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FMI volta a cortar previsões para a Zona Euro e vê cada vez maior atraso face a EUA

Descida da inflação não suporta mais que uma ligeira aceleração do PIB em 2025, com quebra industrial e incerteza a minarem a recuperação. Principal risco é não haver margem para reagir a maior abrandamento.

O CBAM arrancou na União Europeia no passado fim-de-semana.
As economias do euro não deverão crescer mais de 1% neste ano, projeta agora o FMI. Michele Tantussi /Reuters
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Pela segunda vez consecutiva, o Fundo Monetário Internacional corta nas perspetivas de crescimento da Zona Euro e lança uma série de alertas. Neste ano, as economias da moeda única mal deverão levantar do cenário de quase estagnação de 2024 e arriscam somar às fragilidades estruturais que já as afligem uma ainda maior divergência face aos EUA, cuja políticas, com Donald Trump na Casa Branca, arriscam secar ainda mais o investimento europeu.

A atualização das Perspetivas Económicas Mundiais do FMI, nesta sexta-feira, aponta para que o crescimento da Zona Euro se fique neste ano por 1%, mal ganhando ritmo face aos 0,8% de subida do PIB estimados para 2024. A nova revisão em baixa representa já, face ao que era esperado pela instituição em julho passado, menos 0,5 pontos percentuais de crescimento, num momento em que a fragilidade industrial e a incerteza continuam a aprofundar-se no espaço do euro.

O cenário para 2026 não é muito melhor, sendo igualmente alvo de revisão em baixa. O FMI espera agora meros 1,4% de subida do PIB do euro.

"Na Zona Euro, é esperado que o crescimento acelere mas a um ritmo mais gradual do que era antecipado em outubro, com as tensões geopolíticas a continuarem a pesar sobre o sentimento", resume a publicação com as novas projeções, destacando "uma dinâmica mais fraca do que o esperado no final de 2024, especialmente na indústria, e maior incerteza política e de políticas".



Nesta atualização, com projeções apenas para as maiores economias, o cenário é agravado para Alemanha, França e Itália. A Alemanha, vinda de uma esperada contração de 0,2% em 2024, leva um corte de meio ponto percentual na projeção de crescimento para 2025, não devendo melhorar o PIB mais do que 0,3%. Já França poderá crescer 0,8%, num corte de três décimas face ao cenário de outubro, e o PIB de Itália deverá avançar 0,7%, também com corte de uma décima.

Em contrapartida, Espanha, o maior parceiro de Portugal, ainda continua a fortalecer as perspetivas, com uma ligeira revisão em alta, de duas décimas, para um esperado crescimento de 2,3% neste ano, mas com abrandamento para 1,8% em 2026.

Sem alterações face às previsões de outubro, os quadros do FMI incluem também as perspetivas para Países Baixos e Polónia, que poderão crescer 1,6% e 3,5% neste ano, respetivamente.

A fragilidade da situação europeia tem como pano de fundo a expectativa de estabilização no crescimento mundial nos 3,3% neste ano e no próximo, muito abaixo da tendência de longo prazo da atividade global e, na verdade, impulsionada pelas melhorias nas previsões de crescimento para os EUA. O FMI traça um cenário de riscos elevados para a economia norte-americana com as esperadas políticas de uma administração Trump, que incluem mesmo a possibilidade de desancoragem das expectativas de inflação, mas o cenário central para este ano inclui para já uma forte revisão em alta no PIB, para 2,7% de crescimento, seguido de desaceleração para 2,1% em 2026.

Por outro lado, a forte incerteza quanto às políticas comerciais em resultado da ameaça de escalada tarifária, vai significar um abrandamento no ritmo das trocas comerciais, de 3,4% para 3,2% neste ano, com o FMI a antever impactos negativos imediatos e desproporcionais no investimento das empresas mais dependentes dos fluxos de comércio internacionais. Ainda assim, espera efeitos transitórios, parcialmente compensados por algum movimento de antecipação de encomendas, nestas previsões que ainda não assumem como pressuposto qualquer medida de política por parte da nova Administração dos EUA.

Em todo o caso, a possibilidade de imposição de novas tarifas por parte de Trump, combinada com maior desregulação expansionismo orçamental nos EUA, oferecem um cocktail de riscos que poderá agravar ainda mais as diferenças de ritmo das economias norte-americana e europeia, indica o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, num comentário no blog da instituição a propósito das nas novas projeções.

Se num cenário central, sem novas medidas, é esperado que a divergência entre EUA e restantes blocos mundiais seja de natureza cíclica, com tendência a dissipar-se, as diferenças face às economias europeias são mais profundas e este afastamento vai perdurar se nada for feito. "Reflete um crescimento da produtividade persistentemente mais forte nos EUA, particularmente mas não exclusivamente no sector tecnológico, ligado a um ambiente de negócios mais favorável e mercados de capitais mais profundos", assinala Gourinchas. "Com o tempo, tal traduz-se em maiores retornos aos investimento dos EUA, aumento do influxo de capitais, um dólar mais forte e os padrões de vida dos EUA a afastarem-se em relação aos de outras economias avançadas".

A somar a esta divergência estrutural, surge a ameaça de as novas políticas da Casa Branca conduzirem a uma maior aumento da procura no país combinado com redução da oferta e, assim, à subida da inflação nos EUA, prolongando os juros elevados e dando maior força ao dólar. O economista-chefe do FMI nota que é isso que os investidores estão a antecipar já desde as eleições norte-americanas de novembro. "Em geral, estes riscos de curto prazo podem levar a ainda maior divergência entre as economias", sinaliza.

Mas há mais riscos para o espaço do euro neste momento que se mantém de elevada fragilidade, apesar de parecer garantido o controlo da inflação. E o principal é para o FMI o risco de as economias da moeda única acabarem por ficar encurraladas nas respostas de política orçamental e monetária a um cenário de maior abrandamento face a uma escalada de juros das dívidas.


"As economias europeias podem abrandar mais do que o esperado, especialmente se os investidores ficarem mais preocupados com a sustentabilidade da dívida pública nos países mais vulneráveis. O principal risco é o de que as políticas monetária e orçamental, em simultâneo, fiquem sem margem de manobra caso a atividade económica empurre as taxas de juro novamente para o seu ponto mais baixo ao mesmo tempo que uma consolidação orçamental insuficiente sobe o retorno pelo risco, restringindo por seu turno a política orçamental", descreve o FMI.




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