O ano de 2022 foi "muito bom para as exportações de bens e serviços portuguesas". No que toca ao peso que as exportações têm no Produto Interno Bruto Português, ficámos "muito perto de atingir o valor de 50%, algo que depois de passarmos por uma pandemia ninguém assumiria como possível", observa Bernardo Maciel, CEO Yunit Consulting. Tendo em conta esta tendência positiva, "a previsão de uma maior contração da procura interna e o facto de os incentivos financeiros à internacionalização (que não estão disponíveis desde 2020 e que se prevê que abram muito em breve) serem instrumentos fundamentais para dar músculo às estratégias de crescimento da atividade internacional das empresas, é natural que se assista a um reforço da aposta das empresas portuguesas nesta vertente durante este ano."
Já para Hermano Rodrigues, Principal na EY-Parthenon, se por um lado "o abrandamento económico em muitos dos nossos mercados de exportação irá dificultar os processos de internacionalização, a que acresce o aumento do custo do capital e do investimento", por outro, "os efeitos do conflito militar no Leste europeu estão a deslocalizar atividade económica para outras geografias, e isso pode materializar-se numa importante oportunidade para algumas PME portuguesas."
Por sua vez, Nuno Leal, administrador executivo BAI Europa, infere que, dado o enquadramento macroeconómico, 2023 será "um ano menos intenso ao nível de apostas de internacionalização". "Contudo, sendo um ano com condições desafiantes, é um ano para estar atento. Para empresas bem capitalizadas, a incerteza económica poderá trazer oportunidades interessantes para potenciar a entrada em alguns setores/mercados."
"Retrato" das PME portuguesas
O tecido empresarial nacional é, e continuará a ser, essencialmente constituído por PME. De acordo com Pedro Otero, coordenador do Gabinete de Estudos na ANPME, "uma análise retrospetiva aos dados desde 2004 evidencia uma tendência muito idêntica desta realidade."
PME a várias velocidades
Numa análise mais profunda às PME portuguesas, Hermano Rodrigues, Principal na EY-Parthenon, declara haver uma dinâmica a várias velocidades ou, de uma forma simplificada, existem três pelotões de PME:
- Um primeiro populado sobretudo por médias empresas, caraterizado por bons níveis de capitalização, de crescimento e de orientação para o exterior. Algumas delas são empresas de elevado crescimento, que rapidamente se tornarão grandes empresas.
- O segundo é constituído por pequenas e médias empresas muito estagnadas, fortemente afetadas pelos efeitos da pandemia e endividadas. Muitas têm problemas de governação e de sucessão, pelo que dificilmente vão conseguir prosperar e, em muitos casos, sobreviver no tempo.
- Por último, e maioritário em número, um terceiro pelotão de micro e pequenas empresas que têm um papel importante na economia, sobretudo na resposta às necessidades domésticas, mas que jamais vão competir internacionalmente. Claro está que, neste pelotão, também existem startups promissoras e pequenas empresas de elevado crescimento, mas são escassas nas áreas intensivas em conhecimento e tecnologia. Muitas destas empresas estão fortemente descapitalizadas e afetadas pelos efeitos económicos da covid-19 e do aumento das taxas de juro.
Um retrato que evidencia problemas de competitividade, o que leva o Principal na EY-Parthenon a aventar que, nos próximos cinco anos, poucas PME tenderão a tornar-se grandes empresas.
Relativamente à possibilidade do aumento do seu peso no tecido empresarial português, considera que "se a crise económica se agudizar e o desemprego aumentar com significado, o empreendedorismo de sobrevivência vai imperar. Se assim for, o peso das PME poderá aumentar. Mas apenas em número."