é um bom resultado. Embora parte deste crescimento mais forte seja cíclico, também vemos um elemento estrutural, que reflecte as reformas implementadas desde 2008.
O que vêem no investimento? A vossa previsão salta de 0,7% para 6,5%.
O crescimento mais forte do investimento em 2017 resulta de vários factores. Em primeiro lugar, o crescimento do investimento no primeiro trimestre foi forte e isso foi incorporado nas sossas previsões. Em segundo lugar, esperamos uma subida forte na utilização dos fundos europeus em 2017 (face a 2016), o que aumentará o investimento total. Por último, a continuação do desempenho forte das exportações deverá encorajar mais investimento das empresas, compensando parcialmente o travão relacionado com o endividamento do sector privado.
Quais são os principais riscos identificados para a economia portuguesa?
Um risco negativo é um maior apoio público ao sector bancário no futuro. Se isso acontecer, haveria impacto na sustentabilidade financeira e na capacidade para a política orçamental apoiar à procura.
Os riscos positivos incluem a possibilidade de uma subida do rating por uma das grandes agências (que baixaria os custos do serviço da dívida) ou uma recuperação mais forte do que se espera dos parceiros comerciais de Portugal, que levaria a um estímulo das exportações e do investimento, face aquilo que está projectado actualmente.
Estão confortáveis com o nível e a trajectória de futuro do salário mínimo?
Os aumentos que já ocorreram devem apoiar a procura e ajudar a melhorar a qualidade de vida daqueles que recebem salários mais baixos. Contudo, tendo em conta futuros aumentos do salário mínimo, é preciso cuidado para que as mudanças não resultem numa subida do desemprego de trabalhadores de qualificações mais baixas ou maior compressão salarial para trabalhadores com salários mais baixos mas que recebam acima do mínimo.
Na frente orçamental, a OCDE está agora alinhada com a previsão de défice do Governo. Confiam mais na sua capacidade para controlar o orçamento?
A revisão da nossa previsão de défice reflecte em grande medida a nossa revisão do crescimento do PIB. As nossas projecções têm em conta a divulgação mais recente do PIB. É difícil comparar as nossas projecções com as do Governo até que as previsões económicas deles incorporem esses novos dados.
Esperam uma subida de rating no curto prazo?
Com base nas nossas previsões, a dívida pública entrará numa trajectória descendente nos próximos a anos. Assim, incluímos uma subida do rating como um risco positivo para a nossa previsão económica.
O que seria uma boa solução para elevado nível de malparado nos bancos portugueses?
Mais incentivos regulatórios podem incentivar os bancos a resolver empréstimos em incumprimento há muito tempo. Exigências de capital podem premiar bancos que implementem um plano suficientemente ambicioso para reestruturar o malparado, o que poderá tornar mais fácil angariar mais capital. Além disso, [definir] pesos para os créditos poderia ajudar a diferenciar entre novos empréstimos em incumprimento e aqueles que estão nos balanços dos bancos há mais do que determinado tempo, criando um incentivo para limpar ou vender malparado mais antigo.