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FMI mantém estimativa de crescimento global, mas está mais otimista para Zona Euro
FMI reviu em alta estimativa de crescimento da Zona Euro para 0,9% este ano. Fundo mantém estimativa de crescimento global, embora com composições diferentes (menos crescimento nos Estados Unidos, mais na China). Inflação puxada pelos serviços é preocupação.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) mantém as estimativas de crescimento global, mas mostra-se ligeiramente mais otimista para a Zona Euro, esperando agora que a economia do conjunto dos países da moeda única europeia cresça 0,9% este ano.
Na atualização ao ‘World Economic Outlook’, o relatório anual com estimativas económicas globais, divulgada nesta terça-feira, 16 de julho, o FMI pouco mexe nos indicadores que apresenta. Em termos globais, e tal como esperava em abril, continua a prever que a economia mundial avance 3,2% este ano. E revê em ligeira alta (mais 0,1 pontos percentuais) a estimativa de crescimento para 2025, pondo a economia global a engordar 3,3%.
Mas apesar de a estimativa global se manter, o próprio FMI afirma que "abaixo da superfície houve desenvolvimentos assinaláveis" desde abril, quando apresentou as suas últimas projeções.
Olhando para os grandes blocos económicos, o Fundo mantém as previsões de crescimento para o conjunto das economias avançadas, esperando que avancem 1,7% este ano e 1,8% no próximo. Mas mostra-se menos otimista para os Estados Unidos e para o Japão. A entidade espera agora que cresçam este ano, respetivamente, menos 0,1 pontos (para 2,6%) e 0,2 (para 0,7%) pontos percentuais do que o antecipado em abril.
"Os Estados Unidos dão sinais de arrefecimento, especialmente no mercado de trabalho, depois de um 2023 forte", afirma o FMI.
Entre as revisões em alta (ligeira) está a Zona Euro. O FMI estima que a economia da moeda única cresça 0,9% este ano e 1,5% em 2025, antecipando melhores performances das economias francesa e espanhola. "Depois de uma quase estagnação no ano passado, a economia da Zona Euro deve acelerar", destaca. A previsão de crescimento em França foi melhorada em 0,2 pontos, para 0,9%, e a de Espanha em 0,5 pontos, para 2,4% este ano.
Por outro lado, o Fundo revê em alta, em 0,1 pontos, a estimativa de crescimento do bloco das principais economias emergentes e em desenvolvimento. Espera agora que cresçam, em conjunto, 4,4%, tanto este ano como no próximo. Nas Caraíbas, Médio Oriente e África Subsaariana o cenário é de revisão em baixa, na Ásia emergente e em desenvolvimento acontece o oposto. A instituição vê a China e a Índia a crescerem mais do que o esperado. As revisões em alta são de 0,4 e 0,2 pontos percentuais, para ritmos de 5% e 7% este ano, respetivamente. E frisa que continuam a ser o principal motor da economia global.
Progresso de desinflação abranda
Num artigo que acompanha a atualização do WEO, o Conselheiro Económico e Diretor do Departamento de Investigação do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, mostra-se no entanto preocupado com o abrandamento do processo de desinflação.
"Como em abril, estimamos um abrandamento da inflação global para 5,9% este ano, perante os 6,7% do ano passado, em linha com uma aterragem suave. Mas em algumas economias avançadas, sobretudo nos Estados Unidos, o progresso de desinflação abrandou, e os riscos aumentaram", afirma Gourinchas.
Em causa estão dois riscos, que se tornaram "mais proeminentes": embora a inflação tenha diminuído sem uma recessão, "a má notícia é que os preços sobre a energia e os bens alimentares estão quase em níveis pré-pandemia em muitos países, enquanto a inflação geral não".
Uma razão, destaca o economista do FMI, é que os preços dos bens continuam altos relativamente aos serviços, um legado da pandemia. Isto faz com que os serviços se tornem comparativamente mais baratos, o que aumenta a sua procura relativa - e, por extensão, a necessidade de mão de obra para os produzir. "Está a pressionar os preços e salários nos serviços", avisa Gourinchas.
Por isso, destaca, "os preços dos serviços e a inflação dos salários são duas áreas de preocupação no que diz respeito ao caminho de desinflação". A não ser que os preços dos bens desça ainda mais, "aumentar os preços e os salários dos serviços pode manter a inflação geral mais alta do que o desejado e, mesmo sem outros choques, isto pode ser um risco significativo para um cenário de aterragem suave", frisa o diretor do FMI.
Gourinchas avisa ainda para o risco dos desafios orçamentais, sobretudo nos Estados Unidos, e o "desmantelar" do sistema de trocas comerciais internacionais. "O nosso sistema comercial é imperfeito e pode ser melhorado, mas este aumento de medidas unilaterais não ajuda à prosperidade global", termina.