Em 1978, o autor de ficção científica Philip K. Dick deu uma conferência com o título "Como construir um universo que não se desfaça dois dias depois". Dick defendia que vivemos hoje "numa realidade na qual realidades espúrias são fabricadas pelos ‘media’, pelos governos, pelas grandes empresas, pelos grupos religiosos, pelos partidos políticos".
Perante esta construção e disseminação ininterrupta, Dick perguntava: "O que é real? Porque é que somos bombardeados incessantemente com pseudorrealidades fabricadas por pessoas muito sofisticadas, usando mecanismos eletrónicos muito sofisticados? Não desconfio dos seus motivos, desconfio do seu poder", dizia.
Para o escritor, este poder tinha algo de "assombroso". "É o que permite criar universos integrais, universos da mente", capazes de interferir na "definição de um humano autêntico", já que "(…) o bombardeamento de pseudorrealidades permite produzir muito rapidamente humanos não autênticos, humanos espúrios, tão falsos como os dados que os pressionam e que vêm de todos os lados".
Talvez pertençamos neste momento – talvez tenhamos começado a pertencer na última década e estamos apenas no princípio de pertencer – à realidade global proposta por Philip K. Dick, uma vez que nos encontramos inundados por "dados (…) vindos de todos os lados", usando "mecanismos eletrónicos muito sofisticados". Por outras palavras, talvez pertençamos a uma metarrealidade global, formada por várias realidades sobrepostas, assentes numa revolução em desenvolvimento incontrolável dos modos de recolher, produzir, controlar e disseminar grandes volumes de dados e informação.
Dos "petabytes" aos "yottabytes"
Assim, como referem os académicos Sabina Leonelli e Luciano Floridi, há "todo o produto de atividades de pesquisa colhido, guardado e disseminado com o objetivo de ser usado como evidência para conhecimento". Os dados aparecem como "ativos de informação, caracterizados por um volume elevado, uma velocidade e uma variedade tal que requerem tecnologia e métodos de pesquisa específicos para a sua transformação em valor". Por outras palavras, a informação garante matéria-prima e objetivo estratégico, e a sua posse, controlo e domínio são essenciais para o processo revolucionário em execução global.