Para que a transição para as frotas elétricas seja bem-sucedida, é necessário robustecer a rede de carregamento existente. A UVE - Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, apresentou recentemente uma proposta para a melhorar o Regime Jurídico da Mobilidade Elétrica (RJME) em vigor, melhorando a infraestrutura de carregamento e facilitando a transição para a mobilidade elétrica.
Primeiramente, a proposta sugere a verticalização da relação entre o Operador Ponto de Carregamento (OPC) e o Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) para carregamento com pagamento local. Isso poderia simplificar o processo de carregamento para os utilizadores de veículos elétricos. Em segundo lugar, a proposta sugere a criação do conceito de tarifa local do posto, o que poderia tornar o carregamento mais económico para os utilizadores, especialmente para aqueles que não têm acesso a um ponto de carregamento em casa ou no local de trabalho. Além disso, a proposta sugere ainda a implementação do carregamento ad hoc, ou seja, carregamento anónimo, sem contrato associado, o que poderá dar aos utilizadores mais flexibilidade.
Nas muitas viagens efetuadas pelos associados da UVE e nas experiências partilhadas com outras associações, Vítor Gomes, membro do conselho diretivo e fundador da UVE, garante que é unânime que, para viagens longas, é preciso haver HUB’s de carregamento, principalmente em vias onde a concentração de veículos é invariavelmente maior, como é o caso das autoestradas. Estes HUB’s de carregamento são estações onde se juntam um grande número de postos de carga rápida e ultrarrápida com diversos serviços associados.
Por outro lado, para o dia-a-dia, é necessário haver soluções para quem não tem lugar de estacionamento cativo onde se possa carregar diariamente os veículos. Devem ser criadas soluções que permitam que o carregamento em potências mais baixas seja bastante mais económico do que o que temos hoje e permitir que o veículo esteja a noite toda (por exemplo) a ocupar o posto. Atualmente, quem não carrega em casa ou no local de trabalho tem menos acesso aos preços que verdadeiramente motivam a passagem para a mobilidade elétrica.
Relativamente ao carregamento específico para veículos pesados, é quase inexistente. Com a exceção, claro, das frotas de veículos pesados de transporte de passageiros (em zonas urbanas), que dispõem dos seus próprios postos de carregamento instalados nas garagens dos operadores.
Mais flexibilidade e menos burocracia
Olhando para o futuro, existem várias oportunidades e desafios. Vítor Gomes, refere que "existe uma janela de oportunidade para as empresas que comercializam, instalam e gerem postos de carregamento de se aproximarem das empresas que estão no processo de transição das suas frotas para veículos elétricos e apresentarem soluções tecnológicas que permitam otimizar a gestão de custos de operação". Adicionalmente, as empresas "têm uma clara oportunidade para baixarem os custos de operação, de cumprirem com as suas metas de sustentabilidade e de contribuírem para a descarbonização das cidades e meios urbanos, tornando-se assim num elemento essencial na nossa sociedade ao fomentar a troca de veículos poluentes por veículos de emissões reduzidas", afirma Vítor Gomes.
Relativamente aos desafios, consideramos que as alterações de comportamento serão as mais difíceis de ultrapassar. Por exemplo, carregar o veículo de noite e não antes de iniciar uma viagem; saber qual o melhor posto para o meu veículo em termos de potência/tempo/custo; programar de forma eficaz as paragens em viagem, etc. "Naturalmente, um veículo elétrico é diferente de um veículo a combustão, mas tal não significa que seja mais difícil de utilizar, é importante ter acesso a informação e formação clara e concisa para facilitar a transição", acrescenta responsável da UVE.
Da mesma forma, as instituições envolvidas em todo o processo de certificação das novas instalações elétricas necessitam ser mais ágeis e menos burocráticas. Vítor Gomes diz que a conclusão da obra de instalação e ligação de um posto de carregamento público deveria demorar algumas semanas e não meses. "Embora tenhamos identificado uma melhoria nesta área, é um aspeto que tem ainda espaço para melhorar", afirma este responsável.