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É frequente as notícias (alarmantes) sobre o termos atingido o limite dos recursos do planeta ou a informação de que a temperatura está a aumentar acima do previsto. Significa que a situação é mais grave do que se previa e que as medidas previstas, embora importantes, talvez não sejam suficientes. É com base nesta premissa que surge uma nova forma de abordar a questão. Tem o nome de economia regenerativa. A definição diz que esta é o sistema que deseja substituir a lógica linear de exploração de matérias-primas, produção e consumo, por uma lógica circular que se preocupa com o propósito e o processo de procura de matérias-primas, produção, consumo, reutilização, reaproveitamento, reciclagem e a exclusão final do produto.
Fundador do Capital Institute
John Fullerton, fundador do Capital Institute, é um defensor desta nova abordagem. O executivo afirma que a economia regenerativa baseia-se em três premissas. A primeira é que a economia humana é um sistema vivo. A segunda é que todos os sistemas vivos se comportam de acordo com padrões e princípios que são compreendidos pela ciência mais recente. E a terceira premissa é que, para que a nossa economia humana seja sustentável e saudável a longo prazo, também ela terá de seguir esses mesmos padrões e princípios que descrevem o funcionamento da vida. "A questão é que tudo aquilo a que chamamos crise política são essencialmente os sintomas e as consequências da gestão de uma economia global que é atualmente muito grande e tem um impacto extraordinariamente grande nas pessoas e no planeta", afirma, acrescentando que "estamos a gerir o sistema como se fosse uma máquina reducionista, em vez de fazer parte de um sistema vivo".
A isto Nuno Gaspar de Oliveira, CEO da NBI, acrescenta que "a economia regenerativa é conseguirmos conciliar a ciência do progresso e bem-estar com o retorno de algo positivo para resolver os problemas que nos ultrapassam, que são os problemas nomeadamente de clima e de natureza".
Isto não significa parar com as medidas anunciadas. Acontece que as mesmas atenuam o problema, mas não o resolvem. Razão pela qual o executivo defende uma mudança de paradigma em que se olhe para a economia de uma forma holística. Na prática significa deixar de "ver a economia e as partes da economia a que chamamos empresas ou agências governamentais como se fossem máquinas a otimizar, e passar a pensar nelas como organismos, onde a chave é criar as condições para a saúde e desbloquear aquilo a que chamamos potencial regenerativo, que é, na verdade, o processo que descreve como a própria vida funciona".
Sobre as medidas propostas pela Comissão Europeia, a opinião de John Fullerton é a de que são "o produto da mesma resposta mecanicista, reducionista, de detenção, da desordem, que é absolutamente essencial". Na prática trata-se "de uma resposta necessária, mas insuficiente". Na opinião do fundador do Capital Institute os europeus estão mais avançados e informados. E dá o exemplo do movimento do decrescimento. "Precisamos, de facto, de reduzir muitas coisas, a começar pela indústria fóssil e pela indústria alimentar", aponta. O executivo dá ainda o exemplo da carne, referindo que esta se tornou o demónio do movimento de sustentabilidade. "Mas o problema não é a carne. O problema é o sistema industrial da carne", afirma.
Na mesma linha, o CEO da NBI aponta que a Europa é a grande líder em termos do pensamento transformador e lembra que há 600 anos que o resto do mundo tenta imitar a Europa. Sobre as medidas propostas pela Comissão Europeia o gestor considera que poderiam ir mais longe. No entanto acrescenta que o importante é que sejam levadas a cabo e bem. Porque seria muito pior se nada fosse feito. Dando o exemplo da lei do restauro da natureza (Nature Restoration Law), Nuno Gaspar de Oliveira afirma "vamos parar de criticar aquilo que tivemos que ceder para tentar ter aqui alguma paz ideológica na Europa". "Se nós executarmos aquilo que está na Nature Restoration Law, na lei do restauro da natureza, se fizermos tal como está, mesmo meio decepado, vai ser muito melhor do que aquilo que nós fizemos até agora em termos de valorização e integração da natureza no coração da economia", explica, acrescentando que não tem a ver com proteger espécies nem habitats. "A Nature Restoration Law vai muito além disso, tem a ver com integrar a natureza no coração da decisão, no coração da estratégia dos países".
CEO da NBI
Nuno Gaspar de Oliveira lembra ainda que nos últimos 10 anos de progresso humano "nunca vivemos tão bem, nunca tirámos tantas pessoas da fome e da miséria, nunca pusemos tantas pessoas a viver debaixo de um telhado, nunca atribuímos energia a tantas pessoas". Uma realidade que convive com uma enorme desigualdade e um sistema financeiro que, por vezes, "parece estar preso por arames". "A questão é que o nosso modelo de sucesso tem muito a ver com um modelo de desequilíbrio", explica o CEO da NBI. Acontece que o planeta (os seus recursos) não é inesgotável. "Chegamos a um ponto em que é preciso regenerar, ou seja, já não basta fazer menos mal, já não basta pensar em impactos ambientais, já não basta ser carbono zero". É a pensar nesta vertente da regeneração que o executivo defende que "os humanos precisam de continuar a sua jornada de progresso e bem-estar, mas têm que o fazer, estabilizando o sistema".
É certo que a "agricultura regenerativa toma um bocadinho a dianteira desta lógica da economia regenerativa, mas é apenas um ponto", refere Nuno Gaspar de Oliveira, que acrescenta que "se pensarmos que é um tema exclusivamente de produtividade (primária), então na minha ótica vamos falhar, porque precisamos de entender também que os próprios mercados precisam de ser regenerativos".
E aqui entra-se no ponto do que o consumidor está disposto a pagar para. "Não faz sentido eu ter produtos e serviços que são mais sustentáveis porque produzem menos emissões, causam menos danos no ambiente e na sociedade, e pagar mais por eles". A lógica deveria ser a inversa. "Os produtos que causam danos é que deviam pagar mais, porque se causam um dano deviam pagar a reparação desse dano".
A tudo isto soma-se a extrema velocidade a que o ser humano vive atualmente. E que, inclusive, põe em risco a sua saúde física e mental. "Nos últimos 5 anos, pela primeira vez no mundo ocidental, nós vivemos um decréscimo da esperança média de vida", aponta Nuno Gaspar de Oliveira, acrescentando que isso é um mau indicador, mesmo porque, em muitos casos, está acompanhado de uma pior qualidade de vida. E que também se reflete nas gerações mais jovens, que "têm menos oportunidades do que havia há 30 anos".
Feitas as contas ainda vamos a tempo de reverter a situação? "Em comparação com o que queremos, já é demasiado tarde", afirma John Fullerton, apontando que já há pessoas a morrer. "Mas isso não significa que seja tarde demais", acrescenta, referindo que a solução passa pela ação de milhares de pessoas (despercebidas), que estão a regenerar prados, florestas, aquíferos, oceanos... "É a ação coletiva de milhões e, em última análise, de milhares de milhões de pessoas e o desencadear da mudança desta abordagem reducionista e mecanicista, que criou grandes progressos ao longo da era moderna, não será feito por líderes de grandes instituições", aponta.
2 - Existem padrões e princípios universais - "primeiros princípios" - que podemos definir e que descrevem, em traços gerais, as qualidades e tendências do funcionamento da vida.
3 - Para que a economia humana seja sustentável a longo prazo, deve aproveitar o processo regenerativo, alinhando-se com estes mesmos "primeiros princípios" dos sistemas vivos.
Fonte: capitalinstitute.org