Notícia
António Mexia: A urgência do equilíbrio
Quando desafiado a recomendar um livro que me tenha marcado e também adequado a este tempo, optei por um dos que sempre me acompanharam
"Não seremos capazes de operar a Nave Espacial Terra com sucesso por muito mais tempo, se não a virmos como uma única nave e o nosso destino como comum. Terão de ser todos ou ninguém."
Quando desafiado a recomendar um livro que me tenha marcado e também adequado a este tempo, optei por um dos que sempre me acompanharam, "Operating Manual for Spaceship Earth" escrito em 1969 por Buckminster Fuller, cientista, arquiteto, matemático, inventor, filósofo, sociólogo, cosmólogo. Verdadeiro espírito renascentista, pode ser considerado o primeiro grande defensor da sustentabilidade, enquanto visão integrada, climática, económica e social, numa ótica de responsabilidade geracional. Este livro visionário trata da grande questão que se coloca hoje de saber se o novo normal será construído a partir do que conseguimos aprender na abordagem aos principais problemas que se põem a prazo: as alterações climáticas, as crescentes desigualdades e a rutura do mercado do trabalho, e de como estão todos ligados.
Pela primeira vez fala do conceito de urgência climática, da necessidade de gerir a Terra de forma a não destruir o nosso habitat, passando pela consciência enquanto utilizadores dos seus recursos. "O nosso motor principal, os processos regeneradores de vida, deverá assim operar exclusivamente a partir dos nossos rendimentos diários em energia dos ventos, mares e água, para além da radiação energética direita do sol" e de transição energética, acrescento.
É um livro sobre a necessidade de adaptar os nossos sistemas construindo um novo modelo que torna o atual obsoleto, sobre o valor da ciência, da invenção, da pesquisa e desenvolvimento, das implicações da automação num mercado de trabalho que respeite cada um. Sublinha a enorme tarefa educacional que tem de ser rápida e imediatamente empreendida para anular o mergulho do Homem no esquecimento.
A abordagem aos efeitos da pandemia e de clima requerem a mesma mudança no foco da performance e eficiência de curto prazo para a resiliência no longo prazo. O presente demonstra que os custos de intervenção de emergência, quando possíveis, são muitíssimos maiores do que a ação preventiva e reforça a noção de que o nosso sucesso é para todos ou para ninguém.
Um mundo em que o conhecimento e a consciência têm de seguir a mesma direção, sendo tecnicamente possível garantir a todos na terra um nível de vida muito melhor do que antes, tornando o egoísmo desnecessário, e no qual a integridade é a essência de tudo que tem sucesso.
Já temos este livro connosco há 50 anos.