Do pombal da Ana é fácil reaprender a contemplar. Há horas em que só uma aragem mexe. Compreende-se que Rui veja o paraíso quando cresce no seu quintal uma mangueira ao lado do tomate-coração-de-boi. A música do espanta-espíritos do alpendre de Paulo e Daniela convida à espiritualidade. O crepúsculo visto da quinta de Pedro pede que se respeitem os ciclos do dia.        

Todos fazem a apologia do campo, conjugando as atividades profissionais com uma busca daquilo que interessa: saber os nomes dos vizinhos, promover a entreajuda e desbloquear a insatisfação que traziam das grandes cidades. Nas pequenas comunidades acontecem coisas grandes.    

"Provocar encontros" 

Quando, em 2017, saiu do Teatro São Luiz, onde era diretora de comunicação, Ana Pereira queria levar novos públicos ao teatro e fundou o projeto "Primeira Vez". Teimava que o teatro não haveria de ser só para meia dúzia de privilegiados. A morte de um grande amigo fê-la repensar a vida e respetivos tempos. "Como se quisesse viver por ele." Queria encontrar um lugar que não ficasse muito distante de Lisboa para continuar perto dos pais e, em simultâneo, respeitar os seus tempos de descanso, trabalhar menos e ter mais qualidade de vida.