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Portugal não fará este ano dois leilões para o solar, mas o ministro do Ambiente assegura que isso será recuperado depressa, até com um leilão de maior dimensão no início do próximo ano.
A pandemia obrigou em março a adiar a segunda ronda para a atribuição de licenças para produção de energia solar. Pode haver um retrair dos investimentos?
Não há nenhum retrair dos investimentos. Aliás, um leilão vai ser lançado a 8 de junho, com as liquidações em agosto. É um facto que este ano não vamos ter dois leilões para o solar, mas recuperaremos isso muito depressa, mais não seja com um leilão de maior dimensão no início de 2021.
Não vai ter impacto esse adiamento?
Não sentimos impacto nenhum. É verdade que os projetos que estão em obra estão com um atraso de um a dois meses. Mas é um projeto a 10 anos, não vai ter expressão no balanço final.
A queda do preço do petróleo pode desincentivar o investimento nas renováveis?
A quebra do preço do petróleo vai fazer com que o "phasing-out" dos benefícios fiscais que eram atribuídos aos combustíveis fósseis possa até acelerar. Isso é matéria a discutir no próximo Orçamento do Estado, portanto em outubro/novembro, mas o que não se pode somar é o baixo preço dos combustíveis fósseis àquilo que são os benefícios fiscais que eles têm.
"Não se pode somar o baixo preço dos combustíveis fósseis àquilo que são os benefícios fiscais."
O Governo aprovou já a Estratégia Nacional para o Hidrogénio. Que papel pode ter o hidrogénio verde no quadro das renováveis?
Fomos, na Europa, dos primeiros países a perceber que a eletrificação é fundamental mas não resolve os problemas todos. Nós vamos continuar a ter gases nomeadamente nos processos industriais e no transporte de pesados. A utilização de gases renováveis, nomeadamente biometano e hidrogénio, em vez de gases produzidos a partir de origem fóssil, é fundamental para o conjunto da descarbonização. Portugal pode ter um papel de grande relevância por ir substituindo paulatinamente a utilização dos gases que não são renováveis. Temos a sorte de ter uma estrutura de gasodutos bastante recente. Em cerca de 60% a 70% dos nossos gasodutos pode haver uma substituição direta do gás natural pelo hidrogénio sem qualquer necessidade de investimento em infraestruturas. Já hoje podemos introduzir naquilo que é o gás natural 3% de hidrogénio que as pessoas podem consumir nas suas casas, nos fogões e esquentadores, sem ter de alterar em nada os seus equipamentos. Ninguém vai dar por ela. 3% já significa uma fatia importante da redução das emissões.
Porque diz paulatinamente?
Sem substituição de equipamentos em casa só podemos ir até aos 3%. Temos um grande potencial de produzir hidrogénio a um custo muito baixo porque a fonte é a água, e a água do mar é disponível e barata. Com o leilão do ano passado provámos que é possível produzir eletricidade em Portugal a um preço que foi recorde do mundo, de 14,66 euros por megawatt/hora. É mesmo possível produzirmos hidrogénio verde a um preço extraordinariamente competitivo.
Depois de em março e abril Portugal ter estado 52 dias sem produzir carvão, é possível antecipar metas do encerramento dessas centrais?
As metas que temos são firmes no sentido de que nunca serão relaxadas, mas também tinham como base um padrão de consumo que não é o que se verifica hoje. Hoje estamos a consumir menos 13% de eletricidade do que no período homólogo do ano passado, e mesmo isso descontando as variações de temperatura e outras coisas que podem influenciar. Se os padrões de consumo forem mais baixos, o nosso problema não é de capacidade de produção, é um problema de fiabilidade e de segurança. As metas são aquelas, mas não rejeitaremos a possibilidade de antecipar se for esse o caso.