Está a aumentar a procura por formação para executivos, embora, em muitos segmentos do tecido empresarial, esse investimento esteja abaixo do que é necessário para enfrentar os desafios da transformação digital e da globalização dos negócios, sublinham escolas e associações empresariais.
Se, na perspetiva de Benvinda Catarino, diretora da COPRAI – Formação e Desenvolvimento Empresarial da Associação Industrial Portuguesa, tem-se "vindo a assistir a uma renovação do tecido empresarial liderada por uma nova geração de empresários que buscam a atualização permanente dos seus conhecimentos e competências, assim como, dos seus colaboradores", a mesma responsável reconhece que "os níveis de qualificação de uma percentagem significativa de empresários que gerem as micro, pequenas e médias empresas, constituem um condicionalismo ao aumento da produtividade e competitividade das PME". O que constitui, simultaneamente, "um obstáculo na aposta na melhoria das competências dos seus colaboradores", afirma.
Os desafios
Neste contexto, para Isaura Pereira, responsável pela formação na CCIP (Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa), "a formação de executivos em Portugal enfrenta alguns desafios e deve incluir, necessariamente, uma variedade de temas relevantes para a atualidade". "Alguns desses grandes desafios incluem temas como a inovação e empreendedorismo, a sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, o desenvolvimento de competências interpessoais, a governança corporativa e a ética nos negócios e ainda um tema particularmente relevante, a Inteligência Artificial e os efeitos que terá nas nossas vidas, pessoais e profissionais", explica. Para a responsável da CCIP, são estas "as grandes temáticas atuais, que acabam por refletir as exigências do mercado e que destacam a importância contínua da formação dos executivos".
Um diagnóstico largamente coincidente com o da responsável da AIP. Para Benvinda Catarino, "além da melhoria das competências nas áreas da gestão empresarial, existem outos domínios emergentes, na promoção de formação para os empresários/executivos". Segundo a responsável, esses temas "incluem a internacionalização, a transição digital, climática e energética, os instrumentos financeiros alternativos aos tradicionais, as estratégias colaborativas para a adoção de modelos de investigação, desenvolvimento e inovação, e as novas abordagens de liderança, ajustadas à diversidade cultural e geracional das equipas e a novas formas de organização do trabalho".
Preparar executivos para a mudança
Do lado das escolas, os responsáveis sublinham a necessidade de preparar executivos para os desafios simultâneos da sustentabilidade, globalização e transformação digital. A que acresce a mudança acelerada nas formas de gestão e de liderança, induzida pelas novas formas de trabalho, por novos modelos de negócio e pelas novas necessidades de empresas e consumidores. Para João Pinto, diretor da Católica Porto Business School, os principais desafios prendem-se com "a reconfiguração dos processos de globalização". "Cada vez mais a globalização das empresas exige profissionais com competências de gestão internacional, que podem ser adquiridas nestes programas. Adicionalmente, os cursos executivos acompanham as mudanças tecnológicas e a transformação operacional, organizacional e até estratégica que daí decorrem", conta.
Do lado da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Óscar Afonso, o diretor, sublinha que um dos principais temas do momento, na formação de executivos, "é a adaptação de conteúdos e competências a oferecer em face da disrupção tecnológica e da transformação digital no mundo dos negócios, promovidas pela inteligência artificial, a automação, o trabalho remoto e a incorporação crescente de estruturas analíticas, que estão a alterar profundamente os modelos de negócio e as práticas de gestão". Também para José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education, "a Inteligência Artificial é claramente o grande tema atual". Neste contexto, nota o responsável do Iscte, lançaram "a primeira pós-graduação em Inteligência Artificial em Gestão em Portugal e já temos procura para produtos por áreas, setores, quer para Portugal quer para o exterior".
Antecipar tendências
Do lado do ISVOUGA – Instituto Superior de Entre Douro e Vouga, Adelina Portela, diretora da instituição, sublinha que "os temas que marcam mais a formação de executivos são, sem dúvida, o digital e as tecnologias de informação".
Em jeito de síntese, para Marta Ferreira, coordenadora executiva da Portucalense Business School, o grande desafio da formação executiva "centra-se na construção de programas que assentam em tendências futuras". Para a responsável "estas formações devem estar assentes na elevada componente de personalização dos programas, como resposta às necessidades específicas, na flexibilidade, através da oferta de diferentes opções de horários e formatos, e na tecnologia, que representa um dos principais desafios, através do uso de plataformas que recorrem à utilização da Inteligência Artificial, oferecendo experiências mais imersivas, interativas e eficazes".