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Por um mundo renovável

A iniciativa é inédita: pela primeira vez, o Vaticano publicou um relatório que alerta para o perigo das alterações climáticas, apelando a uma "atitude global urgente".

19 de Maio de 2011 às 14:40
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O caminho, segundo os especialistas do Painel das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, passa hoje por uma aposta em força nas energias renováveis que, se bem exploradas, podem suprir 80% do abastecimento energético mundial. Mas a urgência é tanta que os cem locais mais ameaçados do planeta já foram devidamente registados, para mais tarde recordar.

Pela primeira vez na História, um Relatório da Pontifícia Academia de Ciências apela a que todos os países se foquem numa transição urgente para as energias renováveis, medida que deverá ser complementada com outras estratégias para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2). O documento encomendado pelo painel científico do Vaticano declara a necessidade dos governos tomarem medidas imediatas de combate às alterações climáticas, aliando-se assim à comunidade internacional empenhada nesta luta.

No relatório, denominado "Fate of Moutain Glaciers in the Anthropocene", o Vaticano alerta para o perigo das alterações climáticas, avisando que "os humanos têm que tomar acções decisivas para evitar a crise que está para vir". Preparado em conjunto com vários climatologistas, entre os quais o presidente do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, Rajendra Pachauri, o documento do Vaticano apela "a todas as pessoas de todas as nações para reconhecerem os impactos sérios e potencialmente irreversíveis do aquecimento global causado pelas emissões antropogénicas de gases com efeitos de estufa e outros poluidores, e por mudanças nas florestas, nas zonas húmidas, nas pradarias e noutros tipos de terras".

Segundo o documento, "entramos numa nova era geológica que começou quando os impactos do ser humano no planeta se tornaram o principal factor no meio ambiente e nas mudanças climáticas. Pedimos para que todas as pessoas e nações reconheçam os impactos sérios e potencialmente reversíveis do aquecimento global causado por emissões dos gases do efeito estufa e outros poluentes".

Esta análise revela que um trilhão de toneladas destes gases já estão espalhados na atmosfera, e a concentração de CO2 no ar é a mais elevada, em oitocentos mil anos. O Vaticano recorda que anualmente cerca de dois milhões de mortes ocorrem devido à mudança na composição e na qualidade do ar, e que estas mudanças já causaram o derretimento de mais de 50% das geleiras dos Alpes, por exemplo.

O documento sugere ainda que, enquanto as alterações climáticas decorrentes de transformações naturais ocorrem em períodos de no mínimo dez mil anos, as induzidas pelo ser humano são perceptíveis em períodos de dez a cem anos. Acresce que esta realidade se torna ainda mais preocupante ao acontecer num período interglacial, quando a temperatura da Terra já está no seu máximo.

Para mitigar essas alterações, os cientistas do Vaticano recomendam três medidas: reduzir as emissões de CO2 em todo o mundo com urgência; optimizar todos os meios possíveis para atingir as metas globais; e garantir a estabilidade do sistema climático em longo prazo. O relatório conclui que "o custo dessas medidas é pouco em comparação com o preço que o mundo pagará se não agirmos agora".

Recorde-se que no seu discurso de Votos para 2011, proferido na passagem para 2011, o papa Bento XVI já havia destacado os problemas ambientais – com enfoque nas alterações climáticas – como uma das problemáticas emergentes do século XXI.

Só fontes limpas em 2050

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) revela que as energias renováveis poderão garantir cerca de 80% do abastecimento energético mundial, em 2050.

As boas notícias dependem, contudo, da adopção das políticas adequadas, pelo que, como vem sucedendo nesta área, é necessário que os governos a nível mundial – particularmente dos países desenvolvidos – assumam um compromisso sério e a longo prazo, que permita proceder, de facto, a mudanças no sistema energético capazes de inverter a actual realidade: de toda a energia consumida na Terra, apenas treze por cento se refere a renováveis, segundo o relatório do IPCC apresentado em Abu Dhabi, nos Emiratos Árabes Unidos.

O uso de lenha e outras formas de biomassa nos países desenvolvidos contribuem para cerca de 60% destes resultados, avança o documento.

Se bem aproveitado, o potencial de opções renováveis, como parques eólicos, painéis solares, biomassa ou barragens, seria suficiente para suprir as necessidades energéticas globais, conclui o painel científico da ONU, sublinhando que, para tanto, seriam necessários investimentos em novas infra-estruturas e políticas, o que custaria apenas 1% do PIB mundial, alerta o IPCC. Segundo os especialistas, atingir um objectivo fixado nos 77% custaria 5,1 triliões de dólares americanos até 2020, quantia que subiria para 7,2 triliões de dólares, entre 2021 e 2030.

Se o sector de produção de energia limpa crescer de modo a dar resposta a três quartos da procura de energia em todo o mundo, "as tecnologias das renováveis podem, claramente, dar ao mundo mais energia do que alguma vez podemos precisar, e com um preço muito competitivo", salienta Steve Sawyer, do Global Wind Energy Council.

O documento dedicado às Energias Renováveis e à Mitigação das Alterações globais do clima (como o aquecimento global, por exemplo) revela, ao longo dos últimos anos, um bom crescimento da produção de energias renováveis que, no final de 2009, satisfaziam 12,9% da demanda energética mundial.

O IPCC estima que "com as políticas adequadas e o investimento necessário", nos próximos quarenta anos esse contributo pode aumentar até aos 77%. A meta é ambiciosa mas dela depende um futuro mais ou menos sustentável, onde as fontes de energia limpa terão de ganhar terreno se quisermos atingir níveis de gases com efeitos de estufa suficientemente baixos para manter a temperatura global do planeta dentro do limite de segurança estabelecido na Cimeira do Clima da ONU, em Cancún, para evitar catástrofes provocadas pelas alterações climáticas, ou seja, um aumento de dois graus no máximo.

O relatório elaborado por 120 investigadores destaca a importância do sector da Energia Eólica, actualmente responsável por 2% da procura global de electricidade, o que é particularmente relevante para o mercado português, que aposta cada vez mais na energia do vento. Para os especialistas do IPCC responsáveis por esta que é a primeira análise pormenorizada das energias baixas em carbono a cargo do IPCC, este valor deverá ascender aos 20%, até 2020 e pode, só por si, suprir a totalidade das necessidades energéticas.

Já a energia solar poderia superar, em várias vezes, estas necessidades, conclui o organismo das Nações Unidas. Mas a energia geotérmica e a das ondas "não deverão contribuir significativamente para o fornecimento global de energia antes de 2020", conclui-se também.

Incluindo a análise de 164 diferentes cenários científicos futuros, a partir de vários níveis de fontes de energia renovável e de um conjunto de factores sociais e ambientais inevitáveis, o estudo do IPCC promove, antes de mais, os benefícios da aposta nestas fontes de energia menos poluentes, cujo uso poderá permitir a não-emissão de 220-560 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera, com resultados positivos fundamentais e urgentes, tanto no combate às alterações climáticas, como nos níveis de qualidade do ar, cuja melhoria teria importantes impactos para a saúde humana, cada vez mais afectada por doenças crónicas do foro respiratório, como a asma.

Organizações ambientalistas como a World Wide Fund já elogiaram a iniciativa do Painel Intergovernamental da ONU, ao produzir um relatório que apela à aposta no papel das energias renováveis, em oposição aos combustíveis poluentes, como o petróleo e o carvão: "estamos muito satisfeitos quanto ao resultado" disse à Reuters Jean-Philippe Denruyter, dirigente da WWF.

Para ler o artigo na íntegra: http://www.ver.pt/conteudos/verArtigo.aspx?id=1207&a=Geral


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