Notícia
Um rosé comme il faut
Depois de tanto experimentalismo, alguns produtores perceberam que um rosé deve ser fresco, pouco alcoólico e sem aromas enjoativos. Como este Quinta dos Lagares 2014.
27 de Maio de 2017 às 09:15
No que diz respeito à notoriedade, o rosé faz aquele papel de parente pobre ou de ovelha negra no universo do vinho. E, todavia, é notável na ligação com a nossa gastronomia e com as gastronomias exóticas que temos por cá.
Já se sabe que tudo começou com esse caso histórico chamado Mateus Rosé, que, ainda hoje, e apesar do tempo, é um caso sério de vendas por esse mundo fora. Pelo facto de ter nascido gaseificado e açucarado o vinho passou a levar o carimbo de feminino. E nem o facto de Jimi Hendrix, Paulo VI, Saddam Hussein, Calouste Gulbenkian ou Fidel Castro terem manifestado paixão pelo vinho impediu que, internamente, se classificasse o Mateus Rosé como um refresco de senhoras para acompanhar mariscos e afins.
É claro que, com muita evolução tecnológica, o vinho da Sogrape foi mudando de perfil, apresentando-se hoje com fruta sempre fresca, com menos gás e menos açúcar.
Acontece que, nos últimos 10/15 anos, o perfil dos rosés tem andado em sistema de electrocardiograma. Ou seja, por causa do perfil do Mateus, alguns produtores criaram rosés que eram o seu oposto. Ou seja, pesados, carregados de cor e alcoólicos. Se antes um rosé era feminino, agora seria muito másculo.
Sucedeu que, por pressão de certos críticos de vinhos, os produtores mudaram de fuso e foram copiar o perfil de rosé da região francesa de Provence. Vinhos sérios que resultam de uvas seleccionadas para o efeito (e não do processo de sangria da durante a fermentação de tintos), com tonalidades cromáticas muito abertas (salmonadas) e teores alcoólicos baixos. Em rigor, um rosé, pela sua natureza e pela sua aptidão gastronómica, deverá ter um teor alcoólico à volta dos 12 por cento. Rosés com 14% e 15% de álcool tornam-se excessivos, doces e pesados. Donde gastronomicamente desadequados. Pode ser enervante, mas até nos rosés os francesas são cartas.
Ora, um rosé que nos surpreendeu recentemente - e de que maneira - é este Quinta dos Lagares Mourisco 2015. O Douro não é propriamente um quintal, mas há sempre quintas, castas, vinhos e famílias para descobrir.
Num terroir de excelência que é o Vale de Mendiz (Cima Corgo), a Quinta dos Lagares já teve diferentes vidas, mas agora interessa-nos a etapa em que o casal Pedro Lencart e Isabel Sarmento decidiram explorar os 70 hectares da quinta, repartidos por áreas de vinha, olival e floresta.
Com o apoio de Luís Leucádio como enólogo principal e de Rui Reguinga com consultor, estão no mercado um vinho rosé, um branco, dois tintos, com outro Vinhas Velhas a caminho, bem como um possível Porto Vintage. Se todos merecem nota pela matriz duriense, o rosé é especial a diferentes níveis. Pelos aromas e sabores diferenciados e, acima de tudo, por resultar de uma casta mal amada no Douro e praticamente desconhecida dos consumidores.
Mourisco é uma variedade tinta que existe nas vinhas velhas, mas que, pelo facto, de dar vinhos com pouca cor, deixou de ser interessante numa altura em que domina o famoso quinteto de castas desde os anos 80. Para agravar as coisas, os cachos de Mourisco amadurecem precocemente, pelo que, quando agricultores começam a vindimar as restantes castas, o Mourisco já está em estado de maturação muito avançado.
Depois de, na vindima de 2014, terem constatado esta realidade, Pedro, Isabel e Luís entenderam que talvez não fosse má ideia, na vindima de 2015, apanhar as uvas de Mourisco mais cedo para serem destinadas a um vinho rosé.
Foi uma bela ideia. Não só porque estamos perante o único rosé de Mourisco em Portugal, mas, acima de tudo, porque este é um vinho modelo. Isto é, fresco, com aromas inusitados e nada enjoativos (notas vegetais elegantes, especiarias, fruta e uns toques fumados). Na boca volta a sentir-se tal frescura, sem estrutura e peso do álcool.
Para acompanhar massas, carnes grelhadas, saladas ou sushi, eis um vinho que - mais um - nasce de um feliz acidente. É bem capaz de fazer alguma história no Douro e não só.
Já se sabe que tudo começou com esse caso histórico chamado Mateus Rosé, que, ainda hoje, e apesar do tempo, é um caso sério de vendas por esse mundo fora. Pelo facto de ter nascido gaseificado e açucarado o vinho passou a levar o carimbo de feminino. E nem o facto de Jimi Hendrix, Paulo VI, Saddam Hussein, Calouste Gulbenkian ou Fidel Castro terem manifestado paixão pelo vinho impediu que, internamente, se classificasse o Mateus Rosé como um refresco de senhoras para acompanhar mariscos e afins.
Acontece que, nos últimos 10/15 anos, o perfil dos rosés tem andado em sistema de electrocardiograma. Ou seja, por causa do perfil do Mateus, alguns produtores criaram rosés que eram o seu oposto. Ou seja, pesados, carregados de cor e alcoólicos. Se antes um rosé era feminino, agora seria muito másculo.
Sucedeu que, por pressão de certos críticos de vinhos, os produtores mudaram de fuso e foram copiar o perfil de rosé da região francesa de Provence. Vinhos sérios que resultam de uvas seleccionadas para o efeito (e não do processo de sangria da durante a fermentação de tintos), com tonalidades cromáticas muito abertas (salmonadas) e teores alcoólicos baixos. Em rigor, um rosé, pela sua natureza e pela sua aptidão gastronómica, deverá ter um teor alcoólico à volta dos 12 por cento. Rosés com 14% e 15% de álcool tornam-se excessivos, doces e pesados. Donde gastronomicamente desadequados. Pode ser enervante, mas até nos rosés os francesas são cartas.
Ora, um rosé que nos surpreendeu recentemente - e de que maneira - é este Quinta dos Lagares Mourisco 2015. O Douro não é propriamente um quintal, mas há sempre quintas, castas, vinhos e famílias para descobrir.
Num terroir de excelência que é o Vale de Mendiz (Cima Corgo), a Quinta dos Lagares já teve diferentes vidas, mas agora interessa-nos a etapa em que o casal Pedro Lencart e Isabel Sarmento decidiram explorar os 70 hectares da quinta, repartidos por áreas de vinha, olival e floresta.
Com o apoio de Luís Leucádio como enólogo principal e de Rui Reguinga com consultor, estão no mercado um vinho rosé, um branco, dois tintos, com outro Vinhas Velhas a caminho, bem como um possível Porto Vintage. Se todos merecem nota pela matriz duriense, o rosé é especial a diferentes níveis. Pelos aromas e sabores diferenciados e, acima de tudo, por resultar de uma casta mal amada no Douro e praticamente desconhecida dos consumidores.
Mourisco é uma variedade tinta que existe nas vinhas velhas, mas que, pelo facto, de dar vinhos com pouca cor, deixou de ser interessante numa altura em que domina o famoso quinteto de castas desde os anos 80. Para agravar as coisas, os cachos de Mourisco amadurecem precocemente, pelo que, quando agricultores começam a vindimar as restantes castas, o Mourisco já está em estado de maturação muito avançado.
Depois de, na vindima de 2014, terem constatado esta realidade, Pedro, Isabel e Luís entenderam que talvez não fosse má ideia, na vindima de 2015, apanhar as uvas de Mourisco mais cedo para serem destinadas a um vinho rosé.
Foi uma bela ideia. Não só porque estamos perante o único rosé de Mourisco em Portugal, mas, acima de tudo, porque este é um vinho modelo. Isto é, fresco, com aromas inusitados e nada enjoativos (notas vegetais elegantes, especiarias, fruta e uns toques fumados). Na boca volta a sentir-se tal frescura, sem estrutura e peso do álcool.
Para acompanhar massas, carnes grelhadas, saladas ou sushi, eis um vinho que - mais um - nasce de um feliz acidente. É bem capaz de fazer alguma história no Douro e não só.