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Portugal vai pedir ajuda externa. A notícia que há cinco anos caiu como uma bomba

Há cinco anos o Negócios fez manchete na edição digital com o título: “Portugal vai pedir ajuda externa”. Eram exactamente 18:02 quando o Negócios deu esta notícia exclusiva que de imediato correu mundo e desencadeou a oficialização do pedido de ajuda financeira internacional do então Governo liderado por José Sócrates. Releia a notícia e a onda de reacções que ela originou.

6 de Abril de 2011  - Portugal pede ajuda externa. Teixeira dos Santos entende que Portugal tem de pedir ajuda já, de acordo com informação revelada, por escrito, ao Negócios. Sócrates, depois de reunir com os ministros, confirma o pedido de ajuda.
Ricardo Oliveira
Negócios 06 de Abril de 2016 às 14:37
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A notícia tal como foi publicada a 6 de Abril de 2011:

PORTUGAL VAI PEDIR AJUDA EXTERNA

 

O ministro das Finanças entende que Portugal tem de pedir ajuda já. Em resposta por escrito a perguntas colocadas pelo Negócios Fernando Teixeira dos Santos afirma que "é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu".

 

Fernando Teixeira dos Santos considera que Portugal precisa de pedir ajuda, num conjunto de perguntas feitas por escrito.

Negócios: Portugal deve pedir ajuda já, conforme apelam os banqueiros e os economistas em geral? A dimensão da dívida que se tem que pagar daqui a um ano não o preocupa?

Fernando Teixeira dos Santos: O país foi irresponsavelmente empurrado para uma situação muito difícil nos mercados financeiros. Perante esta difícil situação, que podia ter sido evitada, entendo que é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à actual situação política. Tal exigirá, também, o envolvimento e o comprometimento das principais forças e instituições políticas nacionais.

JdN: Como avalia os resultados do leilão de hoje, nomeadamente no que respeita às taxas de juro?

FTS:
O leilão de hoje expressa bem a deterioração das condições dos mercados após a rejeição do PEC. A procura externa é bem menor e as taxas reflectem o agravamento, sem precedentes, registado nas últimas semanas em virtude do aumento da incerteza que paira sobre o país.

JdN: Quem foram os compradores (mais portugueses ou estrangeiros) e se o Governo está a dar orientações às empresas públicas (seguradoras e Fundo da SS) para comprarem dívida pública?

FTS: A colocação foi em mais de 90% doméstica repartida por várias entidades. A Segurança Social não adquiriu dívida neste leilão.

JdN: Portugal tem condições de encontrar os recursos necessários para pagar as suas dívidas (do Estado e das empresas públicas) até que o novo Governo entre em funções? E qual é o montante dos compromissos do Estado até ao Verão?

FTS: O Ministério das Finanças tem estado vigilante e diligente no acompanhamento da situação dos mercados financeiros e da sua repercussão nas condições gerais de financiamento do país. Apesar das visíveis e gravíssimas consequências resultantes da crise política aberta pela rejeição do PEC, Portugal honrará os seus compromissos financeiros tomando, para o efeito, as iniciativas necessárias de modo a assegurar os meios indispensáveis.

O FILME DO DIA 6 DE ABRIL DE 2011
O longo dia, de 6 de Abril de 2011, começou, como todos os outros, cedo no Negócios. Logo com um sinal de aviso. A banca, nas entrevistas dadas nos dias anteriores, deixava claro o que queria. Ajuda externa. O dia 6 de Abril era, também, dia de venda de títulos de dívida pública de Portugal. Tudo se conjugou.

 

A banca deixara já, nos dias anteriores, o seu aviso. "Banca avisa que crise agravada tira margem negocial a Portugal", titulava o Negócios.

 

Os avisos da banca continuaram pela manhã: "Presidente da APB considera "urgente" pedido de ajuda à Europa".

 

Ainda antes do leilão, outras vozes, desta feita de fora do País, continuavam a falar de ajuda externa: "Moody’s: Pedido de ajuda pode "desbloquear acesso a financiamento à banca". 

 

Até do FMI ecoavam declarações. "Situação de Portugal "está nas mãos do governo português".

 

O leilão

Perto das dez da manhã realizava-se o leilão da dívida pública. O Negócios titulou assim essa emissão: "Juros disparam em emissão de dívida de curto prazo". Emissão que mereceu, ainda durante a manhã, a reacção do Ministério das Finanças: Finanças: Taxas de juro mostram que "danos de rejeição do PEC são irreparáveis".

 

Ainda não havia pedido de ajuda e já muitas vozes reagiam a este leilão e pediam ajuda, publicamente, mesmo antes dela ser formalizada. João César das Neves: "Andámos a dançar na borda do vulcão e agora caímos lá dentro".

 

Medina Carreira: "No curto prazo é ver se não nos falta dinheiro para comer".

 

Cantiga Esteves:"Estamos muito perto do precipício e a dar passos em frente".

 

Negócios noticia pedido de ajuda

O dia foi todo de declarações sobre o que Portugal devia fazer. Mas quem ditava as regras falou por volta das seis da tarde. Teixeira dos Santos, ministro das Finanças à data, declarava ao Negócios que Portugal ia pedir ajuda.O Negócios escreveu em letra maiúscula:PORTUGAL VAI PEDIR AJUDA EXTERNA. É esta notícia que contém a entrevista a Teixeira dos Santos onde fazia a revelação.

 

A partir deste ponto não havia volta. O conselho de ministros ia fazer uma reunião extraordinária e José Sócrates falaria mais tarde ao país

 

Mesmo antes dessa declaração, começava-se a descodificar este pedido de ajuda: "Saiba o que quer dizer o ministro das Finanças com o pedido de ajuda".

 

E também houve, logo, reacções. Do presidente da CIP, António Saraiva, que declarou: "É o desfecho inevitável".Mais patrões. Empresários dos têxteis e a ajuda externa: "Não resta outra alternativa".

Do turismo: CTP - "Este era o único caminho possível".

 

Reacções de analistas. Filipe Silva, do Banco Carregosa, declarava: "Este pedido de ajuda externa vai ter impacto imediato no mercado de dívida".

 

E, logo que foi possível, de partidos. PCP: "O caminho passa por uma renegociação da dívida" e Bloco de Esquerda: pedido de ajuda vai "mergulhar o país numa recessão".

 

A Associação de Freguesias também não perdeu tempo: "Quem governa deve ter consciência dos erros que cometeu".

 

José Sócrates comunica decisão 

Passava já das oito e meia da noite quando o então primeiro-ministro, José Sócrates, falou ao País e confirmou o pedido de ajuda

 

Já era oficial. O país ficou a saber. Todos e rejeição foram palavras que dominaram o discurso de Sócrates.

 

Durão Barroso, que lidera a Comissão Europeia, uma das entidades a quem o pedido de ajuda foi feito, garantiu: Pedido de ajuda será tratado "da forma mais expedita possível".

 

As reacções 

Pedro Passos Coelho, que à época era o líder de oposição, desdramatizava: "Ajuda não deve ser encarada como um acto de desespero mas como um passo para o futuro".

 

A banca que tinha pressionado este desfecho falou, após o anúncio, pela primeira vez, pela voz do presidente do BPI, Fernando Ulrich que defendeu que acto do Governo é de "grande responsabilidade".

 

O presidente da Sonae, Paulo Azevedo, também desdramatizava: "Não é o fim do mundo".

 

Os partidos políticos mais à esquerda também voltaram a pronunciar-se. Bernardino Soares, do PCP, declarava: "Os portugueses têm o direito de decidir que não querem este caminho para o país" .

 

Heloísa Apolónia, d'Os Verdes, defendia que o primeiro-ministro estava "completamente desnorteado".

 

E o Bloco de Esquerda, ainda liderado por Francisco Louçã, denunciava cedências: Governo cedeu ao FMI "empurrado" pela banca.

 

Depois das reacções portuguesas, a leitura do pedido de ajuda por parte dos jornais estrangeiros: "Portugal rende-se".

 

O dia estava a acabar, mas começava-se a fazer as comparações e a questionar-se o futuro. A Irlanda e a Grécia já estavam sob ajuda externa. E aí, as primeiras medidas foram cortes nos salários, pensões e aumento de impostos, escrevia-se nesse dia como alerta para o que aí viria.

 

O que aí viria já se antecipava: austeridade. Mas como o Negócios explicou, no fecho deste dia louco, "primeiro chega o empréstimo da UE e FMI e só depois é negociada a austeridade".

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