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Impacto da guerra nos preços dos alimentos e energia pode durar anos, antecipa Banco Mundial

Só em 2022 os cereais vão encarecer mais de 20%, a energia mais de 50% e os fertilizantes quase 70%. Preços só devem aliviar em 2023, mas manter-se a níveis elevados por mais tempo do que inicialmente previsto.

Só o gás natural na Europa vai duplicar de preço em 2022, de acordo com previsões do Banco Mundial. Vitaliy Hrabar / Reuters
26 de Abril de 2022 às 18:38
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A guerra na Ucrânia desferiu um golpe significativo nos mercados de 'commodities', impondo mudanças de paradigma em praticamente todas as frentes, desde a produção, ao comércio até consumo, que irão manter os preços em níveis historicamente elevados em termos nominais até ao final de 2024, antecipa o Banco Mundial (BM).

No mais recente relatório 'Commodity Markets Outlook', a organização sediada em Washington dá dois exemplos de uma conjuntura que vem de trás e que o conflito armado veio e vai continuar a agudizar: nos últimos dois anos (entre abril de 2020 e março de 2022), os preços da energia sofreram o maior aumento desde a crise petrolífera de 1973, enquanto as subidas dos alimentos e fertilizantes - que têm a Ucrânia e a Rússia como grandes produtores mundiais - foram as maiores desde 2008.

E as perspetivas em termos da evolução dos preços para o conjunto do ano estão longe de ser animadoras. Falando sempre em termos nominais, o Banco Mundial assinala que os preços da energia, por exemplo, devem crescer 50,5% este ano, antes de aliviarem a partir do próximo, enquanto os de outras categorias como os dos produtos agrícolas e dos metais, devem sofrer um incremento na ordem dos 20% antes de também moderarem nos anos seguintes. No entanto, aponta, em termos globais, os preços das matérias devem manter-se bastante acima da média dos últimos cinco anos.

A instituição ressalva, porém, que os preços podem ser ainda mais elevados e voláteis do que o projetado agora, no caso a guerra se prolongar ainda mais no tempo e perante a imposição de sanções adicionais contra a Rússia.

Entre as categorias destaca-se a energia. Devido às disrupções na produção e comércio causadas pela guerra, o Banco Mundial prevê que o barril de Brent (que serve de referência à Europa) custe em média 100 dólares em 2022, o valor mais elevado desde 2013 e que, face ao ano passado, reflete um aumento superior a 40%. E se bem que os preços devem aliviar em 2023 para 92 dólares por barril esse valor continua ainda assim bastante acima da média de 60 dólares registada no último ano.

Já os preços do carvão devem ser 80% superiores a 2021, enquanto os de gás natural na Europa vão mais que duplicar em 2022 face ao ano passado, indica o relatório divulgado esta terça-feira, pelo Banco Mundial.

Agravamento vai dos cereais aos metais

"Os mercados de 'commodities' estão a viver um dos maiores choques no fornecimento das últimas décadas por causa da guerra na Ucrânia", observa Ayhan Kose, diretor do grupo que elabora o Outlook do BM, citado no comunicado que acompanha o relatório.

"O aumento resultante dos preços da energia e dos produtos alimentares está a ter um preço humano e económico alto e vai, muito provavelmente, travar os progressos na redução da pobreza", enfatiza o mesmo responsável, apontando que "os elevados preços das 'commodities' vêm exacerbar as já elevadas pressões inflacionárias em todo o mundo".

Em termos globais, os preços dentro do cabaz da agricultura devem crescer 17,6% em 2022, com os cereais a darem um pulo de 20,4%.

Um dos casos mais paradigmáticos é o do trigo: à luz das projeções do Banco Mundial, os preços devem subir mais de 40%, atingindo o valor mais elevado de sempre, em termos nominais, este ano, o que vai exercer pressão sobre as economias em vias de desenvolvimento que dependem das importações de trigo da Rússia e da Ucrânia, adverte a instituição.

Já no caso do milho antecipa-se uma subida do índice de preços na ordem dos 19,4% em 2022. A trajetória ascendente também é transversal aos óleos alimentares: o de soja deve aumentar 29,9%, o de cocô 34,4% e o de palma 45,9%, antes de aliviarem em 2023.

Nos alimentos, nota também para os aumentos dos preços de produtos como carne (a de frango deve encarecer 41,8% face a 2021) ou da fruta (as laranjas devem registar uma subida de 14,9%).

Em alta vão estar ainda os preços dos fertilizantes que, dependendo do tipo, têm incrementos previstos para 2022 que oscilam entre 39,4% e 147,4%, assim como outras matérias-primas como o algodão, com uma subida antecipada na ordem dos 39% em 2022.

No capítulo dos metais as subidas de preços em 2022 também são praticamente em toda a linha: a título de exemplo, o cobre deve ficar 8,4% mais caro do que no ano passado, o alumínio deve sofrer um 'pulo' de 37,5%, enquanto o do níquel disparar 51,6%.


Pior do que outras crises

Se bem que as 'commodities' já sofreram outros choques no passado e, olhando para a forma como o mercado respondeu anteriormente, a análise do Banco Mundial conclui que o impacto da guerra na Ucrânia, que estalou a 24 de fevereiro, pode durar mais do que abalos anteriores, sobretudo por duas razões. 

Em primeiro lugar, há menos margem atualmente para substituir as matérias da energia mais afetadas com a escalada de preços por outros combustíveis fósseis - porque a escalada tem atravessado todos - e, em segundo, o aumento dos preços de determinadas 'commodities' também mexeu com o de outras, provocando um efeito em cadeia. É o caso dos elevados preços do gás natural que afeta os dos fertilizantes que, por sua vez, interferem nos dos produtos agrícolas.

Além disso, salienta o Banco Mundial, as respostas dos governos até ao momento têm estado mais focadas em cortar impostos ou taxas e em fornecer subsídios - o que, frequentemente, exacerba as falhas de fornecimento e as pressões sobre os preços - do que em medidas a longo prazo para reduzir a procura e incentivar fontes alternativas de abastecimento.

A guerra também está a conduzir a modelos de comércio mais dispendiosos que podem resultar numa inflação mais duradoura, nota ainda a instituição financeira, para quem é expectável que provoque um grande desvio do comércio de energia, havendo, por exemplo, alguns países que procuram abastecer-se de carvão em localizações mais remotas e situações idênticas no caso do petróleo e do gás natural.

A breve trecho, os preços ameaçam causar uma disrupção ou um atraso na transição para fontes mais 'limpas' de energia, assinala a instituição financeira. Se, por um lado, vários países anunciaram planos para aumentar a produção de combustíveis fósseis, por outro, os valores elevados dos metais também estão a encarecer o custo das energias renováveis, que dependem de matérias-primas como alumínio ou níquel.

Neste sentido, o BM insta os políticos a agir de forma pró-ativa de modo a minimizar os prejuízos junto dos seus cidadãos e para a economia global.

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