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Mouraria no centro do furacão extremista

Desde cedo que a fila para o elétrico 28 se enche de gente junto à Capela de Nossa Senhora da Saúde e do Centro Comercial da Mouraria. À espera da viagem percebe-se um leque de várias nacionalidades, etnias, cores, credos e culturas. Enquanto o transporte não chega, há conversas e olhares que se cruzam, tal como no bairro lisboeta no centro das atenções.
Augusto Freitas de Sousa e João Cortesão - Fotografia 02 de Fevereiro de 2024 às 11:00

À porta do seu restaurante, enquanto bebia o chá com leite, Malik orgulhava-se de ter oferecido água e sumos aos fiéis que seguiam na procissão católica e aos manifestantes que pelas ruas da Mouraria organizam marchas. Ouviu falar numa manifestação este sábado e garante que teria o mesmo gesto: "Às vezes até damos doces e toda a gente gosta", afirma, num inglês arrastado onde se percebe o sotaque asiático. Vive em Portugal há poucos meses, depois de ter estado na Alemanha e na Grécia, mas foi uma "boa surpresa" porque "os portugueses são muito simpáticos e o clima é muito bom", diz entre sorrisos.

 

Malik é paquistanês e fez questão de chamar Banigala ao seu restaurante, uma zona no seu país natal onde o seu ídolo político, o antigo primeiro-ministro Imran Khan, construiu um hospital e "onde todos são atendidos sem pagar". Em todo o restaurante – no nome, no vidro e nas paredes do interior – há uma sucessão de imagens do político que também foi capitão da seleção nacional de críquete paquistanesa. Com as mãos, Malik vai tentando descrever um mapa para explicar que o seu Paquistão está na mesma zona da Índia, do Nepal e do Bangladesh, e que todos têm hábitos e culturas semelhantes, tal como os seus vizinhos da Mouraria em Lisboa.



Malik orgulha-se de distribuir água e sumos nas procissões e manifestações.


No restaurante Banigala, na Rua do Benformoso, não se serve álcool, tal como na esmagadora maioria dos estabelecimentos na zona, detidos em grande parte por paquistaneses, nepaleses ou bengalis que partilham a mesma religião. Os talhos Halal, onde a carne provém de animais abatidos exclusivamente por muçulmanos, disseminam-se por entre lojas que raramente têm apenas um negócio.

 

No Vip Saloon 6 Travels, dois agentes da PSP esperam pacientemente a sua vez para cortar o cabelo, mas ao balcão também se pode perceber como reservar as viagens que levam os imigrantes a visitar a família. No Al Faruk Travels & Telecom, o autocolante onde se lê "Agente autorizado Money Gram" indica que se pode receber e enviar dinheiro. Mas também é possível comprar uma extensão elétrica, uma capa de argolas, um cartão pré-pago da Lycamobile, uma manta polar, um telemóvel, um conjunto de post-it ou um bilhete de avião da Turkish Airlines. No Zinda Bazaar Cash & Carry vendem-se botijas de gás, abóboras, regadores em plástico, abacaxis e coadores em metal, entre milhares de outros artigos.

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