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Um terço dos rios no mundo está severamente degradado

Novo estudo internacional liderado por instituições portuguesas mostra perda de vários serviços prestados pelos ecossistemas e sugere estabelecer áreas protegidas para os rios.

27 de Outubro de 2022 às 08:35
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Um estudo internacional publicado na revista "Global Change Biology" mostra preocupantes níveis de degradação dos rios em todo o mundo, com um terço a apresentar sinais de estar severamente degradado.

A má qualidade biológica dos rios nas regiões estudadas reflete uma perda global de biodiversidade de água doce, alterações na distribuição das espécies, simplificação da estrutura e composição das comunidades aquáticas e aumento das espécies não nativas invasoras, refere o estudo. Tais alterações perturbam o funcionamento do ecossistema devido à alteração das proporções das características funcionais disponíveis das espécies. Consequentemente, a capacidade dos ecossistemas fluviais para fornecer serviços ecossistémicos às populações humanas é reduzida, incluindo perdas na regulação climática, qualidade da água, regulação do carbono, abastecimento de água e alimentos, recreação e prevenção de doenças, explica a análise.

Liderado por Maria João Feio, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), o estudo "Conjuntos de peixes e macroinvertebrados revelam degradação extensiva dos rios do mundo" reuniu três dezenas de investigadores de todo o mundo e visou analisar o estado biológico dos rios, da forma mais ampla possível e com base em dois bioindicadores usados na monitorização dos rios, os macroinvertebrados bentónicos e os peixes.

Assim, foram analisados conjuntamente resultados de programas de monitorização de 45 países (64 regiões de estudo) de todos os continentes e, em particular, um grande número de áreas de países pertencentes ao designado Sul Global, «que têm as maiores reservas de biodiversidade de águas doces do mundo, mas que têm sido menos estudadas ou cujos dados não são conhecidos», indica Maria João Feio, clarificando que entre esses países estão a China, Nepal, Nigéria, Brasil, África do Sul, Vietname e Camboja.

Os resultados deste estudo mostram «preocupantes níveis de degradação nos ecossistemas ribeirinhos, com menos de metade dos troços estudados em boa qualidade biológica (42 a 50%, dependendo do elemento biológico - peixe ou invertebrados) e cerca de 30% severamente degradados. As piores condições foram encontradas em climas áridos e equatoriais», destaca Maria João Feio.

A cientista sublinha ainda que, dos fatores estudados, os que mais influenciam negativamente os rios são a «má qualidade físico-química da água (uma realidade especialmente em África, na Ásia e na América do Sul), o facto de existirem menos áreas protegidas para rios e um maior nível de desenvolvimento humano, que se pode traduzir numa maior história de alterações no uso do solo por agricultura, indústria e urbanização».

Em oposição, o aumento da área de floresta e a melhor qualidade da água são fatores que estão associados a «melhor qualidade biológica dos rios». No que respeita a países em desenvolvimento, estes apresentam «as maiores percentagens de locais moderadamente impactados, o que pode indicar uma tendência recente para a degradação dos mesmos», prossegue.

Esta investigação contém também dados de áreas consideradas hotspots de biodiversidade, como é o caso da Amazónia, e de países como o Japão ou a Coreia do Sul, que até agora não estavam acessíveis à comunidade internacional. Os cientistas analisaram igualmente a influência do desenvolvimento humano e alterações antropogénicas sobre a qualidade biológica dos rios, «o que é essencial para perceber que medidas devem ser implementadas a nível global», defende a investigadora do MARE/FCTUC.

O estudo revela que as comunidades de peixes se encontram em piores condições do que as dos invertebrados. Por exemplo, «na grande bacia australiana de Murray-Darling, 56% dos locais estão severamente alterados, o que pode ser devido ao efeito das quatro mil barreiras à deslocação dos mesmos ao longo do rio, como as barragens ou açudes. Estas encontram-se amplamente espalhadas pelos rios do mundo, dado que cerca de 63% dos grandes rios já não correm livremente», explica a investigadora, notando que «isto é particularmente relevante quando se sabe que está a ser planeado um grande número de novos aproveitamentos hidráulicos para a América do Sul e Ásia».

A investigadora conclui que é essencial continuar a monitorizar os rios em todo o mundo, «desde aqueles onde nunca se fez nada a outros que viram os seus programas serem suspensos. Além disso, é essencial planear medidas de recuperação e o nosso estudo mostra que estabelecer áreas protegidas para rios ou melhorar as florestas são soluções eficientes».

 

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