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O valor plantado na Borgonha

Uma boa colheita dos míticos vinhos franceses da Borgonha está a levar os índices de investimento a valores recorde. Neste momento, a procura é intensa.

24 de Dezembro de 2017 às 11:00
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Espalham-se os sons da alegria por vastas extensões dos vinhedos franceses da Borgonha, ou seja, onde se recolhe a matéria que dá origem ao "Burgundy". Nos míticos "terroir", proprietários, vinhateiros, associações, "traders" e analistas, além dos conceituados especialistas jornalistas de vinho, miram a uva recolhida, examinam-na, analisam, escrevem os primeiros relatórios. A razão para tamanha felicidade comunal é dupla. Por um lado, esta colheita é boa em quantidade, ao contrário de anos anteriores. Por outro lado, parece haver matéria-prima para grandes vinhos.

As boas notícias chegaram rapidamente a Londres, o centro do mercado do vinho, como investimento e como produto, em garrafa e em futuros, e, a par da cavalgada do mercado bolsista global ou da notável performance do mercado mundial do automóvel antigo, os índices dispararam. O índice mais considerado pelo mercado, o Liv - ex Fine Wine 100, www.liv-ex.com - formado a partir da evolução dos preços no mercado secundário dos 100 vinhos mais procurados pelos investidores, na sua maioria vinhos de Bórdeus e da Borgonha - chegou já a uma valorização em 2017 de 11,3%, um recorde, prevendo-se, que, após registadas as evoluções em Dezembro, apresente uma valorização anual de topo, e uma das melhores de sempre.

A ordem e o conselho por todo o mundo, mesmo para os chineses, que tinham andado arredados do mercado em 2016, é de comprar, comprar, comprar. Não há ainda sinais da criação de uma bolha, mas as notas de recomendação das principais casas inglesas de negociação, como a Berry Bros & Rudd (www.bbr.com), são inequívocas na sinalização do estado agitado dos investidores.

Há vários factores a ter em conta gerados por este cenário. O primeiro é o de que evidentemente há uma euforia financeira global, e os investidores sentem-se extremamente confiantes, como mostram as bolsas financeiras. O segundo é o de que investidores de topo, com disponibilidade para investir largas quantias, continuam a acreditar no potencial de valorização de bens de cotação e avaliação extremamente subjectivas, como é o caso da arte, dos automóveis clássicos, dos relógios de luxo e, claro, do vinho. O vinho é especialmente interessante porque a determinação do seu valor é totalmente subjectiva, e, além disso, é um investimento de enorme risco, porque uma falha na conservação, a partir do momento em que engarrafado e guardado, pode destruir todo o valor.

Mas o mais engraçado de tudo isto é como, apesar de toda a inovação tecnológica em torno do fruto e do seu tratamento, o vinho continua a ser um produto da terra e dependente da natureza, podendo tornar-se num alvo de especulação e valor financeiro. No entanto, o essencial é que, dilemas filosóficos à parte, este pode ser o derradeiro bom investimento de 2017.


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.


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