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OCDE: dificuldades de crédito penalizam investimento em Portugal
Os elevados níveis de malparado nos balanços dos bancos travam uma maior concessão de crédito à economia, explica a OCDE. Para as contas públicas, os maiores riscos são novas injecções de capital público na banca e uma subida dos juros da dívida.
A OCDE está mais optimista sobre o crescimento da economia portuguesa, mas continua a identificar obstáculos que devem ser corrigidos. Um dos principais são as dificuldades de acesso a crédito sentidas pelas empresas nacionais, que têm contribuído para travar o investimento.
Em seis meses, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) deixou de esperar que o investimento crescesse 0,7% para passar a estimar 6,5%. No entanto, este dinamismo podia ser ainda maior. "Apesar da posição altamente expansionista da política monetária da zona euro, a actividade de investimento continua a ser travada por fraca produtividade e necessidades fortes de desalavancagem de muitas empresas", pode ler-se no Economic Outlook, publicado esta manhã.
Como se poderia melhorar estas condições? Sem grande surpresa, a OCDE recomenda que se actue numa área que tem sido muito discutida nos últimos anos: o crédito malparado. "Para reduzir a incerteza que rodeia o sector bancário e melhorar a oferta de crédito e as condições do mesmo, são necessárias políticas que encorajem a redução do ‘stock’ de crédito em incumprimento."
A OCDE diz mesmo que nas condições actuais – em que os obstáculos são significativos e a confiança na economia está a aumentar – mexidas nesta área teriam uma transmissão "particularmente forte" para a economia.
Apoios à banca ameaçam descida da dívida
Quanto às contas públicas, a OCDE nota que a política orçamental não será restritiva em 2017 e 2018 e, embora até se recomendasse uma postura expansionista para apoiar a economia, isso poderia colocar em causa a sustentabilidade das contas do Estado. É que o défice caiu muito, mas a dívida pública "continua elevada".
Sobre o tema da dívida, a OCDE avisa que a descida da mesma pode ser ameaçada por novas injecções de dinheiro público na banca ou por uma subida dos juros das obrigações da República. Por outro lado, uma subida de rating por parte de uma das grandes agências de notação financeira poderia diminuir os custos de financiamento.
Globalização foi positiva
O organismo com sede em Paris argumenta ainda que Portugal beneficiou muito com a globalização no período pós-crise, com as exportações a representarem agora 40% do PIB (era 27% em 2005), permitindo aumentar os salários dos trabalhadores mais qualificados.
Neste ponto, a OCDE também deixa recomendações para melhor aproveitar as relações comerciais com o exterior: continuar a melhorar a qualificação dos trabalhadores, através de uma maior aposta no ensino vocacional, melhorar a formação dos professores e apostar mais financeiramente no ensino primário e pré-primário; e reduzir a diferença de protecção laboral entre contratos permanentes e temporários.