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Católica prevê contração de 2% do PIB português em 2021 devido ao novo confinamento
O instituto NECEP da Universidade Católica estima que em 2021 a economia portuguesa venha a contrair 2%, contrariando as previsões de crescimento divulgadas até agora por outras entidades. Em 2020, o PIB terá caído 8,4%, o que constitui "o pior registo de sempre nas séries modernas da economia portuguesa".
O Católica Lisbon Forecasting Lab | NECEP, integrado na Faculdade de Economia da Universidade Católica Portuguesa, estima que em 2021 haja uma "contração de 2%" da economia portuguesa. Trata-se de "uma forte revisão em baixa em 4,5 pontos percentuais face à previsão anterior" do próprio instituto.
Esta nova queda do PIB em 2021 não está nos planos do Executivo, nem de nenhuma outra entidade que divulgou até agora previsões sobre a evolução da economia portuguesa. No quadro macroeconómico que acompanhou a proposta do Orçamento do Estado para 2021, o Governo mostrou-se confiante num crescimento de 5,4% da economia.
"A razão principal para esta revisão é a entrada em vigor de um regime de confinamento severo anunciado pelo Governo a 13 de janeiro. Aquilo que era um evento de probabilidade importante, mas baixa, tornou-se uma certeza. Esta previsão assume que a economia em 2021 deverá andar ao nível do terceiro ou quarto trimestres de 2020 se for possível aliviar as medidas de confianmento, mas baixará para valores não muito melhores do que os observados no segundo trimestre do ano passado em confinamentos semelhantes ao que está atualmente em vigor. Tal poderá não ser suficiente para assegurar crescimento económico já este ano", alerta o boletim enviado ao Negócios.
Contudo, o próprio relatório estipula que "a hipótese de crescimento não pode ser excluída à partida", dada a imprevisibilidade da situação pandémica que é, ainda assim, "inferior" à "enfrentada no segundo trimestre de 2020".
Num cenário otimista, Portugal poderá mesmo registar um crescimento do PIB de 3%.
"Em conclusão, a economia portuguesa entra em 2021 num ambiente de elevada incerteza associada à evolução da pandemia, da administração de vacinas e das medidas de confinamento."
Para 2022 e 2023, o NECEP espera um "regreso ao crescimento" de 4,5% e de 3,5% respetivamente.
2020
Em relação ao ano que passou, o instituto da Universidade Católica calcula que "terá havido uma contração de 8,4% do PIB", o que constitui "o pior registo de sempre nas séries modernas da economia portuguesa". O valor fica 0,1 pontos percentuais abaixo da meta traçada pelo Governo no quadro macroeconómico subjacente à proposta do Orçamento do Estado para 2021.
As contas do NECEP têm por base a contração de 9%, em termos homólogos, e de 2,8%, em cadeia, da economia portuguesa no quarto trimeste de 2020. No entanto, estes também são dados provisórios que carecem ainda de consolidação.
Parece difícil imaginar um cenário anual pior, mas o boletim enviado ao Jornal de Negócios revela que "a quebra teria sido ainda pior na ausência das medidas de apoio à economia introduzidas a partir de abril". Dessas, o NECEP destaca "os apoios ao emprego em situação de paragem, redução ou retoma de atividade, moratórias de crédito, concessão de novos créditos subsidiados e medidas de estímulo monetário do BCE".
As previsões dos peritos apontam assim para uma taxa de desemprego anual de 6,8% (abaixo dos 8,7% projetados pelo gabinete de João Leão) e para uma inflação nula (o que coincide com a estimativa do INE para o IPC).
No geral, escrevem os analistas do NECEP, a atividade económica portuguesa evoluiu e está a evoluir de uma forma "muito assimétrica". Se por um lado "os setores da construção, indústria e agricultura estão a resistir relativamente bem", por outro "a fileira do turismo está a ter perdas muito signficativas".
As assimetrias estendem-se também ao comércio a retalho. "O retalho alimentar, excluindo a restauração, resiste, tal como o retalho de bens tecnológicos. Já o restante retalho, incluindo o vestuário e calçado, ou os serviços de proximidade estão a enfrentar perdas severas, embora não tão pronunciadas como no turismo."
Esta "evolução diferenciada entre setores de atividade" consubstancia-se na chamada "recuperação em K", em que algumas atividades económicas, como a construção, registam recuperações notórias, enquanto outras, como o turismo, verificam uma "acentuada crise".
"A situação, porventura, mais dramática é vivida no setor do alojamento que, em novembro, registou um volume de dormidas equivalente a pouco mais de 20%", observa o boletim do NECEP. "Desta forma, a recuperação do setor hoteleiro e similar foi parcial, tendo sido sentida fundamentalmente em agosto, mas ainda assim com quebras próximas dos 50% em termos homólogos. Desde então, tem-se assistido a perdas sucessivas, com níveis de ocupação anormalmente baixos que configuram uma melhoria sofrível face ao 'quase encerramento' de abril e maio."