São muitas as adversidades que continuam a ensombrar as pequenas e médias empresas portuguesas. Navegar nestas "águas agitadas" e superar os desafios é possível, mas exige resiliência, agilidade e estratégia.
No ano passado, as PME portuguesas viveram um cenário em que foi necessário "correr contra o prejuízo". No seguimento de uma profunda recessão mundial após a crise pandémica, tornou-se impreterível a prossecução de um conjunto de medidas com vista à recuperação. O restabelecimento das cadeias de fornecimento, o retorno a uma incerta "normalidade", foram alguns dos desafios aos quais foram colocadas à prova, obrigando-as a reverem os impactos do aumento generalizado dos custos e os seus planos de investimento.
O segundo trimestre de 2022, com a agressão militar russa à Ucrânia, a incerteza geopolítica e a crise energética na Europa, ficou marcado por uma forte desaceleração económica que condicionou a evolução da economia portuguesa.
Em 2023, há que desafiar os desafios
Passe-se a redundância, é urgente fazê-lo. Como? Pedro Otero, coordenador do Gabinete de Estudos na Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas (ANPME), frisa que, apesar de os desafios que se colocam às PME variarem em função do respetivo setor de atividade "a globalização potencializou um desafio comum, incitando as empresas a crescer e a tornar-se competitivas num mercado global". "A otimização das competências de gestão financeira e estratégica e o estabelecimento de parcerias que permitam ganhos de escala e necessidade constante de inovação são premissas basilares de um cenário cada vez mais competitivo e sem fronteiras"
Para o responsável da ANPME, ser criativo na definição de procedimentos que visem uma gestão eficiente das adversidades torna-se "obrigatório para dar resposta à conjuntura atual, nomeadamente o aumento dos custos de financiamento, a potencial redução da procura por bens e serviços, a elevada instabilidade dos preços e o aumento dos riscos de incobráveis devido ao aumento estimado de insolvências a nível mundial previstos para 2023 e para os anos seguintes".
Além do foco no mercado, no crescimento em contraciclo, na profissionalização da gestão, na aposta na inovação e retenção do talento, o ponteiro também aponta no sentido da rápida transformação digital e da incorporação dos princípios de sustentabilidade nos seus modelos de negócio, em prol do aumento da competitividade a nível nacional e internacional. Superar todos estes desafios vai ditar quais as empresas que se vão manter na linha da frente e as que ficarão pelo caminho.
Competitividade e internacionalização
As PME portuguesas desafiam-se a progredir diariamente num contexto de grandes adversidades, sendo competitivas até determinada escala.
Na opinião de Pedro Otero, "os apoios comunitários estão excessivamente direcionados para as médias e grandes empresas", deixando o nosso tecido empresarial em desvantagem. Na verdade, "a consciencialização de que as necessidades das PME são divergentes das necessidades das médias e grandes empresas é imperativa para que se adotem práticas realísticas para cada um dos cenários", ou seja, "maior competitividade implicaria a adoção de medidas de simplificação fiscal, políticas e programas de apoios direcionados exclusivamente às PME."
Assim sendo, apesar de o Orçamento do Estado de 2023 não deixar dúvidas quanto à aposta na internacionalização e de ser inquestionável a necessidade de as PME se contextualizarem e competirem num mercado global, a ANPME considera que "as medidas direcionadas para estas são escassas". A este facto, acresce "a reduzida dimensão de algumas PME que condiciona a implementação de um sistema de internacionalização, pelo facto de obrigar ao cumprimento de metas inatingíveis na fase inicial de arranque do negócio".
O que reserva o futuro?
Ser competitivo e atingir elevados padrões de performance deve constituir o objetivo central de cada empresa, podendo ser atingível independentemente da sua dimensão. Contudo, "o futuro das PME desperta algumas reservas à ANPME, fundamentadas no agravamento das pressões inflacionistas, na crise energética e nas perturbações nas cadeias de abastecimento". Paralelamente, "a recessão nos EUA e na zona Euro, somada à subida dos custos das matérias-primas, ao aumento das taxas de juro e ao crescimento da inflação, gera muita incerteza para 2023 e para os anos subsequentes." Posto isto, acredita num "crescimento exponencial do número de empresas insolventes, sendo previsível uma subida na ordem de 20% face aos anos anteriores."
Os empresários devem preparar-se para um ano difícil que porá à prova as suas capacidades de gestão. E a sua resiliência.