Foto em cima: Eira Casal de São Brás - Ilustração Portuguesa -1911
A bicicleta do padeiro António é o cartão de visita da exposição "Trigo na Eira, Pão na Masseira - Uma história do pão na Amadora", que está no Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira, sede do Museu Municipal de Arqueologia, até dia 7 de maio de 2023. "O senhor António Martins Rodrigues foi o último distribuidor de pão porta a porta daquele território; muitas pessoas ainda se lembram de o ver passar de bicicleta, com um grande cesto", conta ao Negócios a arqueóloga Leonor Medeiros, comissária desta exposição que nos mostra uma Amadora rural, fértil e abundante em cereais, sobretudo de trigo.
"Existiram cerca de uma centena de moinhos de vento e uma dezena de azenhas no território, construídos para abastecer Lisboa e acabando também por servir a população local. A pedra para as mós era retirada das pedreiras de calcário envolventes, a que se dava o nome de alveiras ou trigueiras, usadas para moer o abundante trigo aqui cultivado", lê-se no catálogo da exposição. "Não havia moinhos sem eiras, e, na Amadora, estas eram de terra batida. Na época certa, famílias de perto e de longe iam para lá trabalhar."
"Pequenos lavradores seareiros, trabalhadores do campo, moleiros e padeiros eram as ocupações da maioria da população nos finais do século XIX", descrevia António dos Santos Coelho na obra "Subsídios para a História da Amadora" (1982), citado no texto da exposição. "Em março ou abril, semeavam os milhos e começavam as mondas dos trigos. Em maio, procedia-se à ceifa dos fenos… Em junho e julho, ceifavam o trigo, faziam molhos e acarretavam-nos para as eiras, fazendo medas".
O ciclo artesanal do pão é contado ao detalhe: depois de separados da palha, os grãos são levados para os moinhos e transformados em farinha. A farinha moída, peneirada e separada por diferentes tipos, é ensacada e distribuída pelas famílias, padeiros ou fábricas. Depois de misturada com fermento, sal e água, a massa de pão é deixada "a descansar" para levedar. A seguir, é cortada e moldada. Da sua cozedura, resulta o nosso pão.