Megafone
O Largo do Carmo estava repleto de populares e militares. O ambiente era tenso. No quartel, membros do Governo, incluindo o presidente do Conselho, encontravam-se sitiados e era exigida a sua rendição. A pedido dos militares, Francisco Sousa Tavares sobe a uma das guaritas situadas no exterior do quartel e, de megafone em punho, fala às massas e anuncia: "povo português, vivemos num momento histórico como desde os dias de 1640 não se vive: é a libertação da pátria." Fica para a história como o primeiro político português a falar ao povo, tendo seguido de perto as operações comandadas pelo capitão Salgueiro Maia. Na edição de 24 de abril de 1980 do jornal "A Capital", Francisco Sousa Tavares, que também foi advogado e jornalista, recordava assim esse dia: "Levada pelo sopro da liberdade, a multidão acorria e o quadro do povo expressava ali a vontade da nação contra qualquer veleidade de repressão sangrenta. Maia, audacioso e sereno, pediu-me que falasse ao povo. Fi-lo por duas vezes, uma através dos microfones dum camião da Rádio e, mais tarde, com um megafone, empoleirado na guarita da sentinela do Carmo – imagem de Épinal da Revolução em que o povo e a tropa se abraçavam para libertar a Nação." Imagem de Épinal, explica o blogue "Crónicas Portuguesa", "é uma expressão de origem francesa, aplicada a uma imagem, quando esta assume um significado ingénuo, algo que nos mostra apenas o lado bom de um acontecimento. Francisco Sousa Tavares refere-se às fotografias que lhe tiraram quando, sentado na guarita do quartel do Carmo, falava com um megafone à multidão."