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Filipa Pinho: A motivação para o emigrante voltar é mais afetiva do que financeira

Filipa Pinho investiga os fenómenos migratórios. Os estudos mostram que “há uma correspondência direta entre as oportunidades no mercado de trabalho e os ciclos de migração”, diz a investigadora associada do Observatório da Emigração e integrada no CIES-ISCTE. Quando participou no estudo “Empreender 2020 - o regresso de uma geração preparada”, percebeu que não são programas, como o Regressar, que trazem os portugueses que estão lá fora de volta. Os baixos salários são um bloqueio e o emigrante está “numa negociação constante” entre a razão e o coração.
Filipa Lino e Bruno Colaço - Fotografia 09 de Agosto de 2024 às 11:00

O Atlas da Emigração Portuguesa revelou que Portugal é um dos países do mundo que, proporcionalmente, tem maior número de emigrantes. O que leva os portugueses a partir? O desconforto ou a sede de descobrir o mundo?

Não há muitos estudos qualitativos recentes que nos permitam perceber porque é que os portugueses emigram. As razões da emigração e da imigração podem ser diversas. Existe aquela ideia de que as pessoas emigram à procura de melhores condições de vida. Mas o que é isso de melhores condições de vida? É muita coisa.

Para cada pessoa pode ser uma coisa diferente.
Exatamente. Atualmente, é muito mais fácil emigrar, nomeadamente porque estamos num espaço de circulação livre. Os portugueses podem movimentar-se nos vários países da Europa, ter experiências profissionais e depois voltar. Aquilo que se nota nos estudos feitos pelo Observatório da Emigração, é que há uma tendência para a emigração subir quando as taxas de desemprego são elevadas. E, nesses contextos económicos, desce também a imigração. Há uma correspondência direta entre as oportunidades no mercado de trabalho e os ciclos de migração. Esta última emigração intensificou-se no período da crise da troika, da austeridade e da crise das dívidas soberanas. Houve um aumento grande da emigração nessa altura que, entretanto, já baixou. E há outra coisa também que explica a saída de jovens portugueses, que é o facto de muitos estudantes do ensino superior terem experiências de mobilidade no estrangeiro, por exemplo, através do programa Erasmus. Alguns desses estudantes, mais tarde, quando acabam os cursos, acabam por querer procurar trabalho fora.

O facto de hoje existirem as companhias aéreas "low-cost" e da tecnologia facilitar a comunicação com a família, retirou aquele peso emocional do retorno a casa no chamado "meu querido mês de agosto"? Já existe um fluxo mais fluido ao longo do ano e não tão concentrado nesta altura?
Continua a haver o chamado "querido mês de agosto" para um tipo particular de emigrantes - os mais antigos, que residem em França ou na Suíça. Mas os mais jovens, possivelmente, vêm com mais regularidade. Depende também das profissões que exercem e da possibilidade que têm de trabalhar remotamente. Tudo isso influencia.

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